Carreira

Exclusivo: para o CEO da Bauducco, as expectativas com o mercado no Brasil e EUA são as melhores

À EXAME, Andrea Martini fala sobre o plano para a Páscoa este ano, o investimento milionário na Flórida, lições de carreira e o desafio de manter a tradição - enquanto inova

Andrea Martini, CEO da Bauducco: “É preciso entender que liderar é servir, é inspirar, é criar condições para que o time cresça com você” (Alê Couto/Divulgação)

Andrea Martini, CEO da Bauducco: “É preciso entender que liderar é servir, é inspirar, é criar condições para que o time cresça com você” (Alê Couto/Divulgação)

Publicado em 17 de abril de 2025 às 09h30.

Última atualização em 19 de abril de 2025 às 13h00.

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Depois do panetone e do chocotone no Natal, a aposta da Bauducco está na Páscoa deste ano. "Estamos projetando um crescimento acima de 10% na Páscoa 2025, impulsionado por uma estratégia integrada entre Bauducco e Casa Bauducco", afirma Andrea Martini, CEO da Bauducco.

A Colomba segue como carro-chefe no período, enquanto a Casa Bauducco aposta em produtos artesanais, embalagens sofisticadas e lançamentos exclusivos, como o Ovo Chocottone e bombons premium. “A Páscoa é um dos momentos mais importantes do ano para o mercado de alimentos sazonais, e queremos não apenas fortalecer nossa conexão emocional com os consumidores, mas também reforçar a relevância da nossa marca nesse período”, afirma o executivo.

Esse apelo emocional com o cliente Martini conhece bem e começou a aprender logo cedo, em sua cidade natal. Nascido em Parma, na Itália, Martini cresceu em um lar simples. Com a mãe dedicada ao lar, seu pai, que trabalhou como operário e motorista, chegou a voltar ao trabalho após a aposentadoria para pagar a faculdade do filho - foram eles as primeiras grandes referências de comprometimento e coragem de Martini.

Sua carreira começou na Barilla, uma das maiores empresas de alimentos da Itália. Sua primeira experiência no Brasil, um dos 7 países onde trabalhou, aconteceu em meados dos anos 1990. O contato com a Bauducco aconteceu em 1997, quando ele foi convidado por Massimo Bauducco para assumir a diretoria de marketing da empresa. Quase três décadas depois, em 2021, Andrea retornou para assumir um novo desafio: tornar-se o primeiro CEO da Bauducco, fora da família fundadora.

Nos próximos anos, um dos grandes desafios do CEO é a expansão internacional nos Estados Unidos. Só a nova fábrica na Flórida terá um investimento de US$ 200 milhões no decorrer dos próximos cinco anos e deve gerar 600 empregos na região.

Em entrevista à EXAME, ele fala sobre propósito, futuro da liderança, planos do negócio no Brasil, desafios globais e a missão de manter viva a alma italiana da marca - enquanto inova.

Quais são as apostas da Bauducco para 2025?

A Bauducco é uma empresa com mais de 70 anos de história, sempre crescendo de forma sustentável. Quando assumi como CEO em 2021, meu principal objetivo foi garantir a continuidade do nosso DNA. Para isso, seguimos uma agenda estratégica focada, entre outras iniciativas, na "contemporanização" da marca. Para isso, estamos expandindo as Bauducco Lojas e a Casa Bauducco, com meta de 200 unidades até meados do próximo ano.

Nos Estados Unidos, iniciamos a construção da nossa segunda fábrica, com investimento de US$ 200 milhões.

No Brasil, estamos projetando um crescimento acima de 10% na Páscoa deste ano, impulsionado por uma estratégia integrada entre Bauducco e Casa Bauducco.

A nova Fábrica em Tampa, na Flórida, deve ficar pronta ainda este ano? Tem previsão de quando vai ser inaugurada? Qual é a expectativa com essa nova fábrica?

Com um investimento de US$ 200 milhões no decorrer dos próximos cinco anos, nosso projeto de expansão nos Estados Unidos está sendo desenvolvido em três fases, garantindo um crescimento sustentável e alinhado à evolução do mercado. A primeira fase da nova unidade em Zephyrhills, Flórida, está prevista para entrar em operação até no primeiro semestre de 2026, enquanto as fases seguintes, programadas para 2028 e 2030, permitirão uma ampliação gradual da capacidade produtiva.

O projeto também terá um impacto positivo na economia local, com a geração de cerca de 600 novos empregos na região de Tampa Bay, sendo 120 vagas em tempo integral já na primeira fase.

O que diferencia o mercado de trabalho da Itália em relação ao Brasil?

