Com aumento na incidência de câncer, setor de oncologia investe em tratamentos de câncer custo-efetivos (Solskin /Getty Images)
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Publicado em 9 de outubro de 2025 às 07h00.
Na última década a população envelheceu e a incidência de câncer aumentou. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), foram 20% mais casos, com 2025 esperando 704 mil. A boa notícia é que o mercado de oncologia está em pleno desenvolvimento. São só os custos que precisam ser diminuídos.
O avanço de terapias inovadoras, como a imunoterapia e a medicina de precisão, ampliou as chances de sobrevida e qualidade de vida dos pacientes. Mas nestes últimos anos, o custo médio de procedimentos oncológicos no SUS cresceu mais de 400%
O setor de saúde e o mercado de oncologia vão conseguir continuar a fase de desenvolvimento dando conta das altas nos custos? Para Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas, a custo-efetividade é a chave deste dilema.
Confira a entrevista onde ele responde como e o que fazer para alcançar a custo-efetividade na oncologia.
Os maiores desafios hoje estão na fragmentação do cuidado. Ainda vemos muitos pacientes passando por diferentes serviços sem que haja uma coordenação efetiva das etapas diagnósticas e terapêuticas.
Isso gera desperdício de tempo, de recursos e pode comprometer o desfecho clínico.
Outro ponto crítico é a variabilidade de protocolos. Quando cada centro adota condutas distintas, perdemos consistência e previsibilidade nos resultados.
Soma-se a isso a dificuldade do sistema, tanto público quanto privado, em acompanhar o ritmo acelerado de incorporação de novas tecnologias.
Superar esses gargalos exige uma oncologia baseada em evidências, com protocolos bem definidos, gestão integrada e modelos que valorizem o resultado entregue ao paciente e não apenas o número de procedimentos realizados.
Custo-efetividade não é apenas uma métrica econômica, é um pilar estratégico de gestão. Isso significa equilibrar inovação e sustentabilidade, garantindo que cada investimento em tecnologia traga impacto clínico comprovado.
Na prática, envolve adotar terapias com eficácia validada, padronizar protocolos em toda a companhia e mensurar desfechos em tempo real.
Essa abordagem permite maximizar resultados clínicos e, ao mesmo tempo, otimizar recursos, beneficiando pacientes, operadoras e o sistema público.
A tecnologia tem um papel decisivo na eficiência do cuidado oncológico. Com inteligência artificial, conseguimos ampliar a precisão diagnóstica, reduzir erros e tempo, além de fornecer tempo aos especialistas para os casos mais complexos.
O uso de algoritmos em patologia, por exemplo, já permitiu à Oncoclínicas analisar mais de 23 mil lâminas de biópsias de próstatas e mama com sensibilidade próxima de 100% e 93% de especificidade, otimizando processos e reduzindo custos operacionais.
A medicina de precisão representa uma verdadeira mudança de paradigma no cuidado oncológico.
Ela nos permite entender o câncer de cada paciente de forma individual, não apenas o tipo de tumor, mas suas características genéticas e moleculares, que determinam como ele se comporta e responde ao tratamento.
Quando aplicamos essa abordagem de maneira estruturada e integrada, ela deixa de ser apenas uma inovação de alto custo e se transforma em uma ferramenta de custo-efetividade real.
Porque, ao identificar o perfil molecular do tumor, conseguimos direcionar o tratamento certo para o paciente certo, evitando terapias que não trariam benefícios e reduzindo o desperdício de recursos.
O grupo mantém parceria exclusiva com o Dana-Farber Cancer Institute. De que forma essa colaboração se traduz em diferencial competitivo no mercado?
A parceria com o Dana-Farber Cancer Institute, da Harvard University, nos permite alinhar protocolos, práticas clínicas e linhas de pesquisa com um dos maiores centros oncológicos do mundo.
Isso se traduz em atualização contínua, padronização internacional de condutas e acesso antecipado a inovações terapêuticas. Para o paciente, significa receber no Brasil um tratamento com o mesmo rigor científico aplicado nos principais centros globais.
Como os investidores e o mercado financeiro enxergam o setor de oncologia diante do envelhecimento populacional e do aumento da incidência de câncer?
Em oncologia, o tempo é um fator decisivo. Cada dia entre a suspeita e o início do tratamento pode fazer diferença no desfecho clínico e, muitas vezes, na própria chance de cura.
Por isso, nossa prioridade é reduzir esse intervalo ao máximo, garantindo que o paciente tenha um caminho claro, coordenado e ágil desde o primeiro sinal da doença.
O mercado pode esperar de nós, na Oncoclínicas, um compromisso inegociável com a qualidade, a sustentabilidade e, sobretudo, com o paciente no centro de todas as decisões.