O fenômeno, conhecido internacionalmente como "The Broken Rung" (ou "Degrau Quebrado"), é uma metáfora para o principal obstáculo enfrentado por mulheres: a falta de oportunidades em cargos de liderança (lerbank/Getty Images)
Repórter
Publicado em 31 de março de 2025 às 08h30.
Elas são quase metade da força de trabalho no Brasil, mas ainda ocupam menos de um terço das cadeiras de liderança. Um novo estudo do LinkedIn, rede social de busca de emprego e recrutamento, revela que apenas 32% das posições de gerência no país são ocupadas por mulheres — um avanço tímido em relação aos 29% registrados em 2015.
Os dados fazem parte do relatório State of Women in Leadership, lançado neste mês pela plataforma. Segundo o levantamento, embora as mulheres representem 45% dos profissionais em atividade, a presença feminina sofre quedas significativas à medida que se sobem os degraus da hierarquia corporativa.
O fenômeno, conhecido internacionalmente como "The Broken Rung" (ou "Degrau Quebrado", em tradução livre), é uma metáfora para o principal obstáculo enfrentado por mulheres em busca de cargos executivos: a falta de oportunidades já nos primeiros passos rumo à liderança. No Brasil, o recorte do estudo mostra que a transição de cargos de gerência para diretoria representa uma queda de 17% na presença feminina - e de diretoria para vice-presidência, a redução chega a alarmantes 21%.
“Ao olharmos para o topo das organizações e analisarmos a presença feminina, vemos que o número de mulheres diminui drasticamente”, afirma Ana Claudia Plihal, Head de Soluções para Talentos do LinkedIn Brasil.
Essa disparidade, segundo Plihal, é ainda mais acentuada em setores como tecnologia e serviços financeiros, onde a diferença de gênero é mais marcante, com quedas de até 40% e 46%, respectivamente, ao longo da progressão de carreira.
Enquanto os números mostram as barreiras estruturais que impedem a ascensão de lideranças femininas, o relatório também aponta caminhos possíveis para reverter esse cenário. Um deles está na mudança de critério para recrutamento e promoção, priorizando habilidades em vez de experiências específicas.
“Temos um grande espaço para avançar e para que empresas possam reequilibrar a presença feminina em indústrias historicamente masculinas, principalmente nas áreas de Tecnologia, Construção e Logística”, afirma Plihal. “Já em setores onde as mulheres são maioria, como Saúde e Serviços ao Consumidor, a prática poderia contribuir para uma força de trabalho mais equilibrada, ampliando a diversidade e impulsionando ainda mais a inovação.”
Segundo o LinkedIn, apostar em contratações com foco em habilidades pode ampliar em até 13 vezes o alcance de talentos femininos, e gerar um aumento de 12% na presença de mulheres em cargos onde elas ainda são minoria no Brasil.
O desafio, no entanto, é global. Na América Latina, o número total de contratações caiu 22% em janeiro de 2025, comparado ao mesmo mês do ano anterior, cenário que tende a dificultar ainda mais a ascensão feminina. Globalmente, 45% das novas contratações foram de mulheres — uma queda de 1,6 ponto percentual em relação a 2024, sinalizando que a equidade de gênero no mercado de trabalho ainda está longe do ideal.
“Empresas que promovem a diversidade tendem a ter resultados mais robustos, são mais inovadoras e desempenham melhor financeiramente”, afirma a executiva do LinkedIn. “Dar espaço para mulheres desenvolverem suas carreiras não é apenas justo, é um diferencial competitivo.”
Para acelerar a mudança, a executiva recomenda ações corporativas intencionais como:
“A mudança cultural, aliada a ações corporativas intencionais, é o caminho para um futuro em que mulheres ocupem, cada vez mais, cadeiras de tomadoras de decisão e sejam reconhecidas pelo talento e competência que já demonstram diariamente no mercado de trabalho”, afirma Plihal.