Embora Itália, Brasil e outros países latinos compartilhem mais semelhanças culturais do que diferenças estruturais no ambiente de trabalho, o que realmente se destaca é o modo como as pessoas se relacionam, constroem confiança e resolvem problemas. Em contraste, países como Inglaterra e Estados Unidos apresentam estilos de liderança e tomadas de decisão bem diferentes, mais focados em eficiência e tempo.

Em termos de desafios, o Brasil tem particularidades importantes. Fazer negócios por aqui pode ser mais complicado do que em alguns países europeus ou norte-americanos, principalmente por questões relacionadas ao poder de compra da população. É mais difícil manter uma marca atrativa para o mesmo consumidor ao longo do tempo, já que isso depende da sua capacidade de desembolso. Esse cenário tem impacto direto no consumo, nas margens e na competitividade no mercado. Por isso, inovação e agilidade são fundamentais para conquistar e manter relevância aqui no Brasil.

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Ser CEO era um cargo que você buscava? Mudou algo desde a primeira vez que ocupou essa cadeira?

Receber esse convite foi motivo de grande orgulho. Não apenas pela posição em si, mas pelo forte vínculo emocional e histórico que tenho com a empresa e com a família Bauducco. Mas vale lembrar que minha trajetória como CEO começou em 2002, na Hershey’s, onde liderei a operação no Brasil e no Cone Sul. Ao longo desses 23 anos, fui consolidando um perfil de liderança com forte base em marketing e comercial, o que sempre me deu segurança e clareza estratégica para comandar grandes negócios.

O papel de CEO mudou muito desde a primeira vez que ocupou essa cadeira?

Sim, o papel de um CEO evoluiu muito. Em 2002, a liderança era muito mais verticalizada, tanto na relação com os consumidores quanto com os funcionários.

A comunicação com o consumidor passava por poucos canais. Muitas vezes um comercial de TV bastava. Hoje, o relacionamento com o público exige escuta ativa, presença constante, autenticidade e valores sólidos. As marcas mais fortes não são apenas as mais conhecidas, mas as mais verdadeiras, coerentes e éticas. Construir confiança nunca foi tão desafiador e tão fascinante.

Isso vale para a relação com os funcionários. Antigamente, as estruturas eram mais autoritárias. Hoje, liderança é sobre engajamento. O líder atual tem uma responsabilidade imensa: a qualidade da experiência profissional de um funcionário depende, em grande parte, da forma como ele é liderado. Na minha visão, 90% —para não dizer 99% — da qualidade da nossa vida dentro do trabalho depende da atitude do líder. Então, isso nos dá uma enorme responsabilidade como líder de hoje e do futuro, de uma forma bem distinta do que era no passado. E essa é a beleza do momento em que vivemos: liderar hoje é, ao mesmo tempo, mais exigente e mais humano. E, para mim, muito mais interessante do que há duas décadas.

Qual foi sua decisão mais desafiadora como CEO da Bauducco?

É difícil classificar uma decisão como “a mais difícil”, mas posso dizer que algumas decisões foram especialmente relevantes por seu impacto estratégico no futuro da companhia. Como parte desse processo, tomamos uma decisão importante: reorganizar a estrutura da companhia em três unidades de negócios. Criamos a Business Unit Brasil, que segue sendo nosso motor principal e a base sólida para nossos investimentos futuros. Estruturamos também a Business Unit Internacional, com foco claro na expansão fora do país, especialmente nos Estados Unidos e América Latina, onde vemos grande potencial. E, por fim, a Business Unit D2C, que concentra nossos canais diretos ao consumidor, como a Casa Bauducco, as Bauducco® Lojas e o e-commerce.

Não considero essas decisões difíceis no sentido tradicional, mas certamente foram decisões de importante responsabilidade. Elas exigiram visão de longo prazo, escuta ativa e um alinhamento muito forte entre os nossos valores e o futuro que queremos construir.

Qual conselho você daria a quem quer ser líder?

Esse é o conselho que costumo dar também aos meus filhos: a liderança, antes de ser um cargo, é uma grande responsabilidade. Não se trata apenas de conduzir negócios, mas, sobretudo, de liderar pessoas. Isso exige sensibilidade, comprometimento e uma vocação genuína.

É preciso entender que liderar é servir, é inspirar, é criar condições para que o time cresça com você. A liderança verdadeira vem com muitos deveres, entre eles, o de contribuir para o desenvolvimento da equipe, criar um ambiente de confiança e garantir que os talentos tenham espaço para florescer.

É também um caminho exigente. Por trás da visibilidade que uma posição de liderança pode trazer, existe um volume imenso de trabalho, pressão, decisões difíceis e, principalmente, uma responsabilidade com o bem-estar e o futuro das pessoas. A liderança não deve ser vista como um objetivo final, mas como uma missão contínua.

Teve alguma frase marcante que influenciou sua carreira?

