Dod Alfaiataria: Jubba Sam, fundador da marca, desenvolveu calças com bocas de até 30 centímetros (Leandro Fonseca /Exame)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 08h20.
PARIS — O mundo da moda está neste momento de olho no feminino, na temporada das semanas de moda na Europa. Mas entre os homens, do lado de fora dos desfiles, nas vitrines das lojas masculinas e nas ruas de Paris e Milão, existe uma tendência clara. As calças estão mais largas. Bem mais largas.
Não é um movimento tão novo assim. Calças mais largas vêm aparecendo mais e mais, aqui e ali, nos últimos dois ou três anos. Mas nesta última temporada estão omnipresentes, na Zara e na H&M, na Galeries Lafayette e na Samaritaine, nas lojas sofisticadas da Champs-Élysées e da rue du Faubourg Saint-Honoré.
“Cada vez mais, os homens estão construindo seu visual a partir das calças”, disse Sophie Jordan, diretora de compras de moda masculina do e-commerce de luxo Mytheresa, ao site Business of Fashion. Segundo a executiva, as vendas de calças masculinas cresceram 78% até agora neste ano, em relação ao ano anterior.
De acordo com a reportagem, a categoria também tem se tornado cada vez mais importante para marcas específicas. Na Officine Générale, uma das marcas contemporâneas mais respeitadas, as calças representaram 65% do negócio de alfaiataria.
Roupas de modelagem mais ampla começaram a ganhar destaque no home office durante a pandemia, encerrando um ciclo de pelo menos uma década de hegemonia da calça slim e de sua versão mais radical, a skinny.
O último ciclo de roupas largas de verdade aconteceu nos anos 1980, era de ascensão dos yuppies, celebrado no cinema em filmes como o O Último Gigolô, em que Richard Gere marcou época com costumes Giorgio Armani, todos com muito tecido sobrando.
A diferença daquela época para agora é que nem sempre a parte de cima tem acompanhado a proporção da parte de baixo. Existe hoje uma liberdade maior no ato de vestir, uma convivência de estilos diversos. Camisas, paletós e jaquetas podem tanto seguir a proposta de amplitude das calças como aparecerem em versões mais ajustadas, criando assim um contraste.
No Brasil, tendências costumam demorar mais para se consolidar. Ainda assim, calças amplas têm sido adotadas por estilistas como Ricardo Almeida. Em seu último desfiles, realizado em seu estúdio na Cidade Matarazzo, em São Paulo, foram apresentados 40 looks de sua nova coleção. As calças eram todas soltas, tornando-se foco de atenção no conjunto.
Alexandre Won, talvez o alfaiate brasileiro mais influente de sua geração, sempre foi adepto de calças mais largas, de cintura alta e com pregas, em um resgate do estilo bastante clássico do começo da década passada. Isso mesmo durante a ditadura do slim, o que tornava suas peças ainda mais especiais.
Jubba Sam, fundador da Dod Alfaiataria, também apresenta coleções de modelagem generosa, com muita influência do streetwear. Em alguns casos, as calças de corte tradicional são realmente largas, com bocas de até 30 centímetros.
E qual o futuro das calças, já que a moda funciona por ciclos? Apesar dos holofotes em silhuetas folgadas, o slim ainda continua presente no portfólio de grifes de prestígio, como a Prada. Um corte intermediário que também não deixou as araras é o cenoura, que afunila na canela.
O novo padrão, num futuro próximo, provavelmente ficará em lugar intermediário, disse Jian DeLeon, diretor de moda masculina da marca Nordstro, ao Business of Fashion. “Nem muito largo, nem muito justo”, prevê o estilista.