Carreira

Os próximos passos da Corello: com 60 anos de mercado, marca mira expansão apenas com lojas próprias

Conhecida por sapatos e bolsas de couro, a companhia dobrou de faturamento, chega a 27 lojas próprias e agora segue com a 3ª e 4ª geração na direção do negócio

Carla Silvarolli, presidente da Corello: “Meu pai sempre me dizia: ‘olhe para frente sem esquecer o que nos trouxe até aqui’” (Corello/Divulgação)

Carla Silvarolli, presidente da Corello: “Meu pai sempre me dizia: ‘olhe para frente sem esquecer o que nos trouxe até aqui’” (Corello/Divulgação)

Publicado em 13 de julho de 2025 às 07h57.

Tudo sobreCEOs
Saiba mais

Em 1964 uma pequena loja na Rua do Arouche, no centro de São Paulo, foi aberta por um imigrante italiano chamado Antonio Silvarolli, aos 56 anos. Apaixonado por calçados de couro, ele decidiu inovar no mercado paulista: em uma mesma loja, ele passou a vender sapatos e pastas de couro que combinassem. Foi assim que surgiu a marca de calçados e bolsas Corello.

“Naquela época era comum ter uma loja para sapato e outra para bolsas. Meu avô, então, decidiu unir os dois negócios”, afirma Carla Silvarolli, presidente da 3ª geração da Corello.

A empresa nasceu antes mesmo de Carla. Sua mãe estava grávida quando o seu pai, formado em Direito, decidiu ajudar o seu avô com a loja. O objetivo de empreender da primeira e da segunda geração era simples: a sobrevivência.

Como a primeira presidente mulher da Corello, Carla diz que é mais do que uma honra, mas um compromisso com o legado da família.

"Ao longo de 60 anos, a Corello foi construída por muitas mãos e corações, e hoje, estar à frente dessa história sendo mulher é também uma forma de abrir caminhos. Caminhos para novas lideranças femininas, para uma gestão mais empática, e para decisões que unem intuição, estratégia e coragem", afirma a presidente que hoje tem 63 anos de vida e mais de 4 décadas na companhia.

A primeira loja tem o funcionário mais antigo

A primeira loja da Corello segue aberta, no mesmo endereço, e tem o funcionário mais antigo da companhia - o senhor Antonio Seganfredo Neto, o “Toninho”, que é gerente da loja do Arouche há 55 anos.

“O centro de São Paulo era muito diferente do que vemos hoje. Ele era muito movimentado e valorizado. A demanda nas lojas era tão grande que a Corello chegou a ter duas unidades lado a lado no Arouche e duas lojas uma em frente à outra na Augusta, porque uma só não dava conta de atender os clientes”, conta a presidente da marca desde 2020.

De lá para cá, a empresa cresceu de forma sustentável e chegou em 2024 com 27 lojas próprias e 500 funcionários. O próximo passo é continuar apostando em mais pontos - sem pensar em franquias.

Escolhas conscientes: crescimento com propósito

A Corello poderia ter virado franquia, como tantas outras marcas nos anos 1990, quando a 'febre das redes' começou no Brasil, mas a família optou por seguir outro caminho.

“Sempre acreditamos que, para manter a qualidade e a experiência do cliente, precisava manter o controle total da operação”, afirma a presidente.

Isso também significou crescer num ritmo mais lento. Até 2019, a empresa contava com 18 lojas. De lá para cá, foram inauguradas mais nove — mesmo com a pandemia no caminho.

“Entre 2020 e 2022, foi o nosso maior desafio. As lojas ficaram fechadas, e tivemos uma queda de até 70% no faturamento”, diz Felipe Silvarolli, que divide a direção da marca com a sua mãe Carla, como CEO da Corello.

“Basicamente, ela (como presidente) fala o que ela quer e eu faço acontecer (como CEO),” diz o CEO.

Família Corello na direção: Felipe Silvarolli, CEO da Corello, Carla Silvarolli, presidente da Corello, e Gabriele Silvarolli, diretora de marketing da Corello (Corello/Divulgação)

O canal digital ajudou a segurar as pontas. Com a implementação do sistema de ‘prateleira infinita’, a empresa conseguiu usar o estoque das lojas para atender pedidos online em todo o país.

Com resiliência e estratégia, a marca dobrou de faturamento nos últimos três anos, afirma Felipe, e projeta crescer pelo menos 15% ao ano, mantendo o modelo de lojas próprias. “Considerando hoje o nosso faturamento, o e-commerce já representa cerca de 30%”, diz Felipe.

Para o segundo semestre de 2025, estão previstas a abertura de mais três unidades, todas no Sudeste e Centro-Oeste (regiões onde a marca já atua).

Sustentabilidade e impacto social como DNA

Mais do que moda, a Corello quer ser exemplo de responsabilidade. A empresa trabalha com couro natural, subproduto da indústria alimentícia, e defende que essa escolha é mais sustentável do que materiais sintéticos, como o PU, derivados do petróleo e de difícil decomposição.

“O couro que usamos é biodegradável, de fornecedores confiáveis e certificados. Ao utilizá-lo, damos um destino nobre para algo que seria descartado”, afirma Carla.

A preocupação vai além da matéria-prima. Parte da produção é feita via upcycling, dentro de um projeto social voltado para a capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade. Algumas peças são confeccionadas dentro de presídios por mulheres que recebem formação profissional e uma remuneração.

"Parte do salário é depositado em um fundo acessado ao fim da pena, para que possam recomeçar suas vidas com dignidade", diz a presidente.

Sucessão planejada e futuro promissor

Desde 2019, quando Carla comprou a parte dos irmãos e assumiu a presidência, época em que a empresa passou por uma transição cuidadosa. “A sucessão foi pensada. Cada um seguiu seu caminho, mas eu quis continuar. Sempre estive próxima do meu pai, que sempre e dizia: ‘olhe para frente sem esquecer o que nos trouxe até aqui’”, diz ela, emocionada ao lembrar do pai, falecido há três anos.

Essa filosofia foi herdada também por Felipe. “Nosso papel é alinhar propósitos. Lideramos pessoas, não processos, porque ninguém faz nada sozinho”, diz o CEO, que também acredita que a sustentabilidade da empresa está no equilíbrio entre legado e inovação.

Embora internacionalizar a marca pode um dia fazer parte do plano do negócio, a prioridade é seguir crescendo no Brasil.

“O país ainda oferece muitas oportunidades e queremos continuar inovando, sem esquecer o nosso DNA”, diz Carla que vê no filho o mesmo pensamento.

“Mais do que abrir lojas, queremos garantir que cada ponto de contato com a marca preserve a experiência que construímos em 60 anos. No final, cada passo precisa fazer sentido”, diz Felipe.

Acompanhe tudo sobre:CEOsMulheres executivasEmpreendedorismo

Mais de Carreira

A era dos ‘superprofissionais’: as empresas elevam exigências, mas não os salários

Lista revela os 10 cursos universitários mais valiosos — um pode ter salário de 6 dígitos

'Profissional mais afetado pela IA será aquele com diploma que pensava estar seguro', diz CEO

A vaga mais cobiçada do mercado: quem é o profissional que fatura até R$ 35 mil