Morangos do amor, da Araras Coffee (Araras Coffee/Divulgação)
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Publicado em 30 de julho de 2025 às 15h00.
Por Kelly Pinheiro*
Um morango, um creme e uma casquinha de açúcar. Uma receita simples que se transformou no maior fenômeno de marketing do terceiro trimestre de 2025. O “Morango do Amor” não é apenas um doce; é uma aula sobre comportamento do consumidor e viralização orgânica. Os números provam que não se trata de um exagero: em apenas um mês, as buscas pelo termo cresceram 1333% no Google e impressionantes 2300% no iFood.
O sucesso estrondoso, que levou doceiras a relatarem um faturamento comparável ao da Páscoa, não foi obra do acaso: é o resultado de uma tempestade perfeita de fatores que qualquer estrategista sonha em replicar. E o primeiro deles é, sem dúvida, o apelo visual e sensorial, perfeitamente adaptado para a era digital.
Vivemos na era da experiência compartilhável. O “Morango do Amor” é o que chamo de produto “instagramável” por natureza: seu vermelho vibrante e o brilho da calda criam uma imagem irresistível. Mas o grande trunfo é o “crack moment” — o som crocante da casquinha se quebrando. Essa experiência sensorial é o gatilho perfeito para o compartilhamento em vídeos curtos, formato que domina o TikTok e o Instagram Reels, onde a hashtag acumula milhões de visualizações.
Esse momento de satisfação auditiva e visual gera um ciclo virtuoso: as pessoas não compram apenas o doce, elas compram a experiência para poder registrá-la e compartilhá-la. Para as marcas, a lição é clara: qual é o “crack moment” do seu produto ou serviço? Qual elemento único e sensorial pode ser transformado em conteúdo viral, gerando mídia espontânea e desejo?
A viralização não ficou restrita às telas; ela gerou um impacto econômico tangível. A demanda explosiva antecipou a corrida pela fruta em Minas Gerais – maior polo produtor do Brasil – e em outras regiões, e chegou a influenciar o preço do morango no mercado. Esse é o poder de uma tendência bem executada: ela transcende o digital e redesenha cadeias de suprimento no mundo físico.
O fenômeno também se apoia em uma poderosa âncora emocional: a nostalgia. A sobremesa é uma releitura da clássica maçã do amor, criando um storytelling que não precisa ser explicado. O resultado é um Custo de Aquisição de Clientes (CAC) próximo de zero, com a mídia espontânea fazendo todo o trabalho de divulgação.
A genialidade do marketing de oportunidade não está em apenas reagir, mas em integrar a tendência à sua própria narrativa. Marcas de beleza, por exemplo, já lançaram produtos com a cor e o aroma do “Morango do Amor”, aproveitando a associação positiva. Um banco digital poderia criar uma campanha sobre como “descomplicar suas finanças é tão satisfatório quanto a primeira mordida no doce do momento”.
A estratégia não é vender o morango, mas sim se apropriar do sentimento que ele gera. É sobre agilidade e relevância cultural. Pergunte-se: qual conversa está dominando a atenção do meu público agora? Como posso participar dela de forma autêntica, alinhada aos valores da minha marca, para capturar uma fração dessa atenção massiva?
O “Morango do Amor” é a prova de que as estratégias mais poderosas não vêm de orçamentos milionários, mas da profunda compreensão do comportamento humano. A pergunta que fica não é se sua empresa venderá doces, mas qual será o “Morango do Amor” da sua próxima grande estratégia.
*Kelly Pinheiro é jornalista e especialista em marketing e posicionamento de marcas. Fundadora e CEO da Mclair Comunicação.
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