Ciência

Animais marinhos vencem o tempo — e a ciência finalmente sabe como

Quando mamíferos e aves terrestres migraram para ambientes marinhos, eles evoluíram para estratégias de vida mais lentas

Animais marinhos: ambiente marinho impõe desafios como a dificuldade de encontrar alimento em um espaço vasto (Julie Larsen Maher/Divulgação)

Animais marinhos: ambiente marinho impõe desafios como a dificuldade de encontrar alimento em um espaço vasto (Julie Larsen Maher/Divulgação)

EFE
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Agência de Notícias

Publicado em 12 de maio de 2025 às 10h17.

Um estudo conduzido por várias instituições científicas ligadas a universidades lança luz sobre o mistério da longevidade de baleias e outros animais marinhos. A pesquisa conclui que viver no mar exige uma série de adaptações que aumentam a sobrevivência dos indivíduos e, consequentemente, favorecem vidas mais longas.

O estudo foi liderado pelo Instituto de Biologia Evolutiva (IBE) e pelo CREAF, o Centro de Pesquisa Ecológica e Aplicações Florestais, vinculado à Universidade Autônoma de Barcelona (UAB). Também participaram cientistas do CEAB-CSIC e da Universidade de Barcelona (UB).

Publicado recentemente na revista Nature Communications, o trabalho mostra que, quando mamíferos e aves terrestres migraram para ambientes marinhos, eles evoluíram para estratégias de vida mais lentas.

Na natureza, crescer rapidamente e se reproduzir precocemente é a estratégia de vida mais comum, pois reduz o risco de morrer antes de deixar descendentes. No entanto, nem todos os animais seguem essa lógica.

As baleias-jubarte, por exemplo, só atingem a maturidade entre 10 e 15 anos e têm apenas um filhote a cada poucos anos — o que torna a compreensão dessas estratégias de vida lentas um dos grandes enigmas da biologia evolutiva.

Viver no mar exige adaptações para longevidade

Essa desaceleração do ciclo de vida se explica pelas adaptações exigidas pelo ambiente marinho, que favorecem a sobrevivência a longo prazo. Os pesquisadores demonstraram que uma vida reprodutiva mais longa permite compensar uma fecundidade baixa e um desenvolvimento mais lento.

Segundo Daniel Sol, autor principal do estudo e pesquisador do IBE e do CREAF, “a evolução de vidas lentas não é apenas consequência de maior porte ou menor risco de mortalidade, mas também está relacionada à colonização de novos ambientes”.

O ambiente marinho impõe desafios como a dificuldade de encontrar alimento em um espaço vasto. Tais obstáculos favorecem adaptações que protegem os indivíduos de riscos externos à sobrevivência.

Olhar para o presente para entender o passado

Como estratégias de vida não deixam registros fósseis diretos, os cientistas precisaram usar dados filogenéticos e modelos evolutivos para investigar transformações do passado. Eles reconstruíram transições de habitats terrestres e de água doce para o mar, analisando informações de mais de 90% das espécies atuais de aves e mamíferos.

Ao cruzar esses dados com modelos evolutivos, foi possível identificar ajustes na longevidade, fecundidade e tempo de desenvolvimento associados a essas transições.

Daniel Sol afirma que, “embora entendamos bem por que alguns organismos vivem rápido e morrem jovens, ainda é pouco claro o que sustenta estratégias mais lentas. Sabemos que animais maiores têm metabolismo mais baixo, o que retarda o envelhecimento”.

“Também sabemos que a redução do risco de mortalidade favorece vidas mais longas, pois permite que a seleção natural elimine genes prejudiciais e incentive o investimento na manutenção corporal”, acrescenta.

Desafios do oceano e ameaças modernas

Viver no mar é especialmente difícil para animais cujos ancestrais viviam em terra. As presas estão amplamente distribuídas e muitas habitam grandes profundidades. Para sobreviver, essas espécies desenvolveram maneiras inovadoras de se alimentar em ambientes hostis, como os oceanos gelados.

Essas inovações levaram milhões de anos para surgir, mas, uma vez estabelecidas, garantiram vantagens de sobrevivência e longevidade.

Entretanto, essas mesmas características hoje tornam os mamíferos e aves marinhas vulneráveis a ameaças modernas, como colisões com embarcações, poluição sonora, enredamento em redes de pesca, vazamentos de petróleo e caça ou pesca comercial. Como essas ameaças são recentes na escala evolutiva, esses animais tiveram poucas chances de se adaptar.

Além disso, a reprodução lenta e o longo intervalo entre gerações tornam a recuperação populacional mais difícil, e qualquer ajuste evolutivo necessário pode levar muito tempo para ocorrer.

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