'The Voice Brasil': Boninho se junta ao SBT e Disney+ em nova edição do programa (Andre Velozo/ Disney)
Repórter de Casual
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 11h13.
Última atualização em 16 de setembro de 2025 às 11h21.
"Se você derrapou por alguma razão, tem que voltar para o trilho". É o que diz José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, sobre os aprendizados que teve no Big Brother Brasil antes de embarcar na nova empreitada: o The Voice Brasil — agora no SBT e Disney+. É a primeira entrevista do maior showrunner do país após a saída da Rede Globo, dada exclusivamente à EXAME. "Eu trouxe o Voice para o Brasil 13 anos atrás. Agora, eu quero de volta".
Foram, ao todo, 40 anos na maior emissora do país. Só no BBB, foram 24, desde a primeira edição até a penúltima. Mas após temporadas mais robustas, com mais e menos audiência, "era hora de ter um voo diferente, ter uma parceria mais saudável na hora de desenvolver um programa", diz Boninho. O The Voice, comentou ele, pareceu um recomeço mais próspero.
A saída do diretor da Globo não foi exatamente inesperada. Depois da retomada da pandemia, quando o BBB 20 atingiu 24,6 pontos no Ibope da Grande São Paulo, com picos de mais de 30 pontos em dias de grande repercussão, a audiência do programa ficou instável. No ano passado, o BBB 24 alcançou o maior índice e share desde 2015, com receita superior a R$ 1 bilhão e venda de cota de patrocínio de aproximadamente R$ 87 milhões (cota camarote).
A edição deste ano, no entanto, teve a pior audiência da história do programa, com média de 17 pontos. Boninho já não estava mais no comando do programa.
Alinhado ao baixo desempenho de audiência do BBB, o diretor também esteve na liderança do reality Estrela da Casa, que teve sua primeira edição neste ano. Mesmo com Ana Clara no comando, no entanto, a estreia não teve boa adesão do público — foram 13,8 pontos na Grande São Paulo, resultado muito influenciado pelo jogo do Corinthians, que aconteceu ao mesmo tempo. Para efeitos de comparação, uma estreia de BBB fica entre 19 a 28 pontos.
"Não tem nada que eu não levaria, assim como não tem nada que eu me arrependa de ter feito", diz o diretor sobre os aprendizados que pretende levar ou não do BBB ao The Voice na nova estrutura. "O feeling é deixar que o público tenha um pouco desse controle do que está acontecendo, essa é a grande brincadeira. O que eu aprendi é que você não pode deixar de mexer, não pode ter medo de reconhecer quando está errado. Televisão é assim: você propõe alguma coisa e pode realinhar. É o nosso grande legado de produtos de longa duração."
Da esquerda para a direita, Fernando Justus Fischer (superintendente de negócios e comercialização do SBT), Boninho (showrunner do The Voice Brasil 2025) e Renato D'Angelo (general manager da Disney Brasil) (Andre Velozo/ Disney)
O tal "legado" que Boninho cita deu inegáveis resultados — e foi ele que, querendo ou não, atraiu os olhares da Disney e SBT. A receita do BBB nos últimos cinco anos passou (e muito) dos 3 bilhões.
Mesmo a edição deste ano, considerada um "fracasso" de audiência para o programa, se pagou bem. Até novembro de 2024, o faturamento com publicidades havia passado dos R$ 650 milhões, e pode ter passado de R$ 1,5 bilhão até o fim do programa, considerando as negociações e acréscimos pós-estreia.
"Historicamente, eu venho olhando o trabalho como produtor, eu aprendi a ser um showrunner. Junto com isso, a minha relação com o mercado publicitário aumentou muito — o que mudou a forma como eu enxergava meu trabalho", argumenta Boninho. "Eu ouvi o público. Eu ouvi as reclamações. Dar certo ou dar errado, eu pago essa culpa", conta ele a EXAME.
A nova versão do The Voice Brasil estreia no início de outubro. Na primeira fase, que foi previamente gravada, o programa será exibido simultaneamente no SBT e Disney+.
