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‘Estudar nos EUA é um sonho possível’, diz brasileira formada com ‘nota 10’ em Harvard

Sarah Borges se formou com louvor em Psicologia este ano. O próximo destino é um doutorado na Universidade de Cambridge para estudar saúde mental

Sarah Borges, aos 23 anos, recebendo o diploma de Psicologia na Univerdade de Harvard, nos Estados Unidos (Arquivo pessoal /Divulgação)

Sarah Borges, aos 23 anos, recebendo o diploma de Psicologia na Univerdade de Harvard, nos Estados Unidos (Arquivo pessoal /Divulgação)

Publicado em 1 de julho de 2025 às 14h20.

Última atualização em 1 de julho de 2025 às 14h25.

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Muitos brasileiros têm o sonho de estudar no exterior e a Universidade de Harvard, é um dos focos desses estudantes, seja pela tradição que carrega a instituição de ensino superior mais antiga dos Estados Unidos, seja pela excelência acadêmica que a coloca entre as melhores universidades do mundo e na Ivy League (grupo de oito universidades americanas altamente prestigiadas).

Foi nessa universidade americana que uma brasileira se destacou neste ano. Nascida em Goiânia, Sarah Borges, aos 23 anos, se formou em Psicologia neste mês com a melhor nota da turma. Isso rendeu a Sarah o Prêmio Sophia Freund, uma das mais altas honrarias concedidas aos estudantes de graduação de Harvard que apresenta o maior índice de notas (GPA) entre seus pares.

“Foi uma surpresa enorme! Eu realmente não esperava. Nem sabia exatamente o que era o prêmio e recebi a notícia logo depois de pegar o diploma, então foi uma comemoração dupla”, afirma Borges que dedica essa conquista a todas as pessoas que a apoiaram até sua formação, especialmente seus pais.

"Meus pais batalharam desde antes de eu saber escrever para que eu pudesse ter acesso à melhor educação que eles pudessem me oferecer. Sem o esforço, apoio e amor deles, nada disso teria sido possível", afirma Sarah, que se forma e se destaca na universidade americana (Harvard) que atualmente enfrenta medidas restritivas do novo governo.

Gêmeas em Harvard: o caminho das irmãs Borges até a universidade americana

O caminho para chegar em Harvard começou com uma dedicação na escola desde criança, tanto para Sarah Borges, que se formou em Psicologia em Harvard, quanto para a sua irmã gêmea Sophia Borges, que também estuda em Harvard, mas no caso dela, ela faz um programa de PHD atrelado à graduação de Medicina na USP.

“Meus pais buscavam sempre o melhor ensino, dentro das condições que eles tinham”, diz Sarah que sempre recebeu apoio do pai engenheiro civil e da mãe formada em assistente social.

As irmãs Borges começaram a estudar em uma escolinha pequena da cidade de Goiânia, que hoje nem existe mais. Depois conseguiram uma bolsa parcial em uma escola particular, onde tiveram uma formação mais holística.

“Era um colégio com uma formação holística, que incentivava atividades como natação, teatro, xadrez e artes. Eu e minha irmã participávamos de tudo, desde concursos de poesia até jogos escolares e feiras de ciências. Sempre fomos apaixonadas por aprender”, afirma Sarah que sempre teve alegria em aprender.

“Eu sentia uma alegria genuína ao fazer uma boa tarefa e, muitas vezes, ficava na escola à tarde para ajudar colegas com lições.”

Até o ensino médio, Sarah imaginava que cursaria uma universidade brasileira.

“Foi apenas no terceiro ano do ensino médio que comecei a considerar a possibilidade de estudar fora”, afirma Sarah que ficou atraída pela flexibilidade do sistema de ensino superior norte-americano. “O sistema de ensino americano me permitiria combinar interesses diversos. Sempre gostei muito tanto das ciências naturais quanto das ciências sociais, e queria continuar explorando ambas”, diz.

