Birkin e Kelly: os dois modelos icônicos da Hermès - que continuam mais atuais do que nunca (Corbis/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 16 de outubro de 2025 às 11h02.
No Brasil, o mercado de luxo movimentou R$ 98 bilhões em 2024, com projeção de atingir R$ 150 bilhões até 2030, segundo relatório recente divulgado pela Bain & Company. O estudo mostrou que o país lidera o ranking de desempenho do mercado de luxo, com crescimento de 12% ao ano, contra 3% da média global.
Especialistas em high ticket avaliam que, para além do status e o apelo à exclusividade que movimentam este mercado, houve uma mudança importante no comportamento dos consumidores brasileiros, que passaram a enxergar determinados itens como ativos para investimentos e reserva de valor.
Essa nova realidade do público-alvo do mercado de alto padrão também carrega um aspecto geracional. Segundo o último relatório Navigating the Future of Wealth, elaborado pela plataforma global de migração Multipolitan, cerca de US$ 84 trilhões serão transferidos dos Baby Boomers para as gerações seguintes, principalmente os Millennials e a Geração X, até 2045. Ou seja, a riqueza está concentrada em novas mãos.
Confira 5 artigos de luxo que se tornaram investimentos.
Os modelos mais consagrados de bolsas de grife são, sem dúvidas, os que melhor ilustram essa tendência, sendo as bolsas Birkin da Hermès um ativo que se valoriza significativamente ao longo do tempo, tornando-se um investimento para muitos. A alta média anual de crescimento é de cerca de 14%.
Segundo Lilian Marques, CEO da Front Row, plataforma nacional de revenda de produtos de alto padrão com foco em bolsas Hermès, joias e relógios, 25% de seus clientes compram bolsas Hermès com perfil de investidor, alguns nem chegam a usar o item, mantendo-o em estado de conservação ideal para futura revenda.
“As compras deixaram de ser meramente para consumo e passaram a ser um elemento de escolha de médio e longo prazo”, diz.
Nos EUA, o modelo mais simples, Birkin 25, subiu 10% nos nove primeiros meses de 2025, passando de US$ 12.100 para US$ 13.310. O ganho entre 2020 e 2025 fica em linha com o Ibovespa, mas sem a volatilidade clássica do mercado acionário e sem contar a diferença cambial. Já na Europa, o preço da Birkin 25 em couro Togo encontra-se em € 8.950, acima dos € 5.900 em 2016, aumento de 51,7%.
Lilian Marques lembra que “a escassez é o que move esse mercado”, ou seja, quanto mais rara e bem preservada a peça, maior seu potencial de valorização.
No caso da Front Row, a empresa atua como advisor de investimentos de luxo, operando com modelos seminovos e novos das linhas mais desejadas do mundo. Com ticket médio de R$ 55 mil, os clientes já obtêm lucros expressivos em revendas. Em alguns casos, foram observados ganhos superiores a R$ 400 mil.
Da esquerda para a direita: os modelos da Rolex, Land-Dweller, Oyster Perpetual Cosmograph Daytona e Oyster Perpetual (Rolex/Divulgação)
O mercado de relógios também tem potencial de valorização. Um recente levantamento realizado pela Bob’s Watches, marketplace especializado no segmento, mostrou que, entre 2010 e 2025, os modelos Rolex tiveram uma valorização média de 550%. No mesmo intervalo de 15 anos, o Índice Ibovespa ficou atrás com 77,81%, segundo a Elos Ayta Consultoria.
Patrícia Bianco, empresária e internacionalista especializada em comunicação de luxo, defende que outro aspecto fundamental que tira do luxo o estigma de “futilidade” é a herança cultural e os processos de produção preservados pelas marcas. Isso é observado na linha de produção de um relógio da Rolex, que se baseia em um minucioso trabalho artesanal, com matéria-prima e técnicas próprias, aliado à tecnologia e à engenharia.
“Considerando um mundo obcecado por automação, rapidez nos processos e, cada vez mais, pela inteligência artificial, preservar esse saber ancestral é preservar um patrimônio cultural imaterial da humanidade. Isso não tem preço,” afirma.
Nos últimos meses, a alta consistente do ouro nas bolsas internacionais aumentou o interesse pelas joias como alternativa de investimento. Nesta semana, o preço do ouro atingiu um recorde acima de US$ 4 mil por onça-troy (o equivalente a 31,1 gramas), movimento diretamente relacionado ao interesse dos investidores naquilo que é percebido como um ativo seguro.
Apesar desse ápice diretamente ligado às tensões econômicas e diplomáticas atuais, essa é uma tendência que já se formava. A cotação do ouro apresenta uma alta acumulada de 54% em 2025, até o momento, mas em 2024 o metal já havia apresentado uma boa valorização de 27%.
A procura se verifica nas joalherias, nas plataformas especializadas e nas casas de leilão, enquanto peças vintage, raras ou de coleções especiais vêm sendo ainda mais valorizadas pelas mesmas condições que estão aumentando o preço do ouro.Os vinhos finos também são vistos como ativos alternativos que tendem a ter correlação baixa com os sistemas financeiros convencionais, o que os torna interessantes para diversificação de portfólio. Em 2024, o mercado global de vinhos de luxo foi avaliado em US$ 133,19 bilhões, com previsão de atingir US$ 278,2 bilhões até 2033, com uma taxa de crescimento anual de 8,53% entre 2025 e 2033, segundo a Business Research Insights.
Aspectos como variações das safras, escassez e exclusividade, avaliações de críticos e colecionadores, tempo de maturação, entre outros, tendem a valorizar esse tipo de produto com o passar dos anos. Ao mesmo tempo, essas mesmas particularidades do mercado de vinhos podem, eventualmente, demandar maior tempo e paciência para atrair os compradores certos por meio de leilões, vendas privadas ou marketplaces.
Atualmente, também existem ETFs (Exchange Traded Funds, ou ‘fundos de índice’) e fundos temáticos que facilitam, mesmo com poucos recursos inicialmente, a aplicação dos investidores, carteiras compostas por vinhos finos ou empresas do setor.
Para quem deseja investir em obras de arte, mas não necessariamente ter a tela na sala de casa e arcar com altos custos, a dica é investir em acervos de propriedade compartilhada de obras de arte. Essa é uma demanda crescente experimentada pela Hurst, maior ecossistema de ativos alternativos da América Latina. As vendas de obras de arte têm uma média de 25% a.a. no prazo de 15 a 38 meses aos investidores. Devido às oscilações econômicas, a operação de obras de arte da Hurst Capital agora passou a realizar investimento nas galerias brasileiras em feiras internacionais.
A transação, realizada por meio de certificados de recebíveis, consiste na concessão de crédito com garantia lastreada em obras de arte. Este formato tem atingido a rentabilidade de cerca de 40% a.a. em operações de curto prazo, até 5 meses.
“A procura aumentou, principalmente diante das notícias de investimentos que pareciam seguros e os acontecimentos comprovaram que não. Mas nos sentimos desafiados todos os dias para aumentar a rentabilidade e mitigar qualquer risco”, diz Ana Maria Lima de Carvalho, Head de Investimento em Obras de Arte da Artk, originadora de investimentos em obras de arte da Hurst Capital.