Leonardo Linden, CEO da Ipiranga: “O que mais me marcou nunca foram os elogios, e sim as críticas” (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 6 de setembro de 2025 às 13h08.
Última atualização em 6 de setembro de 2025 às 13h19.
“Entregar o esperado é obrigação. O diferencial está no que ninguém espera que você faça”, afirma Leonardo Linden, CEO da Ipiranga, em entrevista ao podcast “De frente com CEO”, da EXAME.
Para ele, surpreender é a melhor forma de se destacar na carreira - além de gostar do que faz.
“No meu início de carreira, tinha um lado lógico e um lado emocional. O lógico dizia ‘negócios’; o emocional, ‘carros’,” diz Linden.
O estágio na antiga Esso, em 1990, juntou as duas pistas, e dali nasceram 36 anos de estrada.
“Fiquei 17 anos na ExxonMobil, rodei o mundo, fiz portfólio, investimento e desinvestimento. Depois passei por Cosan, Raízen, voltei à Cosan e acabei convidado para presidir a Iconic, nossa JV com a Chevron. Mais tarde, veio o convite para a Ipiranga,” afirma o administrador que lidera a Ipiranga desde setembro de 2021.
Para se destacar no mercado, Linden adotou um método: quando ele assume um desafio, ele separa o que é esperado dele, daquilo que ele pode fazer a diferença.
“Entregar resultado é dado. A pergunta é: que duas ou três coisas ninguém espera que eu faça — e que podem gerar valor ao negócio, ao acionista, à empresa?”.
Para quem está começando, o conselho de Linden é ter iniciativa. “Ninguém vai te pegar pela mão o tempo inteiro. Faça além do que se espera, porque o que se espera, os bons entregam de qualquer jeito. O diferencial é a capacidade de surpreender.”
O CEO completa: “Amplie seu comprometimento para além da sua caixinha. Você pode contribuir em áreas que não são necessariamente é a sua”, afirma.
A biografia profissional de Linden tem mapas e pausas que foram essenciais para ajudá-lo não só a avançar na carreira, mas a se reencontrar com o seu propósito.
“Nos primeiros 17 anos, mudei de estado ou de país 13 vezes”, diz Linden. “Houve um momento em que me desconectei da minha essência. Parei, refleti e me reconectei. Descobri que minha maior contribuição está em fases de construção: ser o primeiro presidente de uma empresa, reestruturar, reinventar.”
Foi neste momento que ele conheceu o legado, liderando uma empresa que está rumo ao centenário.
“Quero uma Ipiranga renovada, atualizada para o momento e preparada para estar aqui por mais 100 anos. Isso passa por eficiência e operação, mas, sobretudo, por gente capacitada e motivada.”
Linden descreve a operação da Ipiranga como uma gigante que vai além dos postos de combustíveis, com 2.900 funcionários no quadro próprio, além dos revendedores e terceiros.
“A Ipiranga fatura cerca de R$ 120 bilhões por ano, vende 24 bilhões de litros, faz 1,5 milhão de abastecimentos por dia. São 90 bases, por volta de 3 mil caminhões, 6 mil postos e 7 mil clientes empresariais, como usinas, ferrovias, frotas, fábricas, minas, hospitais e shoppings,” afirma o CEO.
O varejo também vai além da bomba. A rede Ipiranga tem 1.500 lojas de conveniência e 1.100 instalações de autosserviço.
O Grupo Ultra projeta um investimento de cerca de R$ 2,5 bilhões este ano no Brasil. Como uma empresa pertencente ao grupo, a Ipiranga deve receber desse total R$ 1,4 bilhão – segundo o CEO já há planos para este investimento.
“Só em segurança, investimos perto de R$ 100 milhões ao ano. Vem aí também a expansão de infraestrutura (com foco em Centro-Oeste e Norte), troca do ERP, rede de recarga elétrica que instalamos de forma pioneira, e cerca de 300 novos postos em 2025”, afirma o CEO.
No horizonte de uma companhia quase centenária, a transição energética é inevitável, mas, para Linden, deve ser encarada com pragmatismo.
“Somos uma empresa de mobilidade. A energia da locomoção vai estar lá, seja ela elétrica, fóssil ou biocombustível. Nosso papel é atender essa mobilidade da melhor forma”, afirma.
Leia também: 'Nosso maior desafio é o mercado ilegal de combustíveis', diz presidente da Ipiranga
Líder também precisa recarregar as baterias, afirma Linden. “Começo cedo e não estico a noite. A energia vem do corpo e precisamos cuidar dele”, diz o CEO que faz natação, academia, pedal e surf.
“O surf é o único em que não me cobro, sou ruim e não ligo. Só quero curtir o momento.”
Ao olhar para trás, Leonardo Linden não destaca os momentos de aplauso como os mais transformadores da sua trajetória. Para ele, foi nas críticas e nos embates de estilo que surgiram os maiores saltos de crescimento.
“O que mais me marcou nunca foram os elogios, e sim as críticas, e trabalhar com gente muito diferente de mim”, afirma o CEO da Ipiranga.
Linden reconhece que o desconforto tem um papel formador. “O ‘diferente’ tem valor quando você se abre para aprender. Não é para julgar, mas para entender o que pode agregar à sua forma de trabalhar”, diz.
Ao longo da carreira, foi justamente esse exercício de aprender com as diferenças e de surpreender, que Linden teve a oportunidade de evolução que moldou o seu jeito de liderar e o fez chegar ao topo de uma companhia de bilhões.