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Você está pronto para ser um 'chefe de agente digital'? Veja o que muda com a nova força de trabalho

Relatório da Microsoft revela como o avanço da inteligência artificial está criando as ‘empresas fronteira’ que exigem times formados por humanos e agentes de IA

Com a IA assumindo tarefas, surgem os times híbridos: parcerias entre humanos e agentes digitais (style-photography/Getty Images)

Com a IA assumindo tarefas, surgem os times híbridos: parcerias entre humanos e agentes digitais (style-photography/Getty Images)

Publicado em 24 de abril de 2025 às 09h30.

Última atualização em 7 de julho de 2025 às 14h26.

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O ano de 2025 pode ser lembrado como um divisor de águas no mundo do trabalho. Segundo o novo relatório anual Work Trend Index, da Microsoft, o avanço da inteligência artificial está dando origem a um novo tipo de organização: as “Frontier Firms” — empresas estruturadas com inteligência artificial sob demanda, times compostos por humanos e agentes digitais, e um novo papel para cada trabalhador: o de “agent boss”, ou chefe de agentes.

"Uma empresa 'fronteira' é aquela que está na vanguarda da integração entre inteligência humana e artificial. Ela não está apenas usando tecnologia. Está redesenhando sua estrutura, fluxos e cultura para operar com times mistos, compostos por pessoas e agentes de IA", afirma Milena Brentan, psicóloga e consultora para Alta Liderança.

A pesquisa, desenvolvida em parceria com o LinkedIn e especialistas globais em economia, tecnologia e comportamento organizacional, traz dados de mais de 30 países e aponta: 82% dos líderes consideram 2025 um ano decisivo para repensar a estratégia de negócios. Com o aumento da pressão por produtividade e a limitação da capacidade humana, a IA surge como um recurso escalável e acessível que pode preencher essa lacuna.

O estudo da Microsoft acerta ao dizer que entramos numa nova fronteira, mas talvez ainda subestime a profundidade desse salto, afirma Michelle Schneider, futurista brasileira e professora convidada da Singularity University, universidade localizada no Vale do Silício (EUA).

"Não é só uma nova era — é uma nova lógica. E, como toda mudança de lógica, exige muito mais do que adaptação - exige reinvenção", diz a futurista que é autora do livro "O Profissional do Futuro: Como se preparar para o mercado de trabalho na era da IA". 

IA sob demanda: uma nova força de trabalho

De acordo com o levantamento, a IA deixou de ser um recurso limitado a equipes de tecnologia e passou a ser tratada como um bem durável: acessível, escalável e disponível sob demanda. Enquanto 53% dos líderes afirmam que precisam aumentar a produtividade, 80% da força de trabalho global diz não ter tempo ou energia suficiente para realizar todas as suas tarefas — e são interrompidos a cada 2 minutos, em média.

A resposta para esse desequilíbrio? O uso crescente da força de trabalho digital. Mais de 80% dos líderes afirmam que pretendem expandir seus times com trabalho digital nos próximos 12 a 18 meses.

Do organograma ao “work chart”

Com a IA assumindo tarefas, surgem os times híbridos: parcerias entre humanos e agentes digitais. Essas duplas ou equipes vão reformular os organogramas tradicionais, substituindo estruturas fixas por modelos mais flexíveis e orientados a resultados.

A nova métrica essencial passa a ser a relação humano-agente. Empresas precisarão entender: quantos agentes são ideais por função? Quando o toque humano é indispensável — como em decisões financeiras ou atendimento ao cliente de alto impacto?

Todo profissional será um “agent boss”

Um dos principais destaques do relatório é o surgimento de uma nova função para todos os trabalhadores, de qualquer área ou nível hierárquico: o papel de “agent boss” — alguém que constrói, treina e gerencia agentes de IA para ampliar sua produtividade.

Para se tornar um 'agent boss' (esse novo perfil de líder que orquestra humanos e agentes de IA) não basta conhecer tecnologia, afirma Brentan.

"É preciso desenvolver uma nova musculatura mesmo: adaptabilidade constante, pensamento sistêmico e uma abertura real para aprender com os próprios erros e com as respostas da máquina. Mas, acima de tudo, o que vai diferenciar essas lideranças é a capacidade de lidar com emoções — tanto as suas quanto as do time", diz a psicóloga especializada em gestão corporativa.

