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"Nosso sonho é ver a mulher marroquina ser protagonista do seu destino", diz líder da UNFM

Sanaa Kandoussi, representante da União Nacional das Mulheres do Marrocos, fala sobre os desafios enfrentados por mulheres no país e as ações de apoio a direitos como educação, inclusão social e empreendedorismo.

Sanaa Kandoussi, presidente da União Nacional das Mulheres do Marrocos: “A legislação marroquina garante igualdade de direitos, como estudar e fazer uma faculdade, mas há barreiras sociais e culturais que ainda precisamos romper” (DWS Brasil /Divulgação)

Sanaa Kandoussi, presidente da União Nacional das Mulheres do Marrocos: “A legislação marroquina garante igualdade de direitos, como estudar e fazer uma faculdade, mas há barreiras sociais e culturais que ainda precisamos romper” (DWS Brasil /Divulgação)

Publicado em 25 de maio de 2025 às 10h08.

Última atualização em 25 de maio de 2025 às 11h14.

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Errachidia, Marrocos - Sabra (صبر), uma palavra árabe que significa “paciência” ou “resiliência”. Palavra que resume a vida de muitas mulheres marroquinas que buscam hoje por direitos sociais, como poder casar após os 18 anos ou escolher uma carreira profissional. Essa resiliência é promovida em muitas ações da União Nacional das Mulheres do Marrocos (UNFM), organização voluntária marroquina que busca levar as mulheres a outro patamar na sociedade.

“Nosso sonho é ver cada mulher ser protagonista do seu destino”, afirma Sanaa Kandoussi, presidente da associação credenciada pela União Nacional das Mulheres do Marrocos (UNFM) na região de Drâa-Tafilalet.

Em entrevista exclusiva à EXAME, durante o evento ‘Desert Women Summit Brasil’, em Errachidia, Marrocos, Kandoussi resume o propósito que tem guiado sua trajetória.

Em uma das regiões mais desafiadoras do país, ela lidera projetos de formação, acolhimento psicológico e apoio ao empreendedorismo voltados para mulheres em situação de vulnerabilidade.

Maktub: o propósito com as mulheres já estava escrito

Natural de Errachidia e mãe de dois filhos, Sanaa conclui a faculdade de Letras e Ciências Humanas antes de obter um diploma em Gestão e Administração. Esses conhecimentos foram a base de seu envolvimento associativo e comunitário.

A trajetória de impacto social começou em 2000 na cooperativa de tecelagem Hayk El-Mdaghri, a primeira criada por mulheres na cidade. Foi ali, entre fios e tapetes tradicionais, que ela descobriu sua vocação.

“A tecelagem me ensinou mais do que um ofício. Me mostrou a força das mulheres e o quanto ainda havia para ser feito”, afirma.

Hoje, à frente da associação de tecelagem fundada por sua mãe, e oficialmente credenciada pela UNFM, ela comanda uma equipe multidisciplinar com seis funcionárias, especialistas e uma rede de voluntárias locais.

A sede da organização fica na comuna de Chorfa El-Mdaghra, em Errachidia, mas o impacto alcança toda a região de Drâa-Tafilalet (uma das 12 regiões do Marrocos).

Os direitos femininos que estão sendo buscados

Garantir que as mulheres marroquinas tenham acesso à educação, ao trabalho e ao empreendedorismo, segundo Kandoussi, é a chave para transformar comunidades inteiras. “A emancipação feminina é o motor do desenvolvimento territorial”, diz.

Um dos trabalhos da associação de Kandoussi é orientar famílias a casarem suas filhas após os 18 anos. “Levamos essa conscientização à família para a proteção de muitas meninas”, diz.

Esse é um dos movimentos que Kandoussi realiza por meio da associação criada em 2000. Desde então, o projeto social celebra alguns ganhos, como:

  • Formação profissional de mais de 350 mulheres por ano nas áreas de costura, bordado, agricultura e agroalimentação, distribuídas em seis centros;
  • Apoio psicológico e jurídico para mais de 200 mulheres vítimas de violência, por meio de núcleos de escuta implantados nos últimos dois anos;
  • Mais de 40 campanhas de conscientização sobre violência de gênero e direitos das mulheres em comunidades rurais e periurbanas;
  • Alfabetização funcional com foco em direitos civis, administração e finanças pessoais;
  • Acompanhamento de mais de 80 negócios liderados por mulheres, conectando-as a redes de financiamento e comercialização;
  • Oficinas de inclusão digital, cidadania e participação cívica.

Esses são grandes avanços em uma sociedade em que a mulher enfrenta diversas barreiras. Segundo dados públicos, 60% das mulheres marroquinas são analfabetas, sendo que 70% desse total vive em zonas rurais. A vulnerabilidade social também se reflete em outros números alarmantes: todos os dias, 24 bebês são abandonados no país. Além disso, cerca de 60% das mulheres afirmam ter sofrido algum tipo de abuso sexual — mas apenas 10% chegam a denunciar.

“A legislação marroquina garante igualdade de direitos, como estudar e fazer uma faculdade, mas há barreiras sociais e culturais que ainda precisamos romper, principalmente nas áreas rurais,” afirma Kandoussi.

A origem da UNFM e a nova aposta

Criada em 1969, a UNFM tem como missão defender os direitos das mulheres e promover sua inclusão econômica, social e cultural. Atualmente, é presidida pela Alteza Real, a princesa Lalla Meryem, e conta com apoio de instituições públicas, privadas e internacionais.

Kandoussi lidera uma das associações credenciada pela UNFM e representa a instituição em diferentes eventos dentro e fora do Marrocos – e já compartilha um grande sonho para os próximos anos: criar um centro integrado de empoderamento feminino em Errachidia.

“Queremos oferecer, em um só lugar, formação profissional, atendimento psicológico, escuta ativa e incubação de projetos. Com isso, poderemos alcançar ainda mais mulheres, mesmo nas zonas mais remotas,” afirma.

Com uma equipe formada por economistas, educadoras e juristas - todas com formação universitária no Marrocos ou no exterior -, a UNFM da região busca expandir suas ações com o uso de ferramentas digitais.

“Digitalizar nossos serviços é essencial para ampliar o acesso. A transformação começa quando uma mulher entende seu valor e descobre que pode escrever a própria história.”

*A jornalista foi convidada para cobrir o evento ‘Desert Women Summit Brasil’, em Errachidia, Marrocos. 

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