Carreira

Os desafios e os avanços da diversidade racial nas empresas brasileiras

Empresas começam a recrutar mais pretos e pardos, mas eles ainda participam pouco dos cargos de liderança e dos programas de desenvolvimento de carreira

Diversidade racial: empresas ainda não refletem a sociedade brasileira  (Westend61/Getty Images)

Diversidade racial: empresas ainda não refletem a sociedade brasileira (Westend61/Getty Images)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 2 de julho de 2020 às 10h59.

Última atualização em 2 de julho de 2020 às 11h26.

A diversidade étnico-racial nas companhias brasileiras ainda é um desafio. Apesar de 56% da população do país se autodeclarar preta ou parda, apenas 6,3% dos cargos de gerência e 4,7% dos cargos executivos são ocupados por negros. A situação das mulheres negras é ainda mais desfavorável, pois elas ocupam apenas 1,6% dos cargos de gerência, segundo dados das 500 maiores companhias do país. 

Em multinacionais, os executivos percebem que funcionários de outros países tem dificuldade de entender o cenário brasileiro. "A maior dificuldade que tenho é de convencer os americanos que no Brasil há muito racismo mesmo sendo nós pretos 56% enquanto nos Estados Unidos são 13%", diz Gilberto Costa, responsável da área de operações e líder do grupo de raça do J.P Morgan. 

Para Barbara Galvão, chefe de diversidade e inclusão na Uber, as empresas precisam respeitam os regionalismos e avançar de acordo com a cultura de cada local. Além disso, os resultados só são possíveis quando a diversidade é entendida como uma agenda do negócio, e não um tema extra. "Toda decisão é de diversidade e vai impactar pessoas", afirma. 

As companhias, muitas vezes, procuram especialistas e consultorias para definir metas de desenvolvimento e inclusão de pessoas. Mas, para isso, é preciso também ter o apoio da liderança e estimular a quebra de viéses inconscientes. Na brasileira Braskem, 620 líderes foram capacitados em diversidade desde 2017.

"Muitas vezes para contratar uma consultoria especializada é preciso o apoio de outras camadas da instituição para bancar o programa, por isso a importância da sensibilização dos cargos de liderança", diz Nina Silva, fundadora do Movimento Black Money.

Tanto na J.P Morgan, como na Braskem, uma parceira é a Faculdade Zumbi dos Palmares. A partir disto, e de outras metodologias, 46% dos inscritos no último programa de estágio da Braskem são negros. Na J.P são eles 25% dos contratados como estagiários.

"Percebemos que precisávamos mudar os processos de recrutamento e criar um ambiente em inclusivo para que os candidatos permanecem depois da entrada", diz Marcelo Arantes de Carvalho, vice-presidente de pessoas, comunicação, marketing e sustentabilidade na Braskem.

É unanimidade entre os executivos a necessidade de continuar atraindo jovens talentos, mas também ampliar a presença de pretos e pardos em cargos de liderança. Segundo um estudo da consultoria McKinsey, companhias com diversidade étnico-racial nestes cargos são em média 36% mais lucrativas. Mas, na segunda edição do Guia EXAME de Diversidade, apenas 17% afirmam que funcionários negros participaram dos programas de desenvolvimento de carreira. Somente quando isto mudar as empresas serão de fato mais diversas, inovadoras e competitivas.

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