Vibe Coding, na prática, significa que qualquer pessoa pode criar software apenas descrevendo em linguagem natural o que deseja construir (Getty Images)
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Publicado em 13 de novembro de 2025 às 15h00.
Por Diego Nogare*
Nos últimos meses, uma nova expressão ganhou força entre profissionais de tecnologia: Vibe Coding.
Eleita a palavra do ano de 2025 pelo Dicionário Collins, o termo descreve uma forma diferente de programar: mais intuitiva, rápida e acessível, impulsionada pela Inteligência Artificial.
Na prática, qualquer pessoa pode criar software apenas descrevendo em linguagem natural o que deseja construir.
Especialistas de negócio, analistas de marketing ou consultores financeiros transformam ideias em ferramentas digitais em minutos, sem dominar linguagens de programação ou estruturas complexas.
O relatório The Anthropic Economic Index Report, divulgado em setembro de 2025, analisou milhões de interações com o modelo Claude Sonnet e revelou uma mudança significativa.
As tarefas de criação de código mais do que dobraram, saltando de 4,1% para 8,6%, enquanto as de depuração e correção de erros caíram de 16,1% para 13,3%.
Os usuários estão gastando menos tempo corrigindo e mais tempo criando.
Esse deslocamento ilustra a transição de um papel técnico para um papel criativo, no qual não é preciso compreender profundamente a lógica do código, apenas a intenção do que se deseja construir.
Essa democratização traz uma preocupação central: como garantir que tudo gerado por IA seja seguro, auditável e siga políticas corporativas?
Estamos diante de uma nova forma de Shadow IT, agora potencializada pela Inteligência Artificial: o Shadow AI Development.
Aplicações internas surgem em ritmo acelerado para resolver problemas de negócio, mas muitas operam fora dos padrões corporativos de segurança, sem rastreabilidade ou governança sobre os dados manipulados.
Esse cenário cria um paradoxo: ao mesmo tempo que amplia a inovação, multiplica os riscos.
A intuição que impulsiona o Vibe Coding é poderosa na criação de valor, mas estruturalmente cega às complexidades da segurança digital.
A IA pode gerar código funcional e plausível, mas não necessariamente seguro.
E, em muitos casos, a funcionalidade aparente mascara vulnerabilidades como armazenamento incorreto de senhas, uso de bibliotecas desatualizadas ou ausência de proteção contra ataques de injeção de código.
O problema não é a ferramenta, mas o uso despreparado que confunde funcionar com estar protegido.
Essa mudança obriga organizações a repensarem como equilibrar liberdade e controle, autonomia e responsabilidade, velocidade e segurança.
A questão central deixa de ser "quem pode programar" e passa a ser "como garantir que o programado é seguro e aderente às políticas corporativas".
O papel do desenvolvedor também se transforma.
Saber escrever código de memória perde relevância diante da necessidade de validar, auditar e proteger o que a IA produz.
As competências agora incluem arquitetura segura, engenharia de prompt consciente e aplicação rigorosa de princípios de governança.
Para empresas, o aprendizado é que velocidade só é vantagem quando acompanhada de governança.
A agilidade prometida pela IA precisa ser sustentada por bases sólidas: confiança digital, padrões de desenvolvimento seguro e políticas claras de uso responsável da tecnologia.
Isso exige novas práticas, como treinar equipes não técnicas em fundamentos de segurança, adotar frameworks secure-by-design, integrar ferramentas de análise estática e criar diretrizes de prompt engineering que incluam critérios explícitos de proteção de dados.
A governança não é o oposto da inovação, mas o que a torna possível em larga escala.
Organizações que equilibrarem liberdade criativa com controle inteligente terão vantagem competitiva duradoura, inovando com velocidade, resiliência, conformidade e credibilidade.
É por isso que o Vibe Coding se tornou uma das expressões mais poderosas da colaboração entre humanos e máquinas.
Mas para que essa revolução se consolide sem se transformar em um problema de segurança massivo, é preciso tratá-la com a seriedade que qualquer transformação tecnológica profunda exige.
A intuição pode guiar o código. Mas é a segurança que garante o futuro.
*Diego Nogare tem mais de 20 anos de experiência na área de Dados, com foco em Inteligência Artificial e Machine Learning desde 2013 e já passou por grandes empresas como Microsoft, Deloitte, Bayer e Itaú.