Em vez de ser tratada como um elemento externo, a família pode — e deve — ser vista como uma aliada estratégica da cultura corporativa (Thinkstock/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 12 de maio de 2025 às 18h27.
Por Rogério Chér, sócio-fundador da Winx
Ao longo da minha trajetória acompanhando a evolução da cultura organizacional em empresas de diferentes portes e setores, tenho percebido um ponto cada vez mais evidente — e, ainda assim, pouco explorado: a força que a família exerce sobre o engajamento do funcionário com a empresa. Em vez de ser tratada como um elemento externo, a família pode — e deve — ser vista como uma aliada estratégica da cultura corporativa.
As pesquisas que conduzimos na Winx, HRTech especializada em diagnósticos de clima, engajamento e cultura, revelam dados expressivos. A série “Melhores Empresas para Trabalhar na Perspectiva das Famílias” mostra que organizações que desenvolvem práticas voltadas às famílias de seus funcionários apresentam, em média, 10 pontos percentuais a mais em favorabilidade de clima e engajamento — além de um índice de turnover abaixo de 1%. Esses números por si só já demonstram o impacto positivo de integrar a dimensão familiar ao ambiente profissional.
Felizmente, algumas empresas brasileiras já vêm colhendo os frutos dessa abordagem. É o caso da Omni&Co, que estruturou ações concretas para incluir as famílias no dia a dia corporativo. Desde o primeiro dia de trabalho, os familiares são convidados a enviar vídeos com mensagens de boas-vindas ao novo funcionário. Pode parecer um gesto simples, mas ele estabelece, desde o início, um elo afetivo entre funcionário, família e empresa.
Esse cuidado se estende ao longo da jornada. Em promoções, por exemplo, a Omni envia kits comemorativos para a casa dos funcionários, com champagne e taças, para que a conquista seja celebrada em família. Também realiza jantares com familiares em datas especiais, como 15, 20 ou 25 anos de casa. E no Dia das Crianças, os filhos dos funcionários participam de atividades no escritório, conhecendo de perto o universo de trabalho de seus pais.
Essas experiências criam uma rede de apoio e pertencimento que vai muito além do crachá. Elas humanizam a relação entre empresa e funcionário — e geram um ciclo virtuoso: funcionários mais engajados influenciam positivamente o ambiente familiar, e vice-versa.
Outro ponto essencial é o cuidado com a saúde física e emocional dos familiares. A Omni oferece plano de saúde extensivo a dependentes, programa de gestantes com suporte completo para futuros pais, e atividades físicas que incluem familiares, como grupos de corrida e academia. As palestras sobre temas diversos e celebrações com presença dos entes queridos — como o Dia das Mães — reforçam a percepção de que a família faz parte do ecossistema da empresa.
Essa visão integral do funcionário — como ser humano que vive em múltiplos contextos simultaneamente — é a base para culturas organizacionais mais sólidas, empáticas e sustentáveis.
Esse movimento não é exclusivo do Brasil. No exterior, empresas como Google e Microsoft também se destacam por práticas que envolvem os familiares em momentos de celebração e reconhecimento. No Brasil, além da Omni, outras empresas como Natura e Grupo Della Via têm investido em programas de integração familiar.
É interessante observar como essa estratégia impacta diretamente a retenção de talentos, o sentimento de pertencimento e até mesmo a reputação da marca empregadora. Afinal, quando a família admira a empresa onde o ente querido trabalha, ela se torna uma aliada espontânea na construção da imagem da organização.
A cultura organizacional é, em sua essência, um fenômeno relacional. Ela nasce e se fortalece nas conexões humanas. Por isso, ampliar esse campo de relações para além dos muros corporativos é uma evolução natural e estratégica.
Empresas que reconhecem o papel da família no engajamento dos funcionários estão não apenas inovando em suas práticas, mas também se colocando na vanguarda de um modelo de gestão mais humano, coerente com os desafios do nosso tempo.
Se quisermos ambientes mais saudáveis, produtivos e felizes, precisamos entender que o funcionário não deixa sua vida pessoal na porta da empresa — e, muitas vezes, é justamente o apoio que ele recebe em casa que fortalece seu desempenho no trabalho.
Ao integrar a família ao centro da cultura organizacional, damos um passo importante em direção a um novo paradigma de gestão: mais empático, mais engajador e, certamente, mais sustentável.