Carreira

Como pedir demissão do jeito certo

Entenda seus direitos, deveres e veja o passo a passo para encerrar o ciclo na empresa de forma profissional

A decisão de pedir demissão sem cumprir aviso prévio é possível, mas tem consequências financeiras importantes que precisam ser consideradas. (pcess609/Getty Images)

A decisão de pedir demissão sem cumprir aviso prévio é possível, mas tem consequências financeiras importantes que precisam ser consideradas. (pcess609/Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 18h11.

O mercado de trabalho brasileiro vive um momento de transformações. Uma pesquisa do LinkedIn mostrou que mais de 60% dos profissionais brasileiros consideram mudar de emprego em 2025, movimento impulsionado pela busca por melhores salários, qualidade de vida e propósito profissional. Diante disso, saber como pedir demissão da forma adequada se tornou uma habilidade crucial para quem deseja passar por mudanças de carreira.

Quais são os tipos de demissão?

Antes de tomar qualquer decisão, é fundamental entender que existem diferentes modalidades de desligamento, cada uma com suas particularidades e consequências para o trabalhador:

  • Pedido de demissão: quando o funcionário toma a iniciativa de deixar a empresa. Mantém direito ao saldo de salário, 13º proporcional, férias vencidas e proporcionais, mas perde o saque imediato do FGTS, a multa de 40% e o seguro-desemprego.
  • Rescisão indireta: funciona como uma justa causa ao contrário. Ocorre quando o empregador descumpre obrigações contratuais graves, como atrasar salários por mais de três meses, exigir serviços superiores às forças do trabalhador ou praticar atos lesivos à honra. O trabalhador pode pleitear na Justiça do Trabalho os mesmos direitos de quem foi demitido sem justa causa.
  • Acordo entre as partes: modalidade legalizada pela reforma trabalhista de 2017, permite que empresa e funcionário negociem condições intermediárias. O trabalhador recebe metade do aviso prévio, 20% da multa do FGTS, pode sacar até 80% do fundo de garantia, mas perde o direito ao seguro-desemprego.
  • Demissão sem justa causa: quando a empresa toma a iniciativa sem que haja falta grave do funcionário. O trabalhador mantém todos os direitos trabalhistas, incluindo aviso prévio, multa de 40% do FGTS, saque integral do fundo e seguro-desemprego.
  • Demissão por justa causa: motivada por condutas graves do empregado previstas na CLT, como abandono de emprego, embriaguez em serviço ou ato de improbidade. Resulta na perda da maioria dos benefícios rescisórios, recebendo apenas saldo de salário e férias vencidas com adicional.

Direitos e obrigações de quem pede demissão

Ao pedir demissão, o trabalhador mantém alguns direitos fundamentais, mas também assume obrigações específicas. Entre os valores a receber estão o saldo de salário proporcional aos dias trabalhados no mês, o décimo terceiro proporcional, as férias vencidas acrescidas de um terço e as férias proporcionais também com o adicional constitucional.

A principal obrigação do funcionário que decide sair é o cumprimento do aviso prévio, período de 30 dias estabelecido por lei para que a empresa possa se reorganizar e buscar um substituto. Durante esse período, diferentemente do que ocorre na demissão sem justa causa, o trabalhador deve manter a jornada integral, sem direito à redução de duas horas diárias ou aos sete dias corridos de dispensa.

Vale destacar que a empresa pode, a seu critério, dispensar o cumprimento do aviso prévio. Quando isso acontece, o funcionário é liberado imediatamente sem qualquer desconto em suas verbas rescisórias. Caso contrário, se o trabalhador decidir não cumprir o período, terá o valor correspondente descontado de sua rescisão.

Tenho direito ao FGTS e seguro-desemprego se pedir demissão?

Uma das dúvidas mais frequentes entre trabalhadores envolve o acesso ao Fundo de Garantia e ao seguro-desemprego após o pedido de demissão. A resposta requer atenção aos detalhes.

Sobre o FGTS, quem pede demissão não tem direito ao saque imediato do fundo, que permanece retido na conta vinculada. O valor só poderá ser sacado em situações específicas previstas em lei, como aposentadoria, compra da casa própria, doenças graves ou após três anos sem carteira assinada. Além disso, o trabalhador também perde a multa de 40% sobre o saldo do FGTS, benefício exclusivo de quem é demitido sem justa causa.

Em relação ao seguro-desemprego, a situação é ainda mais restritiva. Esse benefício foi criado especificamente para amparar trabalhadores que perderam o emprego involuntariamente e não possuem renda própria. Portanto, quem pede demissão não tem direito.

Posso não cumprir o aviso prévio?

A decisão de pedir demissão sem cumprir aviso prévio é possível, mas tem consequências financeiras importantes que precisam ser consideradas. Quando o trabalhador opta por sair imediatamente, sem trabalhar os 30 dias previstos, o valor correspondente ao período será descontado de suas verbas rescisórias.

Esse desconto pode representar um impacto importante no valor final a receber, especialmente para quem não tem uma reserva financeira ou outro emprego garantido. Por isso, sempre que possível, vale a pena negociar com a empresa. Muitas organizações, ao perceberem que o funcionário já está desmotivado ou tem urgência em assumir nova posição, preferem liberar o cumprimento do aviso.

Passo a passo para pedir demissão com profissionalismo

Avalie se quer mesmo sair da empresa

Antes de tomar qualquer atitude definitiva, faça uma análise criteriosa das suas motivações. Questione-se sobre os reais motivos da insatisfação. São problemas estruturais da empresa ou situações pontuais que podem ser resolvidas? A remuneração é o único fator ou existem questões de ambiente, crescimento e propósito envolvidas?