Sarah Borges e Sophia Borges, as irmãs gêmeas que se preparam para estudar em Harvard (Arquivo pessoal /Divulgação)

A aplicação para vestibulares dentro e fora do país

Com essa motivação, Sarah tentou tanto universidades brasileiras quanto as americanas. “Não foi fácil conciliar a aplicação para fora com os estudos para os vestibulares nacionais. Tentava aproveitar o tempo na escola para estudar para os vestibulares, às vezes passando todos os recreios dentro da sala estudando, e à tarde focava na aplicação para fora”, diz.

Sarah também participou de programas de mentorias gratuitos que a conectaram com outros estudantes brasileiros que também estavam aplicando para o exterior.

“Aplicar para universidades fora ainda era algo novo em Goiânia, especialmente na minha escola, então precisei correr atrás de muita coisa sozinha. A mentoria tirou um pouco a sensação de ser um processo solitário”, afirma.

O processo não parava apenas nos estudos. Sarah também teve que reunir diferentes documentos para comprovar nos Estados Unidos que era uma boa aluna.

“Precisei reunir todos os meus boletins desde o 9º ano, premiações e atividades extracurriculares para o processo de candidatura, além de prestar cinco provas”, diz a brasileira, que conta que hoje a maioria das universidades exige apenas duas: o SAT e o teste de proficiência em inglês.

“Para essas provas, estudei com materiais gratuitos que encontrei na internet e em grupos de estudantes aplicando para fora. Me gravava falando em inglês e escutava os áudios para melhorar a pronúncia. Praticava muitas questões dos exames anteriores”, diz.

O retorno tão esperado: o nome na lista dos aprovados

Ao final do ensino médio, Sarah teve o primeiro retorno de sua dedicação com os estudos: foi aprovada em 5º lugar para Medicina na USP e na UnB. “Acabei chegando a cursar pouco mais de um semestre na USP, onde tive a oportunidade de conhecer professores e colegas incríveis com quem mantenho contato até hoje e por quem tenho muito carinho”, diz a brasileira que decidiu apostar na sua formação internacional.

Um dia antes do seu aniversário, em 26 de março, Sarah foi aceita com bolsa integral em Harvard. “Devido à pandemia, não comecei de imediato e tirei um ano sabático, iniciando os estudos em agosto de 2021”, afirma.

A escolha de Sarah pela Psicologia veio da possibilidade de reunir duas paixões antigas: a curiosidade sobre o funcionamento da mente humana e o interesse por questões sociais.

“Durante a graduação, me envolvi com pesquisas em temas muito diversos, de mudanças climáticas à desinformação e desigualdade de gênero na ciência, mas foi na saúde mental que encontrei mais significado, tanto pela urgência do tema quanto pelo potencial de impacto direto na vida das pessoas”, diz Sarah.

Hoje, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre jovens no Brasil e em vários países do mundo. A depressão é uma das condições de saúde que mais afetam a vida das pessoas globalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde, afirma Sarah.

“Não é exagero quando especialistas alertam que vivemos uma crise de saúde mental. Acredito que enfrentá-la vai exigir o envolvimento de vários setores da sociedade, e esse esforço precisa estar fundamentado, antes de tudo, em pesquisas sólidas e bem conduzidas sobre o tema”, diz.

No caso da irmã Sophia, ela também foi aprovada em medicina na USP, além da UnB, UNIFESP, UFG e Unicamp, e decidiu seguir essa área.

“Hoje, ela faz o programa MD-PhD na USP, em que ela faz a graduação em medicina em paralelo ao doutorado. Parte do doutorado dela está sendo feito na T.H. Chan School of Public Health de Harvard, onde ela desenvolve um trabalho fundamental focado em tecnologias de saúde no SUS, especialmente na área de vacinação”, diz Sarah.

Sophia Borges vendo a formatura de Sarah Borges em Psicologia na Universidade de Harvard (Arquivo pessoal /Divulgação)

Dicas para quem busca estudar em uma universidade nos Estados Unidos

Para quem tem o sonho de estudar em uma universidade dos Estados Unidos, Sarah traz as seguints dicas:

