Pat Tomlinson, CEO global da Mercer: “Quando a empresa cuida da saúde física, mental e financeira de seus profissionais, ela está, na verdade, investindo na produtividade” (Mercer/Divulgação)
Repórter
Publicado em 10 de maio de 2025 às 10h12.
Última atualização em 10 de maio de 2025 às 10h19.
Há um ano no comando da Mercer, consultoria global de recursos humanos e benefícios que pertence ao grupo Marsh McLennan, o CEO global Pat Tomlinson tem uma missão clara de ajudar empresas a equilibrarem: resultados com bem-estar, planejamento de longo prazo com entregas imediatas e inovação tecnológica com desenvolvimento humano.
No centro das discussões atuais, Tomlinson destaca 2 habilidades que um líder tem que ter para se destacar no atual mercado de trabalho: resiliência e equilíbrio.
“Hoje, os líderes precisam ser resilientes para lidar com a ambiguidade e mudanças rápidas, afinal, nem tudo sai como planejado”, conta.
O CEO também afirma que o líder precisa ter capacidade de equilibrar as demandas do agora com as necessidades do futuro. “Equilibrar urgência e planejamento é uma habilidade essencial hoje”, afirma.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Tomlinson fala sobre os desafios da liderança, a importância da IA nas empresas e o futuro do trabalho.
Planos de benefícios mais robustos e programas de educação financeira e emocional ajudam a criar times mais engajados, com menos estresse e mais capacidade de entrega, afirma o CEO.
“Quando a empresa cuida da saúde física, mental e financeira de seus profissionais, ela está, na verdade, investindo na produtividade”, afirma o CEO. “É fato que quando as pessoas se sentem seguras, saudáveis e confiantes, elas entregam mais.”
Neste cenário, o papel de um líder é fundamental para um funcionário ser mais produtivo e saudável.
“É importante que os líderes saibam equilibrar resultados com o desenvolvimento dos times. É preciso saber quando exigir mais e quando apoiar”, afirma. “É papel do líder se importar genuinamente com o bem-estar e o progresso do time.”
Atualmente, o mercado de trabalho já conta com cinco gerações (baby boomers, geração X, Y, Z e Alpha) e, segundo Tomlinson, os empregadores precisam pensar de forma criativa e com uma mentalidade diferente sobre como engajar todos esses perfis.
“Os profissionais mais velhos estão representando uma parte maior da força de trabalho. Eles estão se aposentando mais tarde e trabalhando por mais tempo. Por isso, é importante que as empresas ofereçam flexibilidade, caso queiram manter esses profissionais engajados”, afirma o CEO global da Mercer.
Ao mesmo tempo, também é preciso pensar que os mais jovens buscam outro tipo de flexibilidade no trabalho, diz o executivo.
“Não será igual para todos — um profissional no início da carreira tem necessidades diferentes de alguém nos últimos cinco ou dez anos de jornada profissional. É preciso haver equilíbrio”, afirma.
Na Mercer, a inteligência artificial já é usada internamente para apoiar análises complexas e acelerar entregas com segurança. Para lidar com dados sensíveis, a empresa desenvolveu uma ferramenta interna pela Marsh McLennan que permite usar um modelo de linguagem grande (LLM) de forma segura.
“Não podemos usar algo como o ChatGPT, pois as informações poderiam ir para domínio público — e lidamos com dados altamente confidenciais, como salários, benefícios e dados de saúde dos funcionários dos nossos clientes”, diz. “Por isso, usamos IA de maneira protegida, sem expor dados, para incorporar nos nossos processos analíticos.”
A ferramenta da Mercer já identificou mais de 50 áreas em que a IA pode ser aplicada. “Sempre com o objetivo de que pessoas e tecnologia trabalhem juntas”, diz.
Tomlinson mora nos Estados Unidos, país onde muitas tendências do mercado de trabalho costumam surgir, e para ele, o papel da IA é clara: não irá substituir o trabalho humano, mas sim mudar a forma como ele é feito.
“Temos ajudado empresas a usar IA para transformar o trabalho e redefinir cargos, afinal, quando a automação entra, ela transforma as atividades”, afirma.
Ainda há confusão entre os termos “trabalho flexível” e “remoto”, afirma Tomlinson.
“Flexibilidade não é só home office. É sobre permitir algum controle sobre como o trabalho é feito”, afirma. “As empresas que oferecem isso saem na frente na retenção.”
Ele reconhece que o modelo híbrido exige mais planejamento das empresas, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento profissional.
“Boa parte da aprendizagem no trabalho acontece por observação e convivência com os colegas de trabalho. Se o time não estiver junto com frequência, as lideranças terão de encontrar maneiras novas de garantir esse aprendizado”, diz. “O maior desafio é equilibrar flexibilidade com desenvolvimento.”
Para os próximos anos, Tomlinson aposta em um cenário com mais automação, maior valorização da capacidade de adaptação e integração entre humanos e tecnologia.
“Os profissionais precisam ser resilientes e estar abertos a mudanças. O trabalho vai mudar — isso não significa que seus empregos serão substituídos, mas quem estiver preparado para evoluir junto com a tecnologia sairá na frente.”
Para executivos em posição de liderança, Tomlinson deixa um conselho: planeje com visão de longo prazo, sem ignorar as transformações em curso.
“Mesmo líderes consolidados precisam se reinventar e prestar atenção no mercado. Tenham uma visão de longo prazo sobre o que seus clientes vão precisar, entenda o ambiente macroeconômico e os novos concorrentes, inclusive startups tecnológicas, e envolvam os funcionários nesse plano.”