Liste prós e contras de forma objetiva, considerando não apenas o presente, mas também as perspectivas de médio e longo prazo. Conflitos com colegas ou frustrações momentâneas não devem ser os únicos motivadores. Às vezes, uma conversa franca com a liderança pode resolver questões que pareciam insuperáveis.

Organize-se financeiramente e profissionalmente

Planejamento financeiro é essencial antes de sair do emprego. Calcule quanto tempo você consegue se manter sem salário, considerando todas as despesas fixas e variáveis. Especialistas recomendam ter uma reserva de emergência equivalente a pelo menos seis meses de custos de vida.

Paralelamente, atualize seu currículo, perfil no LinkedIn e portfólio profissional. Comece a sondar o mercado, participando de processos seletivos e entendendo como está a demanda para o seu perfil. Essa preparação prévia reduz a ansiedade e aumenta suas chances de uma transição tranquila.

Converse primeiro com seu gestor direto

A comunicação da decisão deve seguir a hierarquia organizacional. Agende uma reunião privada com seu superior imediato antes de comentar com colegas. Prepare-se para uma conversa objetiva e profissional, sem rodeios ou desabafos emocionais.

Explique suas razões de forma clara, focando em aspectos profissionais e evitando críticas à empresa ou pessoas. Mantenha o tom respeitoso e agradeça pelas oportunidades. Esse momento define o tom de todo o processo de saída.

Avalie a contraproposta (mas não conte com ela)

Empresas frequentemente fazem contrapropostas para reter talentos. Podem oferecer aumento salarial, promoção, mudança de área ou benefícios adicionais. Ouça com atenção e peça tempo para avaliar, mesmo que sua decisão já esteja tomada.

Contudo, aceitar uma contraproposta raramente resolve problemas estruturais, e muitos acabam optando por deixar a empresa pouco tempo depois. Se decidir recusar, seja delicado e reforce que sua decisão não é apenas financeira, mas parte de um plano de carreira.

Planeje as entregas e transição de funções

Demonstre comprometimento até o último dia organizando suas pendências. Elabore um documento detalhado com status de projetos, senhas necessárias, contatos importantes e procedimentos críticos. Essa atitude profissional fortalece sua reputação.

Mesmo após sua saída oficial, coloque-se à disposição para esclarecer dúvidas pontuais por e-mail ou telefone. Esse cuidado com a transição é valorizado e mantém portas abertas.

Negocie início com o novo empregador

Se já tem uma nova oportunidade, seja transparente sobre seus prazos. Explique que precisa cumprir o período de transição na empresa atual e negocie uma data de início que respeite esse compromisso.

Empregadores valorizam profissionais que demonstram responsabilidade e ética. Sua postura durante a transição será um indicativo de como você agirá na nova empresa, então, use isso a seu favor.

Faça o pedido ao RH

Após alinhar com sua liderança, formalize o pedido junto ao departamento de Recursos Humanos. Será necessário redigir uma carta de demissão, documento que oficializa sua intenção de deixar a empresa.

O texto deve ser conciso e objetivo, contendo seu nome completo, cargo, data de admissão e a informação sobre cumprimento ou dispensa do aviso prévio. Evite justificativas detalhadas ou críticas e mantenha o tom profissional e cordial.

Participe da entrevista de desligamento com objetividade

Muitas empresas realizam entrevistas de desligamento para entender os motivos da saída e identificar oportunidades de melhoria. Seja honesto, mas diplomático. Foque em fatos e evite ataques pessoais ou desabafos.

Compartilhe um feedback construtivo sobre processos, estrutura e oportunidades de desenvolvimento. Lembre-se de que suas palavras podem impactar pessoas que continuarão na empresa.

Mantenha as portas abertas

O mercado de trabalho brasileiro é menor do que parece. Profissionais mudam de empresa, mas continuam no mesmo setor, encontrando-se em eventos, projetos e até em futuras oportunidades de trabalho.

Agradeça formalmente através de e-mail ou carta aos gestores e colegas próximos, mantenha conexões no LinkedIn e cultive relacionamentos profissionais. Você nunca sabe quando caminhos podem se cruzar novamente.

Prepare-se para possíveis reações negativas

Nem sempre a notícia será bem recebida. Alguns gestores podem reagir com hostilidade, tentativas de persuasão agressiva ou mesmo retaliações veladas. Mantenha a calma e o profissionalismo em qualquer cenário.

Se enfrentar situações constrangedoras ou abusivas, documente tudo e procure o RH. Em casos extremos, consulte um advogado trabalhista, e tenha em mente que sua integridade e bem-estar devem ser preservados durante todo o processo.

Modelo de carta de demissão

O modelo de carta de demissão deve ser simples e objetivo, evitando justificativas longas ou críticas. Um exemplo adequado seria:

"À [Nome da Empresa]

Venho, através desta, comunicar a decisão de me desligar do cargo de [cargo] que ocupo nesta empresa desde [data de admissão].

Cumprirei o aviso prévio de 30 dias conforme legislação vigente, permanecendo à disposição para garantir uma transição tranquila das minhas atividades.

Agradeço pelas oportunidades de aprendizado e crescimento profissional proporcionadas durante este período.
[Cidade], [data]
[Assinatura]
[Nome completo]"

Sair do emprego preservando relacionamentos e reputação exige maturidade e planejamento. Cada etapa, desde a reflexão inicial até a entrevista de desligamento, impacta diretamente as oportunidades futuras. Por isso, mesmo diante de ambientes tóxicos ou propostas irrecusáveis, o profissionalismo deve prevalecer. Afinal, o mercado tem memória, e uma saída elegante hoje pode significar uma porta aberta amanhã.

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