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Transformation Talks: evento reúne especialistas para discutir IA, carreira e desafios da economia

Em sua segunda edição, evento realizado pela Robert Half e It'sSeg repercute o futuro do trabalho, inteligência emocional e os rumos e desafios do mercado global

Leandro Karnal foi um dos palestrantes do Transformation Talks 2.0: “Ainda há quem admire o chefe autoritário, porque ele entrega resultado, mas isso não se sustenta a longo prazo” (Risnic Fotografia/Divulgação)

Leandro Karnal foi um dos palestrantes do Transformation Talks 2.0: “Ainda há quem admire o chefe autoritário, porque ele entrega resultado, mas isso não se sustenta a longo prazo” (Risnic Fotografia/Divulgação)

Publicado em 13 de maio de 2025 às 15h58.

Última atualização em 13 de maio de 2025 às 15h58.

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O que esperar da economia global? Quais são as novas estratégias do mercado de trabalho?

Essas foram algumas das questões que fizeram executivos, economistas e líderes de RH refletirem ao participar do Transformation Talks 2.0. O evento, realizado pela Robert Half e pela It’sSeg, nesta terça-feira, 13, reuniu, em sua segunda edição, mais de 400 pessoas em São Paulo.

Na ocasião, dois painéis foram realizados: Pedro Renault, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, falou sobre as tendências econômicas, análise de mercado e perspectivas que impactam decisões estratégicas de negócios. Logo depois Leandro Karnal, historiador, escritor best-seller e membro da Academia Paulista de Letras, falou sobre a estratégia de um novo tempo no mercado de trabalho.

A EXAME fez a cobertura exclusiva do evento. Veja um pouco do que os palestrantes repercutiram em cada painel.

Guerra comercial entre EUA x China – como fica o Brasil?

Ao abordar as tensões comerciais entre China e Estados Unidos, Renault afirma. “O mundo caminha para um cenário de incerteza prolongada e que, mesmo com trégua nas tarifas, a tendência é de volatilidade como nova constante.”

O Brasil, segundo Renault, apesar dos desafios domésticos como a credibilidade do arcabouço fiscal e os juros ainda elevados, pode se beneficiar pontualmente da guerra comercial, especialmente no setor agro.

“A soja brasileira, por exemplo, já tem maior demanda chinesa, mas esse ganho pode ser revertido, se houver acordo entre as potências”, afirma.

Outros setores, como o da construção civil, também podem ganhar com insumos chineses mais baratos. Já a indústria automotiva, que compete diretamente com os produtos chineses, tende a sofrer. “Vai ter pressão de margens. O impacto é mais setorial do que agregado.”

Em relação a investimentos externos, o Brasil está posicionado de forma estratégica, segundo o superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco. “Somos vistos como um país geopoliticamente neutro, com vocação verde e posição geográfica favorável para negociar com a Europa e a América do Norte.”

Mas ele faz um alerta contra expectativas exageradas. “A ideia de que vamos atrair produção só porque nossa tarifa é menor não se sustenta. Se começarmos a exportar mais para os EUA, o déficit vira superávit — e a tarifa sobe.”

Mesmo com a guerra comercial, o dólar continua sendo o principal meio de transação mundial, segundo Renault, mas já não é “inquestionável”. Segundo ele, o euro se valorizou após o choque comercial, e o uso do yuan (moeda chinesa) deve aumentar.

“Estamos num mundo mais descentralizado em pagamentos. O Brasil, inclusive, estuda com a China um acordo de swap cambial para facilitar transações diretas entre real e yuan — sem necessidade de dólar como intermediário”, diz. “Estamos diante de um novo mundo, mais descentralizado, mais volátil — e com menos certezas”.

Thomaz Menezes, co-fundador e CEOda It´sSEG; Pedro Renault, do Itaú Unibanco; Marcia Monteiro, jornalista; Leandro Karnal, historiador, escritor best-seller e comunicador; e Fernando Mantovani, Diretor-geral da Robert Half para América do Sul (Risnic Fotografia/Divulgação)

“A liderança não pode ser passional”

Se Renault trouxe a macroeconomia para o palco, Leandro Karnal provocou reflexões sobre a liderança emocional e a maturidade nas relações corporativas. “Quanto mais alto você sobe numa empresa, menos direito tem de ser passional. Isso porque o custo do poder é a solidão — e o equilíbrio”, diz o professor.

Ao abordar temas como pertencimento, aprendizado contínuo e diversidade de pensamento, Karnal apontou que a inteligência emocional deve ser exercitada como ferramenta de liderança. “Você contrata pelo currículo, mas demite pelo comportamento”, diz.

Para ele, na era da inteligência artificial, o que ainda nos torna humanos passa por um conjunto de valores fundamentais: ética, escuta ativa, educação permanente e saúde mental.

“Ambientes tóxicos terão um custo mental altíssimo”, afirma. “A ética hoje é a principal forma de sustentabilidade, porque dialoga diretamente com a sobrevivência da empresa”.

Com a nova Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que exige que empresas brasileiras considerem fatores psicossociais nos programas de saúde e segurança do trabalho, Karnal vê um passo importante — ainda que não resolutivo. “Veja a nova NR-1 não como uma solução final, mas como uma oportunidade para sensibilizar lideranças”, diz.

Apesar dos avanços legais, ele é cético quanto à erradicação de lideranças tóxicas.

“A violência ainda é um método eficaz, mas não sustentável. Ainda há quem admire o chefe autoritário, porque ele entrega resultado, mas isso não se sustenta a longo prazo”, afirma Karnal.

E ainda sobre aprender, na visão de Karnal, empresas éticas não são aquelas com um código bonito impresso e esquecido na gaveta, mas que aprenderam a colocar em prática as normas.

“Toda empresa envolvida em escândalo tinha um código de ética. A diferença está em aplicar a ética na prática. Como exemplo, rejeitar fornecedores que não respeitam direitos humanos, meio ambiente ou diversidade - mesmo que isso custe mais,” afirma.

IA, produtividade e humanização

A inteligência artificial também entrou em pauta, não como vilã, mas como nova engrenagem da produtividade. Renault contou como tem utilizado ferramentas como o ChatGPT para acelerar modelagens econômicas e afirma.

“Estamos vivendo uma revolução tecnológica tão profunda quanto a revolução industrial. Quem não souber usar, vai ficar para trás”, afirma o executivo do Itaú.

Diante da revolução digital, Karnal acredita que as empresas devem se tornar espaços de aprendizado contínuo. “Já que tantas escolas viraram empresas, chegou a hora das empresas virarem escolas — não por caridade, mas por sobrevivência”, afirma.

Apesar da tecnologia, o debate reforçou que o futuro do trabalho seguirá centrado nas pessoas. Para Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul, que participou do último debate, a chave para reter talentos — especialmente os mais jovens — está em escuta, cultura forte e propósito claro.

“Independentemente da geração, o caminho é a comunicação. As empresas que se aproximam mais dos funcionários e dialogam mais têm melhores resultados”, diz. “A única certeza do mercado é que empresas precisam de pessoas”.

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