Estudo mostra que a maioria dos designers estão otimistas sobre o impacto da IA no futuro da profissão. Apenas 3% dizem estar pessimistas (Mario Martinez/Getty Images)
Repórter
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 08h01.
A palavra designer vem do inglês to design, derivado do latim designare, que significa indicar, marcar, traçar um plano. Desde a origem, o termo carrega a ideia de projetar com intenção — mais do que desenhar, trata-se de conceber soluções. Por isso, no mundo contemporâneo, designer é o profissional responsável por planejar e criar experiências, serviços, interfaces e produtos digitais que unam função, estética e usabilidade.
E é justamente esse grupo, essencial para transformar problemas complexos em soluções acessíveis, que vive uma mudança acelerada impulsionada pela inteligência artificial.
Uma mudança que já aparece nos dados: a IA está presente no dia a dia da maioria dos designers brasileiros, mas ainda sem maturidade, sem diretrizes e, em muitos casos, sem o suporte das empresas — como mostra um estudo inédito conduzido pela Môre, estúdio de design de produtos e serviços digitais, em parceria com o Ibpad.
O levantamento, que ouviu mais de 800 designers em todo o país, é o primeiro com essa abrangência e profundidade. Ele revela que 94% dos profissionais já utilizam ferramentas de IA em seu trabalho e 66% fazem uso diário. Porém, o uso intenso contrasta com a falta de estrutura: 60% utilizam contas pessoais, sem apoio técnico, políticas ou governança corporativa — um cenário que abre riscos de segurança, compliance e propriedade intelectual.
“O uso é intenso, mas fragmentado. É o retrato de um mercado que já incorporou a IA na rotina, mas ainda não aprendeu a integrá-la de forma estruturada, segura e estratégica”, afirma Léo Xavier, fundador e CEO da Môre. “O uso da IA, hoje, é mais acelerador do que transformador.”
Para ele, a diferença entre inovar e perder relevância estará na capacidade de empresas e profissionais integrarem IA com criatividade, ética e impacto real no produto — não apenas como acelerador de processos.
“As organizações precisam se mover rápido. O uso está avançado, mas a governança não. É aí que mora o risco”, diz Xavier.
O relatório foi apresentado nesta quarta-feira, 19, em evento no Learning Village, em São Paulo, com participação de líderes de Itaú Unibanco, Santander e Raia Drogasil. Veja os principais dados da pesquisa.
Apesar da explosão de adoção, o estudo mostra que o uso ainda é básico, concentrado em ferramentas generalistas:

E, embora designers usem IA para ganhar tempo, não há percepção clara de transformação nas entregas:

A baixa maturidade se conecta a outro achado crítico: apenas 10% dos profissionais tiveram capacitação oferecida pela empresa.

O estudo também traça o perfil dos profissionais que mais utilizam IA:
Esse recorte reforça um dos achados mais curiosos do estudo: o “U geracional”. Segundo Xavier, os designers até 24 anos usam IA como estratégia de sobrevivência. “Eles entenderam que, para entrar no mercado, precisam se qualificar rápido.”
Já os profissionais acima de 55 anos entram na IA por pressão da alta liderança. “É a faixa executiva que precisa entender os impactos e orientar decisões estratégicas.”
Os 10 principais usos da IA entre designers revelam um comportamento que mistura pragmatismo e risco criativo:

O destaque está na segunda posição: ideação. “É curioso ver designers delegando pensamento criativo para a máquina — justamente aquilo que acreditamos ser nosso diferencial humano”, diz Xavier.
A ausência de governança aparece como um dos principais alertas. Com 60% usando contas pessoais, o estudo evidencia:
“Mais de 60% das pessoas usam contas pessoais para trabalhar com IA. Isso já é um problema de compliance acontecendo — não é futuro, é presente”, diz Xavier.
Não surpreende que um dos maiores temores citados pelos designers seja justamente a questão da autoria, originalidade e veracidade (24%).
Os principais receios são:

Ou seja: a preocupação maior não é “perder o emprego”, mas como a IA será usada.
Apesar dos riscos, um dado da pesquisa chama atenção: 53% dos designers estão otimistas sobre o impacto da IA no futuro da profissão. Apenas 3% dizem estar pessimistas.
O estudo também revela que apenas 7% dos designers acreditam que a IA pode ajudar a desenvolver competências. Para Xavier, essa é a próxima fronteira.
“Hoje, o mercado olha a IA como substituta ou aceleradora. Mas vemos enorme potencial na ideia de agentes mentores — assistentes que ajudam o designer na pesquisa, na análise, na metodologia, na tomada de decisão. É como ter um coordenador de bolso”, afirma Xavier.
Para Jaque Buckstegge, COO do Ibpad, as empresas precisam se mover rápido para que a IA seja usada como uma aliada eficaz e dentro das normas da companhia. “Identificamos oportunidades para adoção estruturada por parte das empresas, dado que o uso é intenso, porém fragmentado e muitas vezes fora das diretrizes de boas práticas e alinhamento com temas como ética de uso, propriedade intelectual e governança de dados”.
No fim, a IA não substitui a intenção. Cabe aos designers, profissionais especialistas em traçar um plano — decidir que futuro querem projetar. A tecnologia acelera, reorganiza, expande, mas a visão, o senso crítico e a sensibilidade continuam humanos. É nesse encontro entre máquina e imaginação que o design brasileiro escreverá seus próximos capítulos.