Redação Exame
Publicado em 15 de junho de 2025 às 14h05.
Um novo e enigmático corpo celeste foi descoberto nas profundezas do sistema solar. Identificado como 2017 OF201, o objeto — ainda classificado como candidato a planeta anão — orbita o Sol a mais que o dobro da distância de Plutão e leva cerca de 25 mil anos para completar uma única volta.
Detectado por pesquisadores do Institute for Advanced Study, em Princeton, o astro é agora um dos corpos mais distantes já observados com telescópios ópticos. A descoberta foi anunciada pelo Minor Planet Center da União Astronômica Internacional, em 21 de maio de 2025, e publicada simultaneamente no arXiv. A pesquisa ainda não foi revisada por pares.
O 2017 OF201 possui uma órbita considerada uma das mais excêntricas já registradas entre os objetos transnetunianos. Enquanto seu periélio — ponto mais próximo do Sol — fica a 44,5 unidades astronômicas (UA), o afélio — o ponto mais distante — ultrapassa 1.600 UA.
Segundo Sihao Cheng, membro do IAS e líder da descoberta, essa configuração orbital indica um passado turbulento, possivelmente com interações gravitacionais violentas com planetas gigantes, como Netuno ou Júpiter.
“É provável que ele tenha sido lançado para longe do Sol e até tenha chegado à Nuvem de Oort, antes de retornar”, explica o pesquisador Eritas Yang, coautor do estudo.
O tamanho estimado do objeto — cerca de 700 quilômetros de diâmetro — pode torná-lo o maior corpo encontrado no sistema solar externo desde os anos 2010. Por comparação, Plutão mede 2.377 km, e Eris, 2.326 km.
Se confirmado por observações com radiotelescópios, 2017 OF201 poderá ocupar a segunda posição entre os maiores objetos com órbitas tão amplas, superando Gonggong e Makemake.
Apesar de parecer uma descoberta recente, o objeto foi visto pela primeira vez em imagens captadas entre 2013 e 2020. As 19 exposições utilizadas foram obtidas por dois telescópios: o Victor M. Blanco, no Chile, e o Canada-France-Hawaii, nos Estados Unidos.
O que permitiu a identificação agora foi um algoritmo computacional desenvolvido por Cheng, que cruza movimentos sutis no céu entre diferentes registros para identificar padrões de TNOs — objetos transnetunianos.
Muitos objetos extremos como 2017 OF201 compartilham orientações semelhantes em suas órbitas, um fenômeno que, segundo alguns cientistas, seria explicado pela influência gravitacional de um hipotético “Planeta Nove”.
Contudo, 2017 OF201 quebra esse padrão: sua órbita não se encaixa no suposto agrupamento de TNOs associados ao Planeta Nove. Isso reacende o debate sobre a existência — ou não — desse planeta oculto nos confins do sistema solar.
“É um outlier importante”, afirma Jiaxuan Li, outro coautor do estudo. “Isso pode indicar que nossas premissas sobre o Planeta Nove precisam ser revistas.”
Localizado nos arredores da região do Cinturão de Kuiper, o novo objeto desafia também a suposição de que essa área estaria quase vazia. O fato de que 2017 OF201 passa apenas 1% de sua órbita em posição visível para nossos telescópios sugere que dezenas ou até centenas de objetos semelhantes podem existir ali.
Isso significa que a região além de Netuno pode ser mais rica em corpos massivos do que se imaginava — e que as próximas gerações de telescópios poderão revelar uma nova fronteira planetária.
Outro ponto destacado pelos pesquisadores é o caráter acessível da descoberta. Todos os dados utilizados estavam disponíveis publicamente em arquivos astronômicos.
“Isso mostra que não é preciso ter acesso exclusivo aos maiores telescópios do mundo para fazer grandes descobertas”, diz Li. “Com os algoritmos certos e dedicação, qualquer cientista — até mesmo amadores — poderia ter identificado o 2017 OF201.”
As próximas etapas da pesquisa incluem a obtenção de dados mais precisos sobre o tamanho e a composição do objeto, o que pode ser feito com instrumentos de rádio e infravermelho.
Se for confirmada sua forma esférica e tamanho estimado, 2017 OF201 pode, de fato, ser promovido à categoria de planeta anão.