A pesquisa também mostra que 79% dos líderes acreditam que a IA vai acelerar suas carreiras, contra 67% dos demais colaboradores. Nos próximos cinco anos, 41% dos líderes esperam que suas equipes estejam treinando agentes e 36% que estejam gerenciando-os.

Para quem estiver preparado, a IA funcionará como um acelerador de carreira, permitindo que profissionais assumam funções mais estratégicas e complexas desde o início.

Setores mais impactados

Para Brentan, os setores com maior carga de processos repetitivos, grandes volumes de dados ou foco em atendimento ao cliente devem ser os primeiros a experimentar os efeitos do novo modelo de trabalho baseado em times humano-agente. “Financeiro, varejo e tecnologia são alguns dos que já estão sentindo esse impacto”, afirma.

Mas ela alerta que a transformação vai além. “Qualquer área onde a análise, a decisão ou a criação podem ser otimizadas por IA será afetada. Já escutei relatos de atendimentos que antes eram essencialmente humanos - como coaching e até sessões psiquiátricas - se adaptando à presença de agentes digitais, especialmente fora do Brasil.”

Apesar do avanço, Brentan ressalta que há limites. “Essa mudança exige cuidados com ética, privacidade e responsabilidade. Conselhos profissionais e órgãos reguladores estão se perguntando o tempo todo o que muda e como se adaptar à era da IA”, afirma.

As "Empresas Fronteira" já são uma realidade no Brasil?

Para Schneider, professora convidada da Singularity University, o Brasil está no meio-do-caminho quando o assunto é força de trabalho humana somada ao digital. "Já vemos pilotos robustos em setores intensivos em dados, mas ainda longe da adoção massiva", afirma.

Como exemplo, ela cita o caso do Itaú Unibanco, que cortou 88% do tempo de refinamento de user stories e aumentou em 40% a entrega de software ao delegar tarefas a agentes de IA. Outro caso é a Petrobras que testa o Petronemo para acelerar a manutenção de plataformas e economizar R$ 20 milhões até 2029. "A maioria das empresas, porém, ainda opera no estágio 'assistência por IA' descrito pelo estudo, longe de uma reconfiguração completa", afirma a futurista brasileira. 

Apesar do andamento, a próxima curva já está no horizonte, afirma Schneider.

"Em breve veremos o surgimento das chamadas AI Native companies, empresas que já nascem com estruturas mais enxutas, processos automatizados por padrão e decisões orientadas por agentes. Elas não terão que se adaptar à lógica 'humano + agente', porque já nascerão dentro dela", afirma. 

Empregos do futuro já estão nascendo

A transformação já começa a se refletir nas contratações. Startups nativas em IA estão contratando em ritmo duas vezes maior do que as Big Techs, e novas funções surgem diariamente — assim como ocorreu na era da internet, que criou cargos como gerente de redes sociais e designer de UX.

Mais de 78% dos líderes cogitam criar vagas específicas para profissionais com habilidades em IA, enquanto 83% acreditam que os colaboradores poderão assumir tarefas mais estratégicas graças à tecnologia.

O que isso significa para sua carreira

Para os profissionais, a mensagem é clara: quem não aprender a usar IA para ampliar seu impacto pode ficar para trás. Isso não significa ser substituído, mas sim ampliar sua atuação. A habilidade de liderar times compostos por humanos e agentes digitais será, em breve, um diferencial competitivo, afirma Schneider. 

"Como lembrou Marc Benioff, CEO da Salesforce, em Davos, “somos a última geração de líderes que comandou forças de trabalho só de humanos.”   A partir daqui a liderança passa a orquestrar pessoas e agentes de IA", afirma a futurista. 

O novo cenário de humanos como líderes de agentes digitais exigirá das chefias um novo kit de competências que a Harvard Business Review chama de 'fusion skills': interrogar a IA com propósito, integrar julgamento humano aos algoritmos, aprender reciprocamente com as máquinas e narrar contexto para que agentes entendam prioridades de negócio.  

"Em outras palavras, o líder evolui de gestor para curador de inteligência,  garante dados de qualidade, define governança ética e, sobretudo, preserva o que só nós oferecemos: visão, empatia e capacidade de inspirar propósito em meio à automação", diz Schneider.  

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