  • Procure redes de apoio e não tente fazer tudo sozinha: existem iniciativas sérias e acessíveis que ajudam em todas as etapas. Entre as organizações que me apoiaram, todas com programas gratuitos de mentoria, posso citar: BRASA, Fundação Estudar e EducationUSA.
  • Comece a entender como o processo funciona o quanto antes: isso inclui pesquisar quais universidades oferecem bolsas, quais exames são exigidos (como SAT e TOEFL), e quais são os prazos e documentos necessários.
  • Busque inspiração e apoio em quem já trilhou esse caminho: hoje, existe uma rede crescente de brasileiros estudando fora, e muitos estão dispostos a compartilhar experiências.
  • Invista tempo em autoconhecimento: as universidades valorizam trajetórias com propósito e coerência, mais do que “perfis perfeitos”. Entender o que te move e conseguir comunicar isso com autenticidade faz diferença — e ajuda muito na hora de escrever as essays (redações pessoais solicitadas por universidades norte-americanas).
  • E, acima de tudo, siga com curiosidade, consistência e esperança: nem sempre vai ser fácil — vai exigir muitas horas de dedicação — mas o processo de se preparar já é uma forma poderosa de crescimento.

A dedicação e o acesso a oportunidades de estudo - além de um pouco de sorte - ajudou Sarah a entrar em uma universidade como Harvard.

“Nos Estados Unidos, as universidades mais competitivas geralmente se comprometem a oferecer a bolsa que o aluno precisa para estudar lá. É inteiramente por necessidade financeira, diz Sarah que conseguiu bolsa integral em Harvard durante os 4 anos de graduação.

Quer estudar no exterior? Se prepare para esses desafios

Um dos maiores desafios de Sarah como estudante nos Estados Unidos foi o idioma.

“Só tinha aprendido inglês por meio das aulas da escola, onde não praticava a fala e no ensino médio se voltou quase inteiramente a treinar questões de vestibulares. Quando comecei, ter que falar inglês o dia inteiro e me comunicar em um ambiente acadêmico tão exigente foi intimidante”, afirma.

O que a motivou foi perceber que muitos alunos internacionais também enfrentavam essas dificuldades e que o simples fato de estar ali, mesmo sem ter tido oportunidades iguais de preparo prévio, já dizia muito.

“Com o tempo e a prática, o inglês se tornou fluente, e hoje me comunico com mais tranquilidade até em situações de alta pressão. Ainda assim, sei que nunca será como falar na minha linda língua nativa”, diz.

A exigência acadêmica da universidade foi outro ponto. Sarah reforça que é um ensino intenso, em que em vários momentos teve que passar dias seguidos estudando quase sem parar.

“Em Harvard, foi a primeira vez que virei noites estudando e terminando trabalhos. Apesar de ser defensora da importância de um bom sono, infelizmente reconheço que tive que abdicar dele muitas vezes. Às vezes, terminava o semestre muito exausta, e tinha que tirar a minha primeira semana de férias inteira só para recuperar”, afirma a brasileira.

Outro desafio foi a distância da família. Estar longe de casa pode ser difícil em muitos momentos. “Tive a sorte de construir laços muito fortes com amigos, que carinhosamente chamo de minha ‘família do campus’. Eles me apoiaram muito durante momentos desafiadores. Também tentei manter contato diário com minha família por videochamadas, incluindo com meus cachorrinhos”, diz Sarah.

O próximo plano: doutorado em psiquiatria na Universidade de Cambridge

A escolha de uma área para o doutorado geralmente está muito relacionada ao grupo de pesquisa e ao orientador com quem se deseja trabalhar, conta Sarah.

“No meu caso, identifiquei uma professora do departamento de Psiquiatria em Cambridge com interesses muito alinhados aos meus: a pesquisadora Sharon Neufeld, que é uma referência no uso de métodos estatísticos avançados para investigar questões em saúde mental entre jovens”, diz.

Para esse doutorado, Sarah pretende usar grandes bancos de dados nacionais para avaliar se serviços de saúde mental para jovens no Brasil são eficazes e melhores formas de diagnosticar transtornos de humor, especialmente depressão.

“O meu objetivo é expandir esse estudo para outros países que são ainda sub-representados na ciência internacional. Apesar de cerca de 96% dos jovens de todo o mundo morarem em países de baixa e média renda (LMIC) como o Brasil, só 4% dos estudos de psicologia tem participantes desses países. Trazer dados desses países tem enorme valor científico”, diz a brasileira formada em Harvard.

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