Repórter
Publicado em 31 de maio de 2025 às 12h41.
Mais de 99% do ouro do planeta está escondido no núcleo metálico, a cerca de 3.000 quilômetros de profundidade, e até pouco tempo acreditava-se que essa reserva era praticamente inacessível e isolada do restante da Terra.
Um estudo recente, publicado na revista Nature em maio de 2025, mudou esse entendimento: metais preciosos como ouro e rutênio estariam “vazando” do núcleo para o manto terrestre, chegando até a crosta, onde podem ser encontrados em rochas vulcânicas.
O ouro e outros metais preciosos são fundamentais para setores como tecnologia, energia renovável e indústria, o que torna essa descoberta relevante não apenas para a geociência, mas para a economia global.
Pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, liderados por Nils Messling e Matthias Willbold, analisaram amostras de rochas basálticas do Havaí — região conhecida pela presença de uma coluna de rocha quente que conecta o manto ao núcleo. Eles detectaram concentrações incomuns do isótopo 100 do rutênio, um metal raro do grupo da platina, cuja composição química só poderia vir do núcleo da Terra.
“Ao receber os primeiros resultados, percebemos que tínhamos literalmente ‘batido ouro’”, afirmou Messling. “Nosso estudo confirma que material do núcleo, incluindo ouro e outros metais preciosos, está vazando para o manto acima”, complementou Willbold.
Essa descoberta indica que o núcleo da Terra não é um compartimento totalmente isolado, como se pensava, mas sim parte de um processo dinâmico que movimenta grandes volumes de rocha superquente da fronteira núcleo-manto até a superfície. Estima-se que centenas de quadrilhões de toneladas de material desse tipo formem ilhas oceânicas como o Havaí.
Além de ampliar o entendimento sobre a formação geológica de regiões vulcânicas, o estudo sugere que uma parte significativa dos metais preciosos explorados na crosta terrestre pode ter origem no núcleo — e não apenas no material depositado por meteoritos, como indicavam pesquisas anteriores.
“Ainda não sabemos se esse processo acontece desde a formação da Terra, há 4,5 bilhões de anos, ou se é um fenômeno recente. De qualquer forma, abre novas perspectivas sobre a dinâmica interna do nosso planeta”, conclui Messling.