Sim, existe uma frase que me marcou profundamente e moldou toda a minha trajetória profissional — e até pessoal. Foi dita por Francesco Alberoni, um sociólogo italiano que publicava uma coluna no Corriere della Sera toda segunda-feira. Em uma delas, nos anos 1990, ele escreveu algo que parecia um manifesto para os jovens de talento. Dizia: 'Se você tem vontade de crescer, de realizar, de expandir seus horizontes, vá embora. Saia da sua zona de conforto. Deixe o seu país por alguns anos, viva uma experiência internacional. Conheça o mundo. O mundo do futuro pertence a quem souber enxergar além das fronteiras.'

Aquilo me impactou de forma tão intensa que, poucas semanas depois, procurei meu chefe na Barilla e pedi uma oportunidade internacional. E essa decisão mudou tudo. Desde então, nunca mais voltei a trabalhar na Itália. São mais de 30 anos de carreira internacional, morando em sete países, aprendendo com diferentes culturas e expandindo minha visão de mundo.

Esse conselho não transformou apenas a minha vida, mas também a da minha família. Meus filhos nasceram fora da Itália, cresceram em diversos países, falam quatro idiomas fluentemente e hoje seguem seus próprios caminhos internacionais.

Como você equilibra vida pessoal e carreira?

Minha vida é muito criativa. Amo cinema europeu e latino-americano e pratico esportes. Meus filhos seguiram caminhos internacionais e o tênis, especialmente, tem um papel central em nossa vida. Os momentos com a família me recarregam e são prioridade absoluta.

Leitura também é uma paixão. Leio desde romances de ficção até livros de gestão e liderança. Alguns desses livros me acompanham há anos, com ensinamentos que continuam relevantes no dia a dia dos negócios. Hoje, estou lendo Nexus, do Yuval Noah Harari. Um livro que nos obriga a refletir sobre o impacto e os riscos da inteligência artificial. É um texto denso, às vezes até inquietante, mas necessário para quem lidera com visão de futuro.

Quais os principais desafios para crescer no mercado internacional?

Um dos maiores desafios é compreender as particularidades — desde as preferências de consumo até aspectos regulatórios. Cada país tem seus próprios hábitos e expectativas em relação à alimentação.

Embora o Bauducco Wafer já seja líder de categoria em Nova York, Califórnia e Flórida, segundo a Nielsen 2024, e o Bauducco Panettone é líder da categoria nos Estados Unidos (apesar de a categoria ainda ser pequena no país), consolidar nossa atuação em novas categorias exige tempo, investimento e parcerias estratégicas. Um exemplo disso é o patrocínio oficial da Bauducco® em todas as corridas da runDisney, uma das maiores organizações de eventos esportivos nos EUA, desde o ano passado. Outro passo importante foi o patrocínio do ATP 1000 de tênis do Miami Open 2024, reforçando nossa visibilidade no cenário esportivo global.

Quais habilidades você busca nas lideranças da Bauducco?

Acredito que uma liderança forte é alicerçada em dois pilares fundamentais: consistência e mobilização. Um líder eficaz deve ser capaz de engajar e inspirar, conectando as pessoas à estratégia de forma clara e com propósito, garantindo que todos saibam o caminho a seguir.

A comunicação desempenha um papel crucial nesse processo. O que é importante precisa ser transmitido de forma constante e transparente. Um líder que comunica bem não só compartilha informações, mas também mobiliza e cria conexão, fazendo com que todos se sintam parte da jornada. Isso exige proximidade, escuta ativa e uma abertura constante para aprender.

O mundo está em constante transformação e a liderança precisa acompanhar essa evolução. Valorizamos profissionais com visão estratégica, capacidade de adaptação e curiosidade intelectual. São essas competências que asseguram decisões ágeis e sustentáveis, alinhadas tanto às necessidades atuais quanto ao futuro da empresa.

Sobre a Bauducco

A história da Bauducco começou em 1948 por Carlo Bauducco, um italiano que chegou ao Brasil trazendo uma fórmula de panetone. O primeiro forno foi montado em São Paulo, onde Carlo produzia panetones com fermentação natural — técnica que ainda hoje é mantida como um dos pilares da empresa. O produto conquistou o mercado brasileiro e global, com mais de 80 milhões de unidades de panetone produzidas globalmente. Com o tempo, a marca se expandiu para outras categorias, como wafers, bolos, torradas e biscoitos.​

Atualmente, a Bauducco emprega mais de 7 mil funcionários em suas operações no Brasil e 150 funcionários nos Estados Unidos, em uma unidade operacional em Miami, Flórida. No Brasil, a empresa possui cinco unidades fabris, sendo duas localizadas em Guarulhos (SP), uma em Extrema (MG), uma em Mogi das Cruzes (SP) e uma em Alagoas.

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