Ciência

A parte inferior da América do Norte pode derreter e afundar na Terra; entenda o caso

Fenômeno raro é observado pela primeira vez em tempo real e pode ajudar a entender a evolução dos continentes

Cráton: base continental dos EUA sofre afinamento pela ação da Placa Farallon (Imagem gerada por IA)

Cráton: base continental dos EUA sofre afinamento pela ação da Placa Farallon (Imagem gerada por IA)

Raphaela Seixas
Raphaela Seixas

Estagiária de jornalismo

Publicado em 23 de abril de 2025 às 15h05.

Última atualização em 23 de abril de 2025 às 16h15.

Cientistas da Universidade do Texas em Austin descobriram que a base do continente americano está gradualmente afundando no manto terrestre, a camada de rocha derretida abaixo da crosta terrestre.

Este fenômeno raro, conhecido como "afinamento cratônico", está sendo observado em tempo real pela primeira vez, de acordo com a pesquisa publicada na revista Nature Geoscience.

O que são crátons e por que estão afundando?

Crátons são grandes blocos de rochas antigas que compõem o núcleo estável dos continentes e permanecem praticamente inalterados por bilhões de anos. O “gotejamento cratônico” é o desaparecimento gradual dessas camadas profundas de rocha, impulsionado por processos geológicos.

Embora já tenha sido identificado em outros locais, como no Cráton do Norte da China, esta é a primeira vez que os cientistas observam o processo em andamento. A observação em tempo real representa um marco nas geociências modernas.

Descobertas no subsolo da América do Norte

O geocientista Junlin Hua e sua equipe detectaram uma atividade incomum na fronteira entre o manto profundo da Terra e a litosfera usando tomografia de ondas sísmicas, uma técnica avançada de imagem.

Hua, agora professor da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, explicou: “Percebemos que havia algo estranho sob o cráton e conseguimos desenvolver uma nova hipótese para explicar o que está causando esse afinamento”.

Influência da Placa Farallon no fenômeno

A equipe propõe que a Placa Farallon, uma antiga placa tectônica oceânica que está subduzindo sob a América do Norte há cerca de 200 milhões de anos, seja a causa mais provável.

Embora esteja localizada a aproximadamente 600 quilômetros de profundidade do cráton, a Placa Farallon parece estar redirecionando o fluxo do manto, causando o derretimento da base do cráton. Esse derretimento libera compostos voláteis, enfraquecendo a estrutura rochosa abaixo. Essa descoberta revela conexões profundas entre placas tectônicas e o manto superior.

Hua comentou que “uma área extensa está passando por esse afinamento”.

Testes e simulações confirmam hipótese

Os pesquisadores realizaram simulações computacionais com e sem a presença da Placa Farallon para confirmar sua teoria. O gotejamento cratônico foi observado apenas nos modelos que incluíam a placa.

O coautor do estudo, professor Stephen Becker, disse que, ao analisar o modelo, eles se perguntaram se os dados eram reais e se estavam interpretando-os corretamente. No entanto, os dados indicam que essas anomalias aparecem e desaparecem em várias regiões, sugerindo que o fenômeno é autêntico. A simulação reforça a confiabilidade dos dados sísmicos utilizados.

Implicações e impactos futuros

Becker enfatizou que essas descobertas são essenciais para melhorar a compreensão da história evolutiva do nosso planeta. Ele afirmou que elas ajudam a entender como os continentes se formam, se fragmentam e são reciclados no interior da Terra.

O gotejamento cratônico está ocorrendo principalmente sob a região central dos Estados Unidos. Embora cidades como Topeka ou Cleveland não estejam em risco imediato, esse processo ocorre em escalas de tempo geológicas, ao longo de milhões de anos.

Eventualmente, o fenômeno pode cessar quando os restos da Placa Farallon afundarem mais profundamente no manto, parando de influenciar o cráton americano.

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