Cúpula dos Brics: Copacabana, figurinha já carimbada para muitos dos visitantes, saiu do roteiro assim como o Cristo (Christian Adams/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 5 de julho de 2025 às 09h50.
Chineses que estão no Rio para a Cúpula do Brics pediram um roteiro sem Cristo Redentor a autoridades responsáveis pelo turismo na cidade: já conhecem uma das sétimas maravilhas do mundo e não querem repeteco.
Russos reservaram, para hoje à noite, um barzinho moderno e sofisticado bem perto do furdúncio da Arnaldo Quintela, rua entre as mais legais do mundo, em Botafogo. Vietnamitas exigiram distância de locais que atraem grande público, como a Região Central e a Zona Sul. Rumaram, então, para a Zona Oeste, longe do fervo e dos curiosos. O oposto do que mirou a comitiva dos Emirados Árabes Unidos, país agregado ao bloco em 2024: a delegação esbanja no Fasano, hotel de Ipanema conhecido pelo luxo e por já ter acomodado dezenas de celebridades.
A capital do Rio, que em maio recebeu milhares de fãs para ver Lady Gaga e que em junho foi explorada por uma multidão de maratonistas, volta a diversificar seus visitantes. O Aeroporto Internacional Tom Jobim prevê que 299 mil passageiros cheguem à cidade até a próxima segunda; 79 mil só em voos internacionais.
Além das comitivas de países originalmente integrantes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), vêm aí representantes de parceiros como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão, Egito, Etiópia, Irã, Indonésia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, além de países convidados. A cidade ganha, outra vez no ano, visibilidade internacional.
"Mais do que um impacto imediato, a cúpula também é vista como uma oportunidade de reposicionar o Rio como destino turístico de alto padrão nos mercados emissores. Com a exposição gerada pela cúpula, que inclui cobertura midiática, recepção oficial e experiências culturais, a cidade se projeta como uma vitrine para novos visitantes e investidores do setor", diz Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO. "Há opções desde os hotéis de luxo para os russos ao turismo histórico que os indianos valorizam".
Peculiaridades de cada comitiva se refletem nas escolhas de hospedagem e também nas culturais e gastronômicas. Ontem à noite, um jantar no tijucano China Town, restaurante de culinária tradicional chinesa e centro cultural, recebeu o Li Zhi, prefeito de Yueyang, cidade da província de Hunan, e outras autoridades chinesas. No cardápio, oito pratos: da tilápia à moda chinesa ao bifum com carne, passando pela acelga e pelo tofu frito com carne, além de camarão VG.
"É comum que os chineses visitem restaurantes que tragam opções que eles apreciam no dia a dia. Mas, ultimamente, os que vêm ao Rio também pedem para conhecer churrascarias com rodízio, um serviço pouco comum no seu país, e casas com estrela Michelin", diz a gerente de uma agência que há 30 anos recebe chineses na cidade.
Outros chineses também visitarão, nos próximos dias, o estrelado Lasai, no Humaitá, e restaurantes que ofereçam caipirinhas exóticas como as de seriguela, graviola, carambola, fruta do conde e ou as que levam pimenta.
Executivas que vieram para o Woman Brics, evento de negócios com mais de 250 reuniões no Museu de Arte do Rio — também visitaram outros museus. Sulafricanas foram ao Centro de Referência do Artesanato Brasileiro, na Praça Tiradentes, no Centro, e representantes de Brasil, Oriente Médio e Ásia estarão, amanhã, num desfile temático no Copacabana Palace.
Ontem à noite, um jantar cujo convite levava o nome do prefeito Eduardo Paes e do ministro da Economia, Fernando Haddad, foi oferecido a 300 pessoas no Roxy, em Copacabana. No dinner show, o presidente Lula, ministros de seu governo, a ex-presidente Dilma Rousseff e representantes de delegações estrangeiras assistiram ao espetáculo com músicas das cinco regiões brasileiras e degustaram pratos brasileiros assinados pelo chef Danilo Parah.
Tiago Moura, presidente do Polo Gastronômico da Zona Sul, é um dos cicerones de autoridades internacionais na cidade e deve levar os visitantes também ao Baixo Gávea, ao Jardim Botânico e a Botafogo. Copacabana, figurinha já carimbada para muitos dos visitantes, saiu do roteiro assim como o Cristo.
Delegações de Rússia e Vietnã priorizaram exigências de segurança. A que mais chama atenção pede para que autoridades brasileiras evitem rotas por túneis. Ronaldo Carmona, professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), explica. "Naturalmente, toda a cúpula desse porte é marcada por um rigorosíssimo esquema de segurança. Se o visitante tem um contexto mais especial, como é o caso da Rússia, em guerra, há ainda mais sensibilidade."