Os shopping centers estão prontos para ocupar seu espaço como protagonistas da mudança (IGphotography/Getty Images)
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Publicado em 25 de junho de 2025 às 15h00.
Por Glauco Humai*
Quando o Brasil sediar a COP30, em novembro, o mundo olhará para nós esperando liderança ambiental em tempos decisivos. E, embora os debates se concentrem nas ações governamentais, é fundamental reconhecer que setores inteiros da economia nacional já vêm se transformando para enfrentar a crise climática — entre eles, o de shopping centers.
Pouco se fala sobre a contribuição ambiental desse setor, mas os números impressionam. Dos mais de 640 shoppings em operação no Brasil, 92% já migraram para o mercado livre de energia, alcançando ganhos expressivos de eficiência, competitividade e, principalmente, sustentabilidade. Essa migração não apenas garante maior previsibilidade nos custos, como também viabiliza a contratação de fontes renováveis — um passo decisivo na redução da pegada de carbono do setor.
Hoje, 87% dos shoppings utilizam algum tipo de fonte limpa, como solar ou eólica, e essa porcentagem segue crescendo. A região Nordeste, por exemplo, lidera a transição: 97% dos empreendimentos já operam no mercado livre. Esse movimento representa mais do que uma busca por economia; trata-se de um realinhamento estratégico com as exigências de um futuro de baixo carbono. Projeções indicam que o setor poderá economizar mais de meio bilhão de reais por ano — recurso que pode ser reinvestido em inovação, modernização e novas iniciativas sustentáveis.
Essa transformação não se limita à energia. A gestão hídrica tornou-se uma prioridade. Hoje, muitos shoppings contam com Estações de Tratamento de Água (ETAs), permitindo o reuso em jardinagem, banheiros e limpeza. Em paralelo, muitos empreendimentos já adotam sistemas de captação de água da chuva, reduzindo a dependência de fontes tradicionais e contribuindo para a conservação dos recursos naturais.
Outro eixo de avanço é o gerenciamento de resíduos. Cerca de 82% dos shoppings realizam coleta seletiva nas praças de alimentação, 70% em áreas comuns e 68% em refeitórios. Além disso, 81% fazem a destinação correta de lâmpadas fluorescentes e 67% de pilhas e baterias. Essas práticas impactam diretamente as chamadas emissões de Escopo 3 — aquelas indiretas, resultantes da cadeia de valor e do comportamento dos consumidores, como o transporte de mercadorias e o descarte de resíduos.
Esses indicadores mostram que sustentabilidade não é mais um conceito abstrato no setor. É prática concreta. E vai além da operação: contribui para a valorização dos ativos, melhora a reputação dos empreendimentos e atrai um consumidor cada vez mais atento à responsabilidade ambiental das marcas que consome.
Com iluminação LED, sistemas automatizados de controle energético, iniciativas de economia circular e incentivos à mudança de comportamento entre lojistas e visitantes, os shoppings têm se reinventado como espaços de convivência com propósito. Ainda há desafios — hoje, 52% dos empreendimentos demonstram compromisso com metas de descarbonização, mas apenas 31% realizam inventários de emissões e 23% estabeleceram metas formais de redução. É um processo em andamento, que exige engajamento e continuidade.
Para apoiar essa evolução, a Abrasce lançou uma Matriz de Materialidade pioneira, que orienta os empreendimentos, independentemente de porte ou localização, na adoção de padrões sustentáveis alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O que está em curso no setor é uma verdadeira transição de paradigma. Os shopping centers deixaram de ser apenas centros comerciais para se tornarem plataformas urbanas integradas à vida das pessoas. Assumir a responsabilidade ambiental é parte indissociável desse novo papel.
A COP30 é uma excelente oportunidade para o Brasil mostrar ao mundo que o desenvolvimento econômico pode — e deve — caminhar junto com a preservação ambiental. E os shopping centers estão prontos para ocupar seu espaço como protagonistas dessa mudança, contribuindo de forma concreta para um país mais eficiente, inovador e sustentável.
*Por Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Center e da CLICC, Câmara Latino-Americana de Centros Comerciais.
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