Mais importante do que escolher “a carreira certa” será a habilidade de se manter em aprendizagem de forma contínua e adaptável (Pin People/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 14h26.
Por Rogério Chér, sócio-fundador da Winx e da Devello
O avanço da IA redefine, em alta velocidade, a forma como trabalhamos, aprendemos e nos relacionamos. Nesse contexto, ecoa com força uma frase que li na Fortune, de Jad Tarifi, que fundou a primeira equipe de IA generativa do Google, onde permaneceu por quase uma década:
“O sucesso no futuro não virá da obtenção de credenciais, mas do cultivo de perspectivas únicas. Incentivo os jovens a se concentrarem na arte de se conectar com os outros e no trabalho interno consigo mesmo.”
Essa afirmação nos convida a repensar como moldamos nossa educação formal, nosso desenvolvimento pessoal e o desenho das carreiras. Afinal, o que vale mais: acumular diplomas ou desenvolver um ponto de vista único que gere valor em meio a tanta automação?
A pesquisa Future of Jobs 2025 do Fórum Econômico Mundial mostra que 44% das habilidades atuais dos trabalhadores serão impactadas pela automação até 2027. O mesmo relatório destaca que pensamento crítico, criatividade e inteligência emocional estarão entre as competências mais demandadas.
Não é o caso de incentivar que as pessoas descuidem de suas formações acadêmicas. Claro que não! Diplomas não deixarão de ter relevância, mas não garantem mais diferenciação. A Harvard Business Review já alertava, em 2022, que “as universidades precisam migrar de modelos baseados em transmissão de conhecimento para modelos de aprendizagem contínua e experiencial”. Em outras palavras: menos acúmulo de conteúdo e mais desenvolvimento de capacidade reflexiva, colaborativa e adaptativa.
A era da IA expõe uma verdade incômoda: qualquer conhecimento técnico repetitivo será absorvido pelos algoritmos. Nesse cenário, a vantagem competitiva humana passa a ser a originalidade das perspectivas.
Daniel Pink, em Uma Nova Mente, já antecipava que o futuro pertenceria aos profissionais capazes de combinar lógica com empatia, dados com narrativa, ciência com arte. Isso nos leva à necessidade de estimular práticas de autoconhecimento, pensamento sistêmico e diversidade de experiências de vida. Não se trata apenas de aprender, mas de aprender a conectar ideias, pessoas e contextos de forma singular.
Outro dilema atual é: investir tempo em quê? Estudar o quê? Moldar a carreira de que modo?
Uma pesquisa da McKinsey de 2023 revela que 82% dos executivos acreditam que as carreiras se tornarão cada vez mais não-lineares, organizadas em experiências acumulativas, não em escadas hierárquicas. Isso sugere que o profissional do futuro precisará construir uma trajetória em mosaico, com vivências em diferentes áreas, organizações e até geografias, sempre cultivando repertório.
Mais importante do que escolher “a carreira certa” será a habilidade de se manter em aprendizagem de forma contínua e adaptável. Como afirma Herminia Ibarra, professora da London Business School: “Carreiras modernas não são planejadas, são descobertas por meio da experimentação.” Isso será uma verdade cada vez mais necessária.
Para as organizações, o desafio é criar ambientes que valorizem não apenas performance técnica, mas também autenticidade, colaboração e reflexão crítica. Estudos da Deloitte mostram que empresas que estimulam culturas de aprendizado contínuo apresentam taxas de retenção 30% maiores do que aquelas que mantêm modelos rígidos e tradicionais.
Isso exige que os RHs ampliem o foco: menos programas padronizados de treinamento e mais experiências de desenvolvimento personalizadas, que ajudem cada colaborador a conectar seu trabalho com propósito, autonomia e singularidade.
Não há respostas absolutas, mas há uma certeza: a singularidade humana será o maior ativo em meio à padronização algorítmica.
O futuro nos exige coragem para abandonar velhos paradigmas. Precisamos moldar a educação, o desenvolvimento e as carreiras em torno de três eixos:
Se a IA é capaz de fazer muito mais do que já imaginávamos, cabe a nós fazer o que ela jamais fará: sermos genuinamente humanos.