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Regulamentação das cooperativas pode criar nova fase de democratização do setor de seguros no Brasil 

Com a recente aprovação da Lei Complementar 213/2025, setor tem oportunidade para mudanças significativas

As cooperativas permitirão que mais famílias tenham acesso à proteção securitária para suas vidas e patrimônios (Halfpoint Images/Getty Images)

As cooperativas permitirão que mais famílias tenham acesso à proteção securitária para suas vidas e patrimônios (Halfpoint Images/Getty Images)

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Publicado em 1 de abril de 2025 às 15h00.

Por Helton Freitas, presidente da Seguros Unimed e da Fundação Unimed*

Estou no cooperativismo desde 1987 e pude testemunhar, ao longo dessas décadas, como esse modelo tem o potencial de transformar setores inteiros, promovendo inclusão e acesso a serviços essenciais. 

Desde 1967, o cooperativismo médico tem revolucionado a medicina no Brasil, levando inovações significativas a regiões onde muitos tratamentos e procedimentos de saúde antes eram inexistentes. Agora, o País tem a oportunidade de replicar esse modelo bem-sucedido no setor de seguros

Com a recente aprovação da Lei Complementar 213/2025, que regulamenta a operação das cooperativas de seguros, o Brasil se prepara para uma nova fase de expansão e democratização desse setor.

A nova lei permite a criação de cooperativas de seguros, abrindo novas possibilidades para a inclusão de milhões de brasileiros nesse mercado. Vale destacar que o Brasil era um dos poucos países onde as cooperativas ainda não estavam autorizadas a operar os diversos ramos do seguro.

O crescimento do setor de seguros no Brasil

Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), espera-se um crescimento de 10,1% para o setor de seguros em 2025, acompanhando uma projeção de aumento de sua participação no PIB para 10% até 2030. Isso amplia as oportunidades de inclusão para mais brasileiros, especialmente por meio das cooperativas.

Assim como no setor de saúde, no qual o maior sistema cooperativista médico do mundo detém 38% do mercado, as cooperativas permitirão que mais famílias tenham acesso à proteção securitária para suas vidas e patrimônios.

A presença global das cooperativas de seguros

A ICMIF (Federação Internacional de Cooperativas e Seguros Mútuos), entidade que representa mais de 200 cooperativas e mútuas em 61 países, defende há mais de uma década a inclusão das cooperativas nas leis de seguros. Seu relatório Global Mutual Market Share 2024 revela que, em 2022, as afiliadas globais atingiram prêmios de seguro superiores a US$1,41 trilhão e mantiveram ativos totais de US$10 trilhões. Esses números demonstram a expressiva presença das cooperativas no mercado global, com uma participação de 26,3% do mercado total e 30,1% ao excluir a China, onde a penetração de mútuas é limitada.

Seguros como investimento de longo prazo

Os seguros representam, essencialmente, um investimento de longo prazo, e esse conceito se torna ainda mais relevante diante do envelhecimento da população brasileira. Com a diminuição da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, é cada vez mais essencial que os brasileiros compreendam a importância de planejar o futuro com segurança, por meio de seguros de vida, saúde e previdência.

A proteção patrimonial deve ser vista como parte fundamental desse planejamento. Eventos inesperados, como incêndios, enchentes e tempestades intensificadas pelas mudanças climáticas, podem comprometer anos de esforço e economia. Contudo, muitos ainda não percebem a necessidade de adotar essas ferramentas de proteção, o que pode ser atribuído à falta de educação financeira.

Desconexão entre percepção e prática no Brasil

Pesquisa da Fenaprevi, realizada pelo Datafolha, revela que um dos principais receios dos brasileiros é deixar a família sem condições financeiras em caso de doença ou falecimento. No entanto, apenas 18% dos entrevistados possuem seguro de vida.

Curiosamente, 90% reconhecem que gastar com supérfluos não é mais prioritário do que ter um seguro de vida, o que evidencia a desconexão entre percepção e prática. Essa contradição se reflete no crescente interesse por alternativas arriscadas, como as apostas em "bets", que prometem ganhos rápidos. Embora essas opções possam gerar retornos imediatos, são extremamente voláteis e podem resultar em perdas financeiras consideráveis, revelando uma falta de compreensão sobre o valor de investimentos mais sólidos e duradouros, como a previdência e a capitalização.

O papel das cooperativas de seguros no Brasil

As cooperativas de seguros, com seu modelo voltado para o bem-estar coletivo e a proximidade com seus membros, têm o potencial de transformar a forma como os brasileiros percebem a segurança financeira. Por não possuírem sócios investidores, elas priorizam os interesses dos cooperados, oferecendo soluções mais adaptadas às necessidades da população.

Essa mudança representa um marco para o setor, impulsionando a oferta de novos produtos, ampliando a concorrência e proporcionando a milhões de brasileiros mais oportunidades de proteção. Os consumidores também contarão com a regulamentação da Susep (Superintendência de Seguros Privados), que trará mais segurança ao mercado.

A importância da regulamentação das cooperativas de seguros

A regulamentação das cooperativas de seguros abre caminho para o fortalecimento dos princípios do cooperativismo. E não há momento mais simbólico para essa transformação do que 2025, o Ano Internacional das Cooperativas, instituído pela Organização das Nações Unidas, um reconhecimento global do impacto positivo que esse modelo societário pode gerar para a economia e para a sociedade.

*Helton Freitas é médico, formado pela UFMG, com especialização em Planejamento e Administração de Serviços de Saúde e em Medicina do Trabalho. Presidiu a Unimed-BH entre 2006 e 2014, período em que a cooperativa consolidou as operações Unimed na região metropolitana da capital mineira. Desde 2015, preside a Seguros Unimed, e desde 2018 é CEO da InvestCoop Asset Management. Em 2021, também foi eleito presidente da Fundação Unimed e diretor-geral da Faculdade Unimed.

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