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Vida corporativa: Falar palavrão faz bem a você, p****

Vale aqui a mesma regra da pochete: é preciso bom senso para saber usar

Xingar com classe, leveza e estilo não é para qualquer um (Hinterhaus Productions/Getty Images)

Xingar com classe, leveza e estilo não é para qualquer um (Hinterhaus Productions/Getty Images)

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Publicado em 21 de outubro de 2021 às 18h31.

Última atualização em 21 de outubro de 2021 às 20h29.

Por Rodrigo Pinotti*

Atire a primeira censura moral quem nunca soltou um impropério em um momento de satisfação. Apesar do tema controverso, não tenho dúvida: palavrões, se usados adequadamente, são essenciais para a manutenção de uma boa saúde mental, para a coesão de um time e até para o bem-estar físico. Todo mundo já sentiu uma pontadinha de alívio depois de gritar um nome feio ao bater o dedinho no pé da mesa.

Eu relaxo em uma reunião importante quando alguém solta um vitupério em desagravo — e, mais importante, é correspondido em seguida — porque aí tenho a certeza de que ela está indo bem. É quase um ritual de aproximação criado pelo homo sapiens para demonstrar sua afeição com o outro. Falar palavrão cria laços. Xingar gera intimidade.

Xingar também é educacional. Certa vez, meu filho de cinco anos se aproximou e perguntou “papai, que p**** é essa?”, segurando uma relíquia: um cartucho antigo de Super Nintendo. Minha primeira reação foi de espanto. Logo em seguida, remorso: ele ouviu aquilo de alguém, e há uma grande chance de que tenha sido de mim. Depois, autocomiseração — afinal, Benjamin Bergen provou por A+B, no livro What the F: What Swearing Reveals about Our Language, Our Brains, and Ourselves, que não há nenhuma evidência empírica de que expor crianças a xingamentos é capaz de causar qualquer tipo de dano. Aliás, muitas vezes isso até ajuda.

Defendo o argumento com base científica. Segundo uma infinidade de pesquisas, xingar aumenta o bem-estar, a força física e alivia as dores. Mais importante ainda, um estudo da Universidade de Maastricht, na Holanda, liderado pelo pesquisador Gilad Feldman, determinou que há uma relação positiva consistente entre blasfêmia e honestidade: a capacidade de blasfemar foi associada à menor presença de mentiras e fraudes em um nível individual, e com maior integridade na sociedade como um todo. C******, Gilad, que p*** notícia!

Nem precisava de tudo isso: apenas o número monstruoso de horas dedicadas pelos cientistas ao tema já provaria sozinho o tamanho da importância dos insultos na sociedade, bem como a sua prevalência em todas as classes sociais, povos, gêneros, idades etc. Melhor ainda que todos eles concordem que saber falar um palavrão de forma competente seja sinal de tantas qualidades. A única coisa que os estudiosos ainda não investigaram é qual é o momento certo de dizer um palavrão no escritório, portanto fica aqui registrada a sugestão.

Outra descoberta interessante é que, aparentemente, xingar também está ligado à inteligência e criatividade, como mostra Emma Byrne no livro Swearing is Good for You: the Amazing Science of Bad Language. Não é uma surpresa. É preciso alguma lucidez e uma boa capacidade de discernimento para saber identificar a ocasião certa, o momento preciso e a obscenidade adequada para cada uma delas.

Esta é a chave: xingar com classe, leveza e estilo não é para qualquer um. Agredir com palavras é fácil, e qualquer briga de trânsito é prova disso. Saber usá-las são outros 500. É preciso tomar cuidado. Afinal, palavras de baixo calão podem transformar qualquer coisa que você estiver fazendo uma merda. Lembre-se disso na sua próxima reunião, porque, se você fizer alguma cagada, a culpa não terá sido minha.

*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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