Celina Bredemann, cofundadora da Araras Coffee: “Saia do conforto. Acredite nos seus sonhos, mesmo que tudo pareça impossível. Eu comecei a empreender com uma cafeteira e hoje tenho o meu próprio negócio” (Celina Bredemann /Divulgação)
Repórter
Publicado em 16 de junho de 2025 às 09h37.
New York, Estados Unidos* - “Você tem que sair da zona de conforto. Se está confortável demais, algo está errado.” Essa frase resume bem a trajetória de Celina Bredemann, cofundadora da “Araras Coffee”, uma cafeteria e mercado brasileiro em White Plains, New York (Estados Unidos). Ao lado da sócia Marina Cardozo, Bredemann não só conquistou a clientela local, mas também celebridades e ex-presidentes americanos, como o ex-presidente americano Bill Clinton.
“Tudo isso começou literalmente com uma cafeteira doméstica e um sonho”, afirma a empresária brasileira.
A vontade de morar fora do país surgiu após o noivo perder o emprego ainda no Brasil e ser chamado para trabalhar nos Estados Unidos por um amigo. Bredemann decidiu apostar nessa oportunidade. Em 1998, ela deixou o emprego de secretária aos 30 anos e acompanhou o marido. New York não foi apenas o destino de lua de mel do casal, mas se tornou a nova casa.
Após tentar um emprego em uma restaurante brasileiro, Bredemann encontrou em uma loja de produtos brasileiros um pedacinho do Brasil – e, mais tarde, seu primeiro emprego no país. Com novas ideias e dedicação, Bredemann ajudou o antigo dono a expandir o negócio e conquistar novos públicos.
Quando o estabelecimento fechou após a crise de 2010, ela decidiu abrir algo seu, do zero, com a então amiga e futura sócia Marina Cardozo, natural do Paraguai. Nascia assim a “Araras Coffee”, uma cafeteria fundada por duas mulheres latinas – mas empreender no país não foi tão fácil como parecia.
Celina Bredemann com a sua sócia Marina Cardozo, ambas fundadoras do "Araras Coffee" (Araras Coffee/Divulgação)
A loja foi aberta em 2014 com recursos limitados e o apoio de amigos para reformar o espaço que estava fechado havia 30 anos.
Para a surpresa delas, o local que elas tanto buscavam alugar tinha um problema judicial:
“Insistimos diversas vezes para conseguir falar com o proprietário, até que descobrimos que a dona do prédio havia falecido e deixado todos os bens...para o cachorro”, diz Bredemann que hoje ri da situação.
Quem cuidava dos trâmites era o gerente legal do cachorro – com quem elas finalmente conseguiram contato após muitos e-mails e tentativas frustradas. Foi esse gerente que, após um longo processo, autorizou o aluguel do imóvel para Celina e Marina. “Abrimos a loja com uma cafeteira e um sonho”, diz Bredemann.
O nome “Araras”, além de remeter ao Brasil, carrega um simbolismo pessoal: "Araras nunca voam sozinhas, estão sempre em dupla. Como eu e a Marina”, diz a empresária.
Frente do "Araras Coffee" em White Plains, New York (Layane Serrano/Divulgação)
O reconhecimento não demorou a chegar. Em 2016, o jornal The New York Times descobriu o lugar e colocou a cafeteria na capa. A visibilidade impulsionou ainda mais o negócio, que hoje conta com sete funcionárias – todas mulheres – e um faturamento anual em torno de US$ 2 milhões.
Durante a pandemia, o “Araras Coffe” não fechou as portas. Pelo contrário: serviu gratuitamente café e alimentação para hospitais e policiais da região. “Pedimos a Deus proteção, colocamos uma placa no balcão para não ter contato, e assim ninguém ficou doente. As pessoas vinham aqui e até deixavam cafés pagos para ajudar o negócio a ficar aberto”, conta Bredemann emocionada ao lembrar da ajuda dos clientes que ainda voltam para tomar o café que é importado em grãos com um fornecedor de Minas Gerais.
Conhecida também como “Celina Brigadeiro”, por ensinar receitas no YouTube e incentivar a autonomia financeira de mulheres imigrantes, Bredemann enxerga seu trabalho como missão. “Meu propósito é que nenhuma mulher dependa do marido ou do governo. Sou a favor da família, mas também da independência.”
Hoje, a “Araras Coffee” atende eventos como casamentos, baby showers, aniversários e eventos corporativos. Clientes fiéis, incluindo personalidades do basquete, a polícia federal e autoridades como Bill Clinton, continuam a visitar o seu negócio.
“Mas aqui todo mundo é tratado igual”, afirma Bredemann. “Desde o policial até o ator famoso.”
Com planos de expandir o negócio por meio de franquias, a empreendedora mantém os pés no chão e o coração firme nos valores que guiaram sua jornada até aqui. “Crescer, sim, mas sem perder a essência. O feito à mão, o toque humano, é o que torna tudo especial aqui.”
Uma das recompensas de Bredemann em sua trajetória como imigrante e empreendedora foi trazer orgulho para o filho.
“Meu filho estudava aqui no high school, e teve jogos lá com os Tigers, e meu filho viu muitos estudantes com o copo do ‘Araras Coffee’ na mão. Ele na hora me ligou e falou. Ter visto o meu filho com orgulho de mim e do meu trabalho foi emocionante”, diz. “Porque tanto eu quanto Marina viemos de outro país, sem falar o idioma direito e ainda somos mulher. Sinto que conquistamos o nosso espaço.”
O primeiro conselho de Bredemann para quem busca viver e trabalhar nos Estados Unidos é conhecer seus próprios direitos e as possibilidades legais de permanência no país.
“Hoje eu sei que existem 170 tipos de vistos que podem permitir que uma pessoa viva bem aqui, mas é preciso querer, estar disposto a pagar o preço e encarar o processo,” afirma.
Outro conselho é ter coragem de sair da zona de conforto. Bredemann deixou a carreira de secretária e a família para viver em um novo país com o marido, que hoje trabalha com uma linha de transporte particular. A necessidade de começar trabalhando em outra área e até mesmo de apostar em um novo emprego, não impediu dessa brasileira de realizar o “sonho americano”.
“Tenha coragem. O não você já tem. Vá atrás do sim. Saia do conforto. Acredite nos seus sonhos, mesmo que tudo pareça impossível. Eu comecei a empreender com uma cafeteira e hoje tenho meu próprio negócio e muito orgulho do que construí.”