Café POR ELAS: visibilidade ao trabalho das mulheres na cafeicultura (Alexandre Rezende/NITRO/Divulgação)
Colunista
Publicado em 15 de março de 2025 às 08h06.
O mês de março é marcado pela celebração e reflexão sobre o papel das mulheres na sociedade. Isso porque o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, reforça a luta histórica por equidade de gênero e destaca as conquistas e desafios que marcam a trajetória feminina nas mais diversas áreas, inclusive na do café.
Tradicionalmente dominado por homens, o setor cafeeiro tem visto um crescimento das mulheres no setor, desde a lavoura até os cargos de liderança em empreendimentos inovadores. Empoderamento, visibilidade e autonomia financeira estão no centro dessa transformação, abrindo espaço para iniciativas que fortalecem a inclusão das mulheres no segmento e promovem um mercado mais equitativo e sustentável.
Nos últimos anos, os números comprovam a ascensão das mulheres na cafeicultura. Segundo pesquisa do Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas brasileiros com produção de café são dirigidos por mulheres. Além disso, 48.100 pessoas do sexo feminino estão na condição de cônjuge em codireção de estabelecimentos com café arábica e canéfora. Conheça um case de sucesso a seguir!
Fundado pelas irmãs Julia e Nadia Nasr, o Café POR ELAS nasceu com o objetivo de dar visibilidade ao trabalho das mulheres na cafeicultura. A inspiração veio da vivência familiar, ao acompanhar de perto a trajetória da mãe, Abadia Helena Gomes da Silva, produtora de café.
"Criar o Café POR ELAS foi a nossa forma de não só contar essas histórias, mas, também, de fazer parte da mudança. Empoderamento, para nós, é abrir caminhos, oferecer oportunidades e garantir que as mulheres tenham voz e protagonismo no mercado de cafés especiais", explica Julia.
Elas apontam que a representação feminina tem um impacto direto na quebra de estereótipos e na valorização da diversidade no setor. "Quando ocupamos espaços de destaque, inspiramos outras mulheres a acreditarem que podem seguir caminhos semelhantes e alçar voos ainda mais altos. Sem a presença feminina, muitas necessidades e realidades acabam sendo ignoradas", destaca Nadia.
Com mais de duas décadas dedicadas à cafeicultura, Abadia Helena Gomes da Silva administra a fazenda São Luiz e é um exemplo da força feminina no setor. Para ela, dar visibilidade ao trabalho das mulheres é fundamental a fim de fortalecer a cadeia produtiva e promover mudanças estruturais.
"As mulheres já produzem café de qualidade há muito tempo, mas, muitas vezes, sem o devido reconhecimento. O Café POR ELAS veio justamente com o intuito de mudar isso, dando destaque ao nosso trabalho e garantindo que ele seja valorizado", afirma.
Abadia também destaca a importância do apoio e da organização coletiva. "Desde que passei a fazer parte de grupos de mulheres da minha região, me sinto mais segura como agricultora e amparada por essa rede de apoio. Quando uma mulher vê outra ocupando um espaço que antes parecia distante, ela entende que também pode chegar lá. E esse ciclo de inspiração e fortalecimento é o que transforma o setor", completa.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) tem desempenhado um papel essencial a fim de fortalecer a presença feminina no setor cafeeiro. Segundo Anna Carolina Viana, Presidente do Comitê ABIC Mulheres no Café, avanços significativos foram conquistados nos últimos anos.
"Eu posso falar por mim, que, hoje, lidero uma indústria familiar, atuo no Sindicato de Goiás e sou vice-presidente da ABIC. Até poucos anos, nunca tínhamos visto uma mulher neste cargo na Associação. Há três mandatos, as mulheres passaram a tomar decisões estratégicas na entidade", relata.
Em 2024, a ABIC criou um comitê exclusivo para dar voz às mulheres, fortalecer o networking entre as mulheres e garantir mais representatividade. "Neste ano, vamos ter a participação da IWCA (Aliança Internacional das Mulheres do Café) no Encafé 2025. A Associação vai promover um encontro entre as cafeicultoras e a indústria, reforçando o nosso compromisso contínuo com o reconhecimento ao trabalho das produtoras", explica Anna Carolina.
A profissional finaliza com uma análise do papel feminino no setor e as expectativas do futuro. “O café sempre foi parte da minha história e é inspirador ver cada vez mais as mulheres ocupando espaço e ajudando a transformar o setor. Ainda há um caminho muito grande a percorrer, com mais iniciativas concretas e engajamento de toda a cadeia produtiva para construirmos um setor mais inclusivo, mais inovador. Mas, estou bastante feliz com o que a gente já conseguiu conquistar”, diz.