Vela: conheça a competição da Rolex (Rolex / Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 14h47.
Genebra (Suíça)* - Os barcos passam a poucos metros do público, a uma velocidade de 100 quilômetros por hora, que parece ser muito mais. Mas existe um detalhe: os cascos dos catamarãs sequer encostam na água. As embarcações estão equilibradas nas finas quilhas, suspensas no ar, como se voassem, o que torna o espetáculo ainda mais impressionante.
É tudo muito rápido, em todos os sentidos. As provas duram em torno de 12 minutos. Quem não conseguiu comprar o ingresso para assistir ao vivo pode acompanhar a disputa em alguma das várias emissoras parceiras ou ao vivo no YouTube. Sua equipe favorita ficou para trás? Sem problema. Dentro de duas semanas acontecerá outra corrida, como acontece na Fórmula 1.
Assim é a Rolex Sail GP Championship, o campeonato que está redefinindo o conceito de esporte a vela. A comparação com a Fórmula 1 não é por acaso. Além do formato da competição e da velocidade dos barcos, o circuito mistura esporte com entretenimento e tem atraído uma nova audiência para um esporte que sempre foi difícil de acompanhar.
A EXAME Casual está acompanhando a etapa da Rolex Sail GP que acontece neste fim de semana em Genebra, na Suíça. O Lago Léman, em torno do qual fica a cidade, estava diferente nesta semana para quem costuma visitar a localidade em outros períodos do ano.
Entre a paisagem habitual, formada pela enorme fonte de água, pelos barcos de passeio e pela praia de areia, desta vez avistavam-se catamarãs enormes, de 15 metros de comprimento, com velas de 18 metros de altura, muito coloridas. No alto de cada uma das velas aparece estampado o logotipo da Rolex.
A prova em Genebra é a décima e também a antepenúltima desta temporada, e acontece nos dias 20 e 21 de setembro. Pelo menos quatro equipes chegam nas etapas finais da temporada com chances de levar o título.
As regras da competição são bastante simples e acessíveis, e esse é um dos motivos da sua popularidade. Entenda a seguir como funciona essa competição — e porque ela está sendo um marco no esporte a vela.
O catamarã F50 da equipe NorthStar Canada SailGP em frente à fonte Jet d'Eau. (Rolex / Divulgação)
A competição foi criada em 2019 por Larry Ellison, co-fundador da Oracle, e o campeão de vela Russell Coutts. A Rolex está presente desde o começo da criação da categoria e, a partir deste ano, passou a dar nome ao evento.
São 12 equipes que disputam a Rolex Sail GP Championship, e o número vem crescendo a cada edição. Na primeira temporada foram seis. Para o ano que bem está previsto mais um, o Artemis, da Suécia. São times nacionais, com patrocínios de empresas. Em cada time, dos seis tripulantes, pelos menos metade precisa ser da nacionalidade do barco.
Quatro equipes chegam bem posicionadas para a etapa de Genebra, com diferença de um ou dois pontos entre uma e outra. São elas a Emirates Grand Britain, Bonds Flying Roos da Austrália, a espanhola Los Gallos e a France. O Brasil está representado pela equipe Mubadala Brazil, que conta com a campeã olímpica Martine Grael.
A etapa de Genebra é a única na temporada disputada em um lago. Cada perna acontece em um país diferente. Antes de Genebra a prova foi disputada en Saint Tropez, na França. A próxima será em Cádiz, na Espanha.
As provas são curtas, com duração de 12 minutos a 14 minutos, e acontecem em dois dias. São três largadas no primeiro dia e três no segundo. Depois disso, as três primeiras colocadas fazem uma última prova para ver quem fica em primeiro lugar.
O vencedor leva 10 pontos, o segundo colocado 9, e assim por diante. Os dois últimos colocados não pontuam. Dependendo da conduta, podem ser penalizados e perder pontos.
O Rolex Sail GP Championship distribui no total U$ 12,8 milhões. A equipe vencedora leva $ 2 milhões.
