Repórter
Publicado em 14 de setembro de 2025 às 13h08.
Última atualização em 14 de setembro de 2025 às 13h11.
Bilionários que vão de Jeff Bezos, fundador da Amazon, a Sam Altman, CEO da OpenAI, do ChatGPT, estão cada vez mais preocupados em viver para sempre — ou pelo menos chegar bem perto disso.
Segundo o Wall Street Journal, somente nas duas últimas décadas, os investimentos em longevidade somam mais de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões), distribuídos entre mais de 200 startups e ONGs financiadas por aproximadamente mil investidores.
Peter Thiel, cofundador do PayPal, foi um dos pioneiros. Desde 2006, ele apoiou empresas como a Methuselah Foundation, com foco em engenharia de tecidos, e a Unity Biotechnology, voltada ao combate ao envelhecimento celular.
Outro nome de peso é Altman, que investiu US$ 180 milhões na Retro Biosciences para desenvolver terapias que rejuvenescem células envelhecidas. A empresa faz parte da nova geração de climate techs voltadas à saúde humana.
Bezos, por sua vez, apostou na Altos Labs, especializada em reprogramação celular. A Calico Labs, do Google, também se destaca nesse campo, com US$ 1,5 bilhão investidos em parceria com a farmacêutica AbbVie. Já Larry Ellison, da Oracle, doou mais de US$ 370 milhões a pesquisas sobre envelhecimento até 2013.
Estudos recentes apontam que há um limite biológico para a longevidade humana. Uma pesquisa publicada na Nature Communications em 2021, por exemplo afirma que a perda de resiliência fisiológica — a capacidade de se recuperar de doenças ou lesões — impõe um teto natural entre 120 e 150 anos.
A conclusão veio após o monitoramento de variáveis como contagem de células sanguíneas e número de passos diários, em grupos de diferentes faixas etárias. Segundo o estudo, mesmo com hábitos saudáveis, o corpo perde progressivamente a capacidade de retornar ao seu estado ideal após uma doença — um limite inevitável, mesmo sem doenças crônicas.
Jeff Bezos: bilionário investe pesado em pesquisas de longevidade (Getty Images / Edição EXAME)
Por outro lado, pesquisadores como o geneticista David Sinclair, de Harvard, acreditam que já estamos na fronteira da medicina capaz de reverter o envelhecimento. Ele defende a chamada Information Theory of Aging, segundo a qual as células perdem, com o tempo, a “memória” de suas funções originais, como se fossem CDs riscados.
Sinclair já reverteu a perda de visão relacionada à idade em camundongos e prepara testes clínicos com humanos. “A ideia é usar reprogramação epigenética para restaurar células — primeiro dos olhos, depois de rins, fígado e, futuramente, do corpo inteiro”, afirmou ele ao jornal australiano The Sydney Morning Herald.
Empresas como a NewLimit, fundada por Brian Armstrong (Coinbase), apostam na reprogramação epigenética. A startup captou US$ 130 milhões em rodadas recentes. Armstrong, pessoalmente, já investiu mais de US$ 110 milhões.
O empresário Bryan Johnson, com seu Projeto Blueprint, afirma gastar US$ 2 milhões por ano para manter uma rotina rigorosa de exames, dietas e suplementação. Criador da religião “Don’t Die”, ele promove a longevidade como filosofia de vida — ainda que tenha abandonado práticas como transfusões de sangue do próprio filho, por não observar benefícios concretos.
Segundo o geneticista Nir Barzilai, diretor do Instituto de Pesquisas do Envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein, a ciência ainda está longe de garantir 150 anos a qualquer um. “Hoje, o limite realista é em torno de 115 anos, mas terapias emergentes podem estender essa expectativa”, disse ele à Fortune.
Dr. Evelyne Bischof, da Healthy Longevity Medicine Society, destacou ao site americano que fechar a lacuna entre expectativa de vida e saúde plena é mais importante do que viver muitos anos com baixa qualidade de vida.
A chamada medicina da longevidade busca personalizar tratamentos a partir de dados genéticos, biomarcadores e inteligência artificial. “Tratar o corpo como um atleta de elite é a nova abordagem”, disse Andrea Maier, da Universidade Nacional de Singapura, em entrevista à Fortune.
Essa medicina personalizada ainda está restrita aos mais ricos, com acesso a testes, wearables e clínicas exclusivas.
Segundo os especialistas, estamos vivendo um ponto de inflexão histórico. “Viver mais já não é questão de ficção científica, mas de acesso e educação”, conclui Maier.