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Meia branca e mocassim: como o estilo dos anos 1950 conquistou celebridades e se tornou tendência

De Elvis Presley a Paul Mescal e Hailey Bieber, estilo clássico tem retornado ao guarda-roupa das estrelas e já movimenta o setor econômico de calçados para os próximos anos

Mocassim e meia branca: entenda a origem e o motivo do sucesso do estilo (TheStewartofNY/GC Images/ Montagem EXAME)

Mocassim e meia branca: entenda a origem e o motivo do sucesso do estilo (TheStewartofNY/GC Images/ Montagem EXAME)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de Casual

Publicado em 9 de setembro de 2025 às 07h03.

Última atualização em 9 de setembro de 2025 às 10h30.

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Nos últimos tempos, você talvez tenha notado que um look tem se repetido entre as celebridades: bermudas mais curtas, acima dos joelhos e normalmente de alfaiataria, meias brancas três quartos e um mocassim preto.

O estilo, aparentemente simples, parece ter caído no gosto de alguns dos famosos do momento — Paul MescalHarry Styles e Donald Glover entre eles. Mas de novo, na verdade, não tem nada. Surgiu nos bailes adolescentes da década de 1950, nos Estados Unidos. Nos anos 1960 foi usado por estrelas como Elvis Presley e Paul Newman, na década de 1980 apareceu nas premières de Harrison Ford. Nos anos 1990, eram referência para uniformes em escolas americanas.

Paul Mescal veste Gucci com mocassim, meias brancas e bermuda (Daniele Venturelli/Getty Images for Gucci)

Desde o ano passado, a combinação voltou com força. Está no styling das celebridades, em tapetes vermelhos e em eventos dos mais diversos, de Pedro Pascal a Colman Domingo. E não só para homens: Hailey Bieber, por exemplo, assumiu as meias brancas e o mocassim como parte de sua identidade visual. No Brasil, Isis Valverde e Marina Ruy Barbosa também têm entrado na moda.

Hailey e Justin Bieber com seus mocassins e meias brancas em Nova York (Raymond Hall/GC Images )

A tendência foi tão expressiva nos últimos três anos que mexeu na economia global do setor de moda. O mercado mundial de calçados foi avaliado em US$ 700,9 bilhões em 2024, e pode atingir até US$ 1.100,4 bilhões até 2032, segundo a Data Brigde Market Reseach. Depois dos tênis esportivos, os mocassins estão em destaque no estudo.

O modelo tinha mercado global avaliado em US$ 33,4 bilhões em 2023, podendo chegar a US$ 43,3 bilhões em 2030, de acordo com um relatório da Grand View Research.

"É um estilo de calçado que atende a um movimento quiet luxury, pois ele traz um código clássico e pouco conectado com uma tendência marcante de códigos de moda passageiros, embora também possa ser atualizado com um frescor jovial na forma como é usado", diz Andreia Meneguete, pesquisadora na USP sobre moda e coordenadora da pós-graduação de Marketing de Moda e Beleza da ESPM.

Cinco adolescentes, suas meias brancas e mocassins em 1953 (GHI/Universal History Archive/Universal Images Group via Getty Images)

De volta às antigas?

Alguns motivos explicam a ascensão do mocassim na década de 2020. Há estilistas que defendem que eles nunca saíram de moda — o que não é exatamente mentira —, mas o retorno de um estilo mais vanguardista e conservador nos últimos anos tem contribuído para a ascensão desses sapatos.

Para Juliana Bacellar, consultora de moda e imagem estratégica, o uso relembra uma estética clássica e, portanto, nostálgica. "Essa mistura do mocassim com meia branca e bermuda é uma releitura dos anos 1950, mas de um jeito bem atual e descolado. Celebridade ama porque causa impacto, chama atenção e, ao mesmo tempo, passa aquela estética retrô que está super em alta", explica.  "A moda adora brincar com o passado, nada se inventa, tudo se recria."

Não à toa, segundo estudo da Grand View Research, os mocassins mais clássicos, de couro, foram os que detiveram a maior participação de mercado, com 45,3% em 2023. E a combinação de tradição e luxo, em cores sóbrias, tornou o modelo duradouro — de 1930 para 2025.

"É um produto atraente para gerar vendas sem tantos esforços para explicá-lo, já que é mais universal. Uma categoria que tem uma projeção favorável para diferentes gerações e que atende diferentes mercados — tanto o ocidental quanto o asiático. Logo, é um produto que favorece o negócio. Sem contar que também tem um apelo unissex", acrescenta Meneguete.