Todas as equipes competem com o mesmo barco, o F50, um catamarã que fica sobre a água, baseado no AC50, usado na America’s Cup de 2017, mas com um novo design. “Não é o barco mais rápido que existe, mas é o barco mais rápido usado em competições”, explicou Andrew Thompson, diretor da competição, durante o evento de Genebra.
O F50 é feito na maior parte de fibra de carbono e titânio, materiais muito leves e resistente. Três tamanhos de vela podem ser usados, de acordo com a intensidade dos ventos, de 18, 24 e 29 metros. No barco, os tripulantes precisam pensar rápido para fazer as manobras. Em alta velocidade, existe o risco da embarcação perder estabilidade. “É um esporte extremo, perigoso, os tripulantes precisam ser muito experientes”, diz Thompson.
Todas as informações dos barcos, até a troca de mensagens entre a equipe, é compartilhada entre todos. O acesso é total. Assim, com os mesmos barcos e estratégias abertas, o que conte mesmo é a capacidade da tripulação.
Martine Grael foi a primeira mulher a fazer parte da competição. Filha de Torben Grael, um dos maiores velejadores do Brasil, ela tem duas medalhas de ouro olímpicas, na classe 49er FX, no Rio de Janeiro em 2016 e em Tóquio em 2020. Ela foi nomeada Rolex World Sailor em 2014 e desde o ano passado é Rolex Testimonee.
Cada time tem ao menos uma mulher. “A ideia é que essa participação aumente com o tempo. Com exceção da função de remador, que necessita de mais força, todas as tarefas podem ser feitas por mulheres”, afirma.
Os fundadores da competição viram uma oportunidade para uma competição que durasse o ano todo, mais curta. A America’s Cup, a mais tradicional prova de vela, acontece a cada quatro anos, e é offshore, ou seja, disputada em alto mar. A Ocean Race, antiga Volvo Ocean Race, também. Depois que os barcos largam fica difícil acompanhar a disputa.
As provas da Rolex Sail GP, ao contrário, são inshore, ou seja, próximas da costa, em um percurso delimitado, fácil de acompanhar. São vendidos ingressos para acompanhar as disputas. Em Portsmouth, na Inglaterra, foram 10.000 expectadores, e 95% eram de fora. Em Genebra, os 5.000 ingressos esgotaram rapidamente.
Cada prova é vista por cerca de 20 milhões de pessoas globalmente, graças às parcerias com emissoras como ZDF na Alemanha, Blue Sport na Suíça, Canal Plus na França, TNT Sports, Sky na Itália. “Cerca de 20% da audiência já é de mulheres e boa parte não acompanhava antes competições de vela”, disse Fionna Morgan, Chief Purpose Officer da Sail GP.
Nesse cargo, Morgan é responsável por promover a sustentabilidade e a inclusão no circuito. “Hoje é obrigatória a presença de ao menos uma mulher em cada equipe. Meu objetivo é que seja metade”, afirma.
Discussão em mesa redonda com Fiona Morgan, Diretora de Propósito da SailGP, sobre a Impact League e o programa Breaking Boundaries (grupo internacional de mídia).
Para fazer parte do circuito, cada equipe precisa aportar US$ 60 milhões, diz Thompson. “As equipes estão começando a se tornar lucrativas. E cada uma tem seus próprios direitos comerciais, seus próprios patrocínios e uma parte da receita de mídia da liga. É um modelo que parece estar funcionando.”
Cada equipe também tem um teto orçamentário de U$ 10 milhões.
Durante a etapa de Genebra foi anunciada a 13ª equipe, que entrará no ano que vem. Trata-se da Artemis, da Suécia, que já disputou a America’s Cup. Os organizadores querem aumentar ainda mais o número de participantes, até um limite de 20.
“Não temos, por exemplo, nenhuma equipe do Oriente Médio, e trata-se de um mercado enorme. O próximo time pode ser de lá”, diz Thompson.
*O jornalista viajou a convite da Rolex.