Ovos de dinossauro: estudo revela como foram postos há 85 milhões de anos (Dr. Bi Zhao/Reprodução)
Redação Exame
Publicado em 14 de setembro de 2025 às 11h34.
Um conjunto de 28 ovos de dinossauro encontrados na reserva fóssil de Qinglongshan, no centro da China, foi datado com precisão inédita em cerca de 85 milhões de anos.
O feito, publicado na revista científica Frontiers in Earth Science, marca a primeira vez que fósseis de ovos são datados com sucesso usando a técnica de datação urânio-chumbo (U-Pb) em carbonatos — um marco para a paleontologia mundial.
O estudo foi conduzido por uma equipe do Instituto de Geociências de Hubei, liderada por Bi Zhao. "Fizemos isso vaporizando fragmentos da casca fossilizada com um micro-laser e medindo a proporção entre átomos de urânio e chumbo. É como um relógio atômico para fósseis", explicou Zhao no estudo.
A nova abordagem evita a necessidade de usar camadas de cinzas vulcânicas ou rochas ao redor dos fósseis como referência, eliminando assim erros causados por deslocamentos geológicos. “Essa técnica revoluciona nossa capacidade de estabelecer cronologias globais de ovos de dinossauro”, disse Zhao.
A reserva de Qinglongshan, a primeira do tipo na China, abriga mais de 3.000 ovos distribuídos em três sítios fósseis. A maioria está preservada em 3D, com formas originais intactas e baixa deformação, o que torna o local único para estudos evolutivos.
Os ovos analisados pertencem provavelmente à espécie Placoolithus tumiaolingensis, da família Dendroolithidae, conhecida por cascas altamente porosas. O exemplar datado veio de um ninho com 28 ovos incrustados em siltito com brechas.
Segundo Zhao, a Terra já passava por um processo de resfriamento global iniciado milhões de anos antes, no período Turoniano (93,9 a 89,8 milhões de anos atrás). Isso pode ter afetado diretamente a diversidade de espécies e os hábitos de nidificação dos dinossauros na região.
A estrutura porosa das cascas pode ter sido uma tentativa de adaptação ao novo clima. “A espécie P. tumiaolingensis pode ter representado um beco evolutivo, sem sucesso na adaptação ao resfriamento global”, afirmou Zhao.
Mesmo com amostras limitadas, os resultados foram consistentes entre si e com a datação das rochas vizinhas, o que reforça a validade do método.
A equipe pretende ampliar o número de amostras para diferentes camadas da reserva de Qinglongshan, construindo assim uma linha do tempo regional detalhada. Zhao também propõe aplicar a técnica em ovos de bacias vizinhas, com o objetivo de mapear possíveis rotas de migração de dinossauros.
“Essa conquista tem implicações importantes para a pesquisa sobre evolução, extinção dos dinossauros e mudanças ambientais na Terra durante o Cretáceo tardio”, declarou Zhao. “Esses fósseis têm o potencial de se tornar narrativas precisas sobre a história do planeta.”