Geoffrey Hinton, professor de ciência da computação na Universidade de Toronto e ex-Google: "Você teria que ser muito qualificado para ter um emprego que a IA simplesmente não poderia fazer" (Ramsey Cardy / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 19 de junho de 2025 às 07h59.
A transformação do mercado de trabalho, impulsionada pela inteligência artificial (IA), vem gerando debates intensos sobre o futuro das profissões. O canadense Geoffrey Hinton, um dos pioneiros das redes neurais e laureado com o Prêmio Nobel de Física de 2024, emitiu um alerta sobre a iminente substituição de diversos empregos pela IA, principalmente nas áreas de “colarinho branco”, que seriam trabalhadores que ocupam funções em ambientes de escritório como paralegais e trabalhadores de call centers. Em entrevista ao podcast Diary of a CEO, Hinton previu que, para muitas funções intelectuais, a automação será inevitável.
"Você teria que ser muito qualificado para ter um emprego que a IA simplesmente não poderia fazer," afirmou Hilton.
Como professor emérito de ciência da computação na Universidade de Toronto e ex-funcionário do Google especialista em IA, Hilton é conhecido hoje como o "Padrinho da IA", e para ele, a automação desses postos de trabalho pode reduzir drasticamente o número de empregos disponíveis.
"Isso significa que uma pessoa fará o trabalho de dez pessoas”, disse o cientista.
Em sua análise, ele se mostrou particularmente preocupado com os jovens entrando no mercado de trabalho, afirmando que se assustaria de trabalhar em um call center hoje. No entanto, o especialista em IA fez uma distinção importante: as profissões que envolvem trabalho físico, como profissionais da saúde, devem ser mais resilientes à automação - pelo menos por enquanto.
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Apesar das preocupações, o impacto da IA não é necessariamente negativo para todos os setores. Em um estudo recente do Fórum Econômico Mundial, estimou-se que 170 milhões de novos empregos poderão ser criados e 92 milhões extintos até 2030.
“É a primeira vez em anos que o relatório indica uma estimativa líquida positiva de 78 milhões de novos postos de trabalho até 2030”, afirma Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul Escola de Negócios (que agora faz parte da EXAME).
Entre as profissões avaliadas no estudo, Mussa, que analisa o estudo do Fórum Econômico Mundial há anos, afirma que há um "miolo" de empregos que permanece ativo, mas que enfrenta transformações significativas nas competências exigidas.
“Cargos como gerente financeiro ou analista de marketing continuam a existir, mas demandam habilidades completamente diferentes devido à adoção de novas tecnologias”, conta.
Quando o recorte é Brasil, o relatório global mostra uma grande similaridade com o cenário global, incluindo a necessidade de requalificação (reskilling) em cerca de 39% das competências.
O reskilling é uma realidade crescente, e a Geração Z, que ingressa agora no mercado de trabalho, se depara com o desafio de equilibrar sua adaptabilidade com a constante evolução tecnológica. Um relatório da Hult International Business School revelou que 37% dos gestores preferem investir em IA em vez de contratar recém-formados, justamente pela busca por soluções mais práticas e escaláveis. Além disso, um estudo da Deloitte aponta que 62% dos jovens dessa geração temem ser substituídos por IA nos próximos anos.
Esse cenário coloca a Geração Z em uma posição desafiadora. Embora sua fluência tecnológica seja vista como uma vantagem, ela também enfrenta dificuldades em ser gerida, com 74% dos gestores afirmando que essa geração é mais difícil de administrar em comparação com as anteriores, segundo estudo da ResumeBuilder de 2023.
Apesar desses desafios no mercado de trabalho, para Bruno Medeiros Durão, advogado e empresário, o investimento em jovens talentos pode ser um trunfo para o futuro das empresas.
"A Geração Z traz uma perspectiva única, com fluência tecnológica e adaptabilidade que são essenciais em um mercado em constante transformação", afirma Durão, que reforça que, com o treinamento adequado, esses profissionais podem superar as lacunas de experiência e se tornar ativos valiosos.
No Brasil, empresas como as Lojas Renner, Gerdau e Vivo estão se destacando na aplicação da IA para otimizar suas operações e aprimorar as competências de seus funcionários – ao invés de substituí-los.
A Renner, por exemplo, utiliza IA para movimentações internas de talentos, como job rotations e identificações de potenciais projetos. "Investimos em um banco de talentos interno antes de buscar contratações externas, reforçando a cultura de valorização dos profissionais", afirma Regina Durante, diretora de gente e sustentabilidade das Lojas Renner.
A Vivo também vem digitalizando processos desde antes da pandemia e foi uma das primeiras a adotar inteligência artificial no recrutamento.
“Hoje com a IA identificamos rapidamente o fit cultural e aceleramos as contratações com base em dados”, afirma Fernando Luciano, VP de RH da Vivo.
Já a Gerdau, que vem investindo fortemente em formação de cientistas de dados, criou em 2023 a G.Data, uma escola interna para capacitar seus funcionários. Até hoje, mais de 150 profissionais já foram treinados, com o objetivo de aumentar a eficiência operacional e melhorar a segurança no ambiente de trabalho, por meio do uso de tecnologias como "gêmeos digitais".
"Transformação digital não é modismo para nós, é questão de sobrevivência", afirma Gustavo Werneck, afirma o CEO da Gerdau.