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“À Queima Roupa” retrata chacinas policiais no Rio

Com dois prêmios no último Festival de Cinema do Rio, documentário impacta o espectador pela forma direta e seca com que expõe a violência policial

Cena do documentário "À Queima Roupa", de Theresa Jessouroun: dois prêmios no último Festival de Cinema do Rio (Reprodução/Trailer)

Cena do documentário "À Queima Roupa", de Theresa Jessouroun: dois prêmios no último Festival de Cinema do Rio (Reprodução/Trailer)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2014 às 16h49.

São Paulo - À Queima Roupa, o documentário de Theresa Jessouroun sobre 20 anos de chacinas cometidas por policiais civis e militares contra moradores de favelas no Rio de Janeiro, é um duro retrato de como a corrupção se expandiu por parcelas consideráveis da corporação policial fluminense, que passaram a agir como um poder paralelo dentro do Estado, afrontando-o abertamente com a proteção de escalões superiores da corporação e de políticos.

O filme estreia em São Paulo. Com dois prêmios no último Festival de Cinema do Rio, de direção e de documentário, À Queima Roupa impacta o espectador pela forma direta e seca com que expõe o tema a que se propõe apresentar. 

O clima, tenso e sombrio, se assemelha a um documentário de guerra, acompanhando a movimentação de tropas fortemente armadas, combates contra inimigos que nunca são vistos, e a apresentação do resultado final: o empilhamento de cadáveres.

O que não consegue mostrar por não dispor de imagens reais, a diretora encena em sequências igualmente dramáticas em preto e branco.

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Ao contrapor a realidade comprovada e a realidade encenada, é destacado o trabalho do diretor de fotografia Walter Carvalho e da montadora Idê Lacreta, ligando os dois mundos igualmente sombrios.

O ponto de partida é a chacina de Vigário Geral, em 1993, que deixou 21 mortos e transformou o bairro em barril de pólvora, pois tudo levava a crer que novamente reinaria a impunidade, como em tantos casos anteriores.

Para isso conspirava a proteção da chefia da corporação policial, também envolvida, e o medo das testemunhas em expor suas famílias à vingança dos criminosos.

Mas o surgimento de um informante, também metido nesse e em centenas de outros casos, permitiu que as investigações tivessem outro rumo.

Ivan, o X-9 no jargão policial carioca, aparece no filme quase como um narrador cínico da tragédia, da qual ele só não participou por um impedimento de última hora. Ele era ligado a um grupo de policiais conhecidos como Os Cavalos Loucos, que extorquiam traficantes.

No dia 29 de agosto de 1993, eles subiram a favela de Vigário Geral para vingar a morte de quatro policiais corruptos pelo traficante Flávio Negão e fuzilaram quem encontraram pela frente.

Graças principalmente ao depoimento de Ivan, depois de quatro anos de tramitação, dos 33 processos instaurados, ocorreram condenações em apenas seis. O próprio Ivan foi condenado a 22 anos de prisão.

São chocantes os relatos de sobreviventes e familiares de pessoas mortas não só da chacina de Vigário Geral como de outras execuções que ganharam as manchetes policiais, como as do Complexo do Alemão, o assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 2011, e, mais recentemente, da tortura, morte e ocultação do corpo do pedreiro Amarildo.

Alguma justiça foi feita em todos esses casos, mas o sentimento de impunidade ainda é forte, seja entre os sobreviventes das comunidades, advogados, promotores e investigadores que se empenharam na elucidação dos crimes.

O próprio coronel Valmir Brum, que trabalhou no esclarecimento da chacina de Vigário Geral, também é cético: Os jovens hoje estão mais interessados em obter a carteira de polícia para ter acesso a armas e ganhar dinheiro com segurança. Eles não estão interessados em defender a sociedade.

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