De casa nova, o elenco de jurados será composto por Mumuzinho (único técnico com experiência anterior em The Voice Kids e The Voice Brasil), Matheus & Kauan, Péricles e Duda Beat. O programa será apresentado por Tiago Leifert, parceiro de longa data de Boninho, e terá uma avaliação mais exigente.
"As pessoas reclamavam muito que os técnicos eram muito bonzinhos. E o que o público hoje em dia quer é um pouco mais do Simon (The X Factor, America's Got Talent)", diz o showrunner. "Eu vou entregar para o público o que eles querem e estou cobrando dos técnicos que eles sejam um pouco mais ácidos. Teremos comentários mais precisos, mais exigentes, sem sombra de dúvidas".
A chegada ao Disney+ acrescenta, para além do que for exibido no SBT, 20 minutos adicionais. O conteúdo foi um requisito da Disney, foi desenvolvido inteiramente por Boninho e será focado na história dos participantes e técnicos, com convidados especiais."É um espaço maior para construir um retrato dessas pessoas. A gente a gente faz alguns reacts do que aconteceu durante o programa para que eles se vejam", acrescenta o diretor.
O The Voice Brasil foi comprado tanto pela Disney quanto pelo SBT após 12 anos em temporadas com a Globo. O motivo, não confirmado pela emissora, foi o fim do contrato, segundo Renato D'Angelo, general manager da Disney Brasil. "A Globo entregou o que foi estabelecido em contrato até a última temporada e não houve um novo acordo, então o The Voice voltou para o mercado", explica o CEO.
Quase todas as cotas de patrocínio do programa já foram vendidas. Entre os anunciantes estão Aurora, Bem Brasil, Caixa Econômica Federal, Medley, Mercado Livre, Óticas Carol, Rexona e Ypê. A princípio, o The Voice Kids não acompanha a edição do programa-mãe ao SBT e Disney+. "Mas é natural, depois das primeiras edições, que os demais programas acompanhem a grade", comenta D'Angelo.
A chegada do The Voice Brasil pode até ser nova para a Disney — o primeiro reality do streaming do Mickey —, mas não é exatamente uma novidade para o público do SBT. A emissora foi o berço de diversos outros realities de música, do The Idols à Casa dos Artistas. Ter o novo reality na grade, explica Fernando Justus Fischer, superintendente de negócios e comercialização do SBT, é uma aquisição estratégica.
A compra conjunta de um streaming e uma TV aberta, explica ele, foi planejada para fortalecer um formato mais dinâmico e atual. "O consumidor hoje é multitela e o conteúdo é rei. É ele quem dita tudo, não onde ele vai assistir", diz ele à EXAME. "Essa estratégia é mais sobre um respeito a esse consumidor. A TV consegue chegar em 98% do território nacional, e só o SBT conversa com mais de 100 milhões de pessoas todos os meses. O streaming vem crescendo ano após ano. Faz sentido."
Multitelas ou não, ainda que a parceria venha em dose dupla, o The Voice Brasil tem um desafio de audiência pela frente. Na TV Globo, o programa atingiu 17 pontos no Ibope da Grande São Paulo na última temporada, em 2023 — a maior desde 2019, que fechou com 25 pontos.
A Disney não compartilha o número de assinantes do streaming no Brasil, muito embora D'Angelo já tenha informado à EXAME que o país é um dos mercados mais importantes para a companhia na América Latina. Em todo o mundo, o Disney+ acumula cerca de 183,3 milhões de assinantes (somando aqueles que assinam o Hulu). Já o SBT, ainda que tenha mais de 100 milhões de espectadores mensalmente, tem como seu programa mais popular o "Programa Silvio Santos" (7,4 pontos em junho de 2025).
Fora do Brasil, o The Voice é exibido em 50 países — cada um com sua própria versão — e tem, só nos Estados Unidos, 28 edições. Resta ver o impacto que parceria entre as duas marcas — e a presença de Boninho — terá com o público.