Estudo IBGE: 143,4 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de rendimento em 2024 (Jornal Brasil em Folhas/Flickr)
Repórter
Publicado em 8 de maio de 2025 às 17h46.
Depois de anos marcados por crise econômica e pandemia, o acesso à renda no Brasil voltou a crescer. Segundo a nova edição da PNAD Contínua, divulgada pelo IBGE, nesta quinta-feira, 8, 143,4 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de rendimento em 2024 (o equivalente a 66,1% da população residente no país).
Segundo o estudo, é o maior número já registrado pela série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.
O movimento é puxado, principalmente, pela recuperação do mercado de trabalho. Em 2024, o rendimento habitual médio de todos os trabalhos chegou a R$ 3.225, com alta de 3,7% em relação a 2023. Considerando todas as fontes de renda (trabalho, aposentadoria, pensões, programas sociais, entre outros), o valor médio mensal chegou a R$ 3.057 – que também é um recorde.
O trabalho voltou a ser o principal motor de renda do país, principalmente, a partir de 2023, afirma Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.
“Houve uma recuperação expressiva do mercado de trabalho brasileiro, inclusive com o aumento da formalização”, diz.
O dado mais simbólico desta virada está na região Nordeste, que historicamente aparece nas últimas posições em indicadores de renda. Em 2024, foi lá que se observou o maior avanço proporcional de pessoas com rendimento: alta de 2,6 pontos percentuais, chegando a 63,4% da população. Em números absolutos, isso representa milhões de brasileiros a mais com algum ganho mensal — especialmente via trabalho.
A região Sul, por sua vez, segue como referência: é onde mais pessoas têm rendimento (69,9% da população) e onde está o maior valor médio da renda do trabalho (R$ 3.697).
“O fato de a região Sul ter pessoas com melhores rendimentos é um processo histórico e está associado ao dinamismo da economia. Esse fato faz com que ocorra atração de mão de obra com maior qualificação. Também contribui para que tenhamos nessas regiões um conjunto de indicadores sociais acima da média nacional”, afirma Mariano.
Já o Nordeste e o Norte, embora avancem, seguem com os menores valores (R$ 2.246 e R$ 2.457, respectivamente).
Mesmo com a recuperação da renda, a desigualdade ainda é um desafio no Brasil. O índice de Gini do rendimento do trabalho caiu para 0,488 em 2024, um dos menores da série, o que indica uma leve melhora na distribuição. Ainda assim, a desigualdade permanece alta, especialmente no Nordeste, que segue com o índice mais elevado (0,510).
O Brasil ainda possui um quadro ainda intenso de desigualdades sociais, afirma Mariano, que reforça que a redução do índice de Gini indica uma leve redução na concentração de renda no Brasil, mas, no entanto, ela ainda é bem expressiva.
“Mesmo entre as unidades federativas da região Nordeste percebemos profundas desigualdades. Locais que conseguiram atrair atividades econômicas fomentaram o emprego e desse modo conseguiram reduzir a distância em relação a média nacional. Trata-se de um processo de longo prazo”, afirma o analista do IBGE.
Outro sinal de disparidade está nos tipos de rendimento. Enquanto os domicílios que recebem o Bolsa Família têm renda domiciliar per capita média de R$ 717, aqueles que não recebem alcançam R$ 2.424 — mais que o triplo. Nas regiões Norte e Nordeste, os programas sociais seguem como pilares da sobrevivência de muitas famílias: chegam a representar, respectivamente, 8,2% e 9,4% da composição da renda domiciliar.
O estudo do IBGE aponta uma mensagem importante para o mercado de trabalho: o país não apenas está com mais pessoas ocupadas, mas também com uma massa salarial maior. Em 2024, o volume total de rendimento do trabalho no país chegou a R$ 328,6 bilhões por mês — o maior da história.
“O comportamento do mercado de trabalho mostra de fato um aumento de pessoas ocupadas na força de trabalho, aspecto que contribui para o aumento da massa salarial. Além disso, ocorreu uma recuperação do trabalho formal no Brasil”, diz Mariano.
Ele ainda reforça que os trabalhadores com carteira assinada resultam em rendimentos maiores do que os sem carteira.
“Neste cenário, tivemos um aumento no rendimento médio do trabalho. Ou seja, uma combinação positiva que elevou a massa de rendimento no país,” afirma Mariano.
A manutenção desse ciclo depende, segundo Mariano, do comportamento de algumas variáveis macroeconômicas como taxas de investimento e políticas econômicas. “Isso significa que dependemos do comportamento do setor privado e da atuação do governo. Pelo menos no médio prazo, o cenário ainda é de um mercado de trabalho aquecido”, afirma o analista do IBGE.