Precisamos reconhecer o fato de que estamos em constante construção, por mais difícil que isso possa ser nos dias atuais com a tecnologia (lucky sun/Getty Images)
Publicado em 2 de maio de 2025 às 14h22.
Tem algumas verdades que são difíceis de admitir — e uma delas é a nossa ignorância. Essa palavra, aliás, é bem incômoda e soa até agressiva, não é mesmo? Mas a verdade é que ninguém detém todo o conhecimento do mundo, e tudo bem.
Saber disso deveria trazer certa leveza para as nossas relações, trocas e conversas. Contudo, quem é que nunca sentiu aquele desespero ao escutar uma pergunta e simplesmente não saber a resposta?
São só duas palavras curtas, cada uma com três letras, mas como é difícil dizer: não sei.
A situação piora quando ocupamos uma posição que, supostamente, deveria vir acompanhada de todas as certezas do mundo, como se a gente nunca pudesse errar ou ter dúvidas.
Vou confessar que, durante muito tempo, achei que liderar significava ter todas as respostas. Assumir a tal ignorância em algum assunto era impensável, pois demonstrava fraqueza, despreparo, imaturidade e uma série de outros adjetivos que, em hipótese nenhuma, deveriam ser associados à imagem de uma pessoa à frente de um time.
Porém, os anos de carreira e a experiência adquirida me ensinaram que fingir saber de tudo só afasta as pessoas e bloqueia as trocas mais ricas. Liderança forte não é aquela que sempre sabe — muito menos aquela que finge saber —, mas a que escuta, acolhe, aprende, influencia e, assim, constrói junto.
Sei que o discurso sobre vulnerabilidade já é conhecido no meio corporativo, mas o meu ponto aqui vai além disso. Não se trata apenas de mostrar-se vulnerável, mas de naturalizar o ato de aprender ao longo da jornada.
O mundo sempre esteve em constante transformação, mas, agora, esse ritmo é ainda mais intenso com as novas tecnologias. A introdução da inteligência artificial no nosso ambiente, por exemplo, muda completamente a dinâmica de trabalho, redesenha o mercado e exige novas habilidades — muitas das quais ainda estamos descobrindo. Diante desse cenário, devemos "sentar" nessa cadeira de aprendizado.
Precisamos reconhecer o fato de que estamos em constante construção, por mais difícil que isso possa ser nos dias atuais, quando, o tempo todo, nos preocupamos com a nossa imagem — tanto no mundo físico quanto no digital. Temos que parecer pessoas seguras, atualizadas, por dentro de todas as novidades e com uma opinião sobre cada assunto do momento.
Quem nunca sentiu cansaço por conta dessa pressão constante? No fim das contas, nos dedicamos tanto às aparências que deixamos de lado a essência.
Por isso, meu conselho para qualquer profissional, independentemente do cargo, é: permita-se dizer “não sei” e, a partir daí, convide as outras pessoas a construírem a resposta com você. Essa atitude, além de verdadeira, incentiva um ambiente de troca, confiança e inovação.
Porém, atenção: essas duas palavras também não devem se tornar uma constante. Tudo bem não saber tudo, mas você não pode se acomodar na posição de quem não sabe nada. A vida é uma questão de equilíbrio.
Líder ou não, o que todo mundo deve lembrar é que assumir a posição de aprendiz não enfraquece a imagem profissional. Pelo contrário, mostra que temos disposição para aprender e comprometimento com o desenvolvimento coletivo.
E, se tem algo que digo com convicção, é que essas duas qualidades são indispensáveis para quem quer, de verdade, crescer e deixar uma marca positiva por onde passa.