Elvis Presley antes da apresentação em Oakland Auditorium, em 1956, com seus icônicos mocassins (Bob Campbell/San Francisco Chronicle via Getty Images)

Quando começou a ser produzido, em 1930, o sapato — usado com a meia branca, em geral, na altura da canela —, era um item mais masculino. Cumpria o objetivo de ser elegante, confortável e prático para o dia a dia de trabalho. As mulheres até os usaram na década de 1950, sobretudo nas escolas, mas foi lá pelos anos 1960, com Audrey Hepburn (Bonequinha de Luxo), que as passaram a aderir mesmo à moda.

Hoje, o mocassim é um dos modelos mais desprovidos de gênero, e vem sendo combinado com vestidos, jeans, alfaiataria, bermudas, ternos e muitos outros itens de vestuário. "Essa liberdade de styling fez o sapato ganhar status de tendência mundial", complementa Bacellar.

Alinhado a uma estética mais clássica, luxuosa e elegante, ainda que a maior parte do público comprador seja mais velha (geração X e millennials), segundo o Data Brigde Market Reseach, o mocassim anda tão popular nos últimos anos que até a geração Z entrou para a tendência de usá-lo com a meia branca.

Vídeos no TikTok com a tag #mocassim ou #loafers já têm mais de 300 mil publicações, e ultrapassaram a marca dos 40 milhões de visualizações. No Instagram, estilistas e consultores de moda somam vídeos colocando o calçado como “item essencial no guarda-roupa”.

Estilo retrô à parte, a busca dos mais jovens não tem tanto a ver com o clássico para trabalhar, e sim para remeter à ideia do "estilo colegial", muito explorado em países como Japão de Coreia do Sul, e em evidência nos k-dramas e novelas asiáticas. Hoje, a produção de mocassins na região Ásia-Pacífico dominou o mercado, com uma participação de 39,8% em 2023, segundo o relatório da Grand View Research.

"Os jovens amam transformar o que era 'careta' em algo estiloso. Pegam um sapato que antes era super clássico, até sério, e jogam com peças modernas, oversized, cropped… fica um contraste incrível", acrescenta Bacellar.

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Mocassins criaram impérios

De 1930 a 2025, uma porção de marcas fez o nome vendendo mocassins. A Gucci, entre as referências do setor de calçados de alto padrão, é uma delas: o Horsebit, primeiro modelo da empresa, foi lançado em 1953 e se tornou um clássico da moda. Responsável, inclusive, pela ascensão da marca desde aquela época no mercado de luxo. O sucesso foi tanto que, em 1960, o próprio presidente John F. Kennedy os usava.

Na Prada, o mocassim veio mais tarde, nos anos 1990 — quando o calçado voltava a ter um pico de tendência. O modelo de sucesso até hoje é a linha Monolith, que já esteve nos pés de algumas das estrelas de Hollywood, como Meryl Streep e Anne Hathaway. Hermès, Tom Ford, Ferragamo, Versace, Chanel e Louboutin são outras das marcas que sempre tiveram mocassins entre seus produtos.

Natalie Portman e seus mocassins com meias brancas (Jose Perez/Bauer-Griffin/GC Images)

"Explorar um calçado como este nas campanhas de moda e desfiles é uma decisão estratégica eficaz para as marcas, pois é um modelo que performa positivamente em diferentes perspectivas do mercado da moda”, diz Meneguete. "Ele atende a um estilo que faz parte do dia a dia de um consumidor de luxo sem uma ocasião específica, mas de uma forma plural — seja no trabalho ou em uma ocasião de lazer."

Diferente da década de 1950, quando os modelos eram quase todos iguais — inclusive da mesma cor —, hoje, os estilistas brincam com identidades visuais mais diversas. Hermès e Tom Ford apostam nos sapatos com sola baixa e bico mais comprido e pontudo. Prada e Chanel, por outro lado, investiram nos modelos tratorados, que estiveram em alta nos últimos anos.

Solados altos ou baixos, é quase impossível mensurar quantos mocassins as marcas de luxo já venderam ao longo de quase um século. Mas a tendência é clara: até 2030, a expectativa é que o mercado desses sapatos passe dos US$ 40 bilhões mundo afora. E diferente de outras modas mais passageiras, a combinação clássica com meias brancas tem tudo para durar 100 anos — ou mais.

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