IA: recurso já é usado por empresas na Europa (Weiquan Lin/Getty Images)
Pesquisador, consultor e palestrante sobre a vida organizacional
Publicado em 21 de setembro de 2025 às 14h30.
Quase todas as empresas já usam Inteligência Artificial. Poucas conseguem ganhar dinheiro com ela.
Essa é a contradição que os relatórios mais recentes da IBM (CEO Study 2025), Boston Consulting Group (Where’s the Value in AI?), Microsoft (Work Trend Index 2025) e Stanford (AI Index 2025) revelam de forma contundente. A IA deixou de ser promessa futura para se tornar onipresente no presente. O problema é que ubiquidade não significa consistência — e muito menos valor sustentável.
Hoje, a IA funciona em muitas empresas como um motor de Fórmula 1 colocado em carros sem gasolina: poderoso no potencial, mas incapaz de gerar movimento real. O desafio para CEOs e diretores não é mais adotar a tecnologia, mas transformá-la em vantagem competitiva tangível.
A difusão é massiva. O AI Index 2025 mostra que 78% das organizações globais já utilizam IA; a BCG aponta que 98% a testam. Mas só 26% avançam além de pilotos, e apenas 4% estão na vanguarda. A IBM revela que 64% dos CEOs assumem mais riscos que os concorrentes — embora apenas 25% das iniciativas tenham alcançado o Retorno sobre o Investimento (ROI) esperado.
Estar em todos os lugares não basta. Sem consistência estrutural, a expansão se dispersa.
As empresas que conseguiram escalar estão em outro patamar: 50% mais crescimento de receita e 60% mais retorno ao acionista. Já a maioria ainda limita a IA a funções periféricas, desperdiçando sua força de reorganizar processos centrais.
O gargalo está em dados e pessoas. Metade dos CEOs admite operar com infraestrutura fragmentada, e 68% reconhecem a urgência de integrar dados. Ao mesmo tempo, 80% dos trabalhadores relatam não ter energia para absorver novas ferramentas. A resistência, portanto, não é só técnica; é também emocional e coletiva.
As prioridades diferem. A IBM fala em cinco mudanças de mentalidade: coragem para arriscar, destruição criativa, integração de dados, foco em ROI e parcerias estratégicas. Já a BCG identifica seis fatores que distinguem líderes: foco em processos-core, ambição agressiva, concentração em poucas iniciativas, integração para cortar custos e gerar receita, prioridade a pessoas e rápida adoção da IA generativa.
Em síntese: os líderes investem e escalam o dobro. Essa diferença não é só técnica — é estratégica e política. Transformar implica mexer em pactos institucionais, algo que nem todas as empresas aceitam.
O Work Trend Index 2025 acrescenta a dimensão humana: 82% dos líderes confiam que agentes digitais ampliarão a capacidade de suas equipes, mas oito em cada dez trabalhadores dizem não ter tempo ou energia para acompanhar. Quanto mais fluido o ambiente, mais incerto o futuro — e maior a ansiedade coletiva.
O AI Index 2025 fecha com um aviso: a corrida global pela IA acelera, mas a pressão por governança e ética cresce no mesmo ritmo. Governança não é detalhe técnico, é pilar de legitimidade.
A alta adoção contrasta com o baixo valor entregue. A lição é clara: não adianta acumular pilotos e provas de conceito (Proof of Concept – POC). O caminho é escolher poucas iniciativas de alto impacto, integrá-las aos processos centrais e medir o Retorno sobre o Investimento (ROI) desde o início. Sem consistência estrutural, a expansão se dilui e a empresa se perde em dispersão.
Dados são o novo capital estratégico
Sem uma arquitetura unificada, a Inteligência Artificial (IA) é um carro sem combustível. Dados de qualidade, governança sólida e exploração de ativos proprietários são hoje tão críticos quanto capital financeiro. Mais do que tecnologia, trata-se de política interna: controlar dados é também controlar poder.
Talento e energia: a verdadeira fronteira da produtividade
A Inteligência Artificial não substitui pessoas, complementa. Mas sem requalificação, redesenho de processos e combate à sobrecarga, a promessa da tecnologia se transforma em frustração. Resistências invisíveis — emocionais e coletivas — podem travar a mudança. Além disso, a ansiedade de “não dar conta” corrói o engajamento. Liderar a era da Inteligência Artificial significa liberar tempo, qualificar equipes e cuidar do clima simbólico do trabalho.
Coragem com responsabilidade: ousar sem cair na euforia passageira
O sucesso exige assumir riscos, mas riscos calculados. Avançar implica aceitar a imperfeição, testar rápido e ajustar constantemente. A coragem genuína nasce da consciência da incerteza, não da euforia. Sem legitimidade interna e foco em Retorno sobre o Investimento (ROI) tangível, ousadia vira apenas mais uma onda de modismo.
Ecossistemas: alianças que aceleram e redefinem poder
Ninguém vence sozinho. Um terço da força de trabalho precisará de recapacitação, e novas funções ligadas à Inteligência Artificial já surgem em ritmo acelerado. Parcerias estratégicas aceleram a jornada, mas também mexem nos pactos internos: cada aliança redistribui poder e identidade. O desafio é orquestrar múltiplos atores em rede, sem diluir o DNA da empresa. Escolher parceiros é, em última instância, escolher quem terá voz no futuro do negócio.
A mensagem das pesquisas é direta: a Inteligência Artificial já está em toda parte, mas só cria valor real nas empresas que alinham dados sólidos, equipes capacitadas e liderança corajosa.
A questão não é se usar IA, mas como transformá-la em vantagem competitiva legítima. Os líderes que responderem com clareza e consistência não apenas acompanharão a onda, mas definirão o rumo da próxima década.
Em 2025, o futuro não será dos que adotam a IA, mas dos que sabem transformá-la em poder competitivo real.