Ciência

Como a dor de dente pode ter sido arma de sobrevivência de peixes há 500 milhões de anos

Pesquisadores identificam que o interior sensível dos dentes humanos evoluiu a partir de odontodes em peixes que nadavam nos oceanos há 465 milhões de anos

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 22 de maio de 2025 às 14h15.

Última atualização em 22 de maio de 2025 às 14h34.

Por que os dentes humanos são tão sensíveis à dor ou a bebidas frias?

Segundo um estudo publicado nesta quarta-feira, 21, na revista Nature, a resposta pode estar em uma função evolutiva muito diferente da mastigação, que remonta a cerca de 500 milhões de anos.

Os precursores dos dentes são estruturas duras chamadas odontoides, que não surgiram na boca, mas na camada externa dos primeiros peixes. Essas protuberâncias cobriam a pele de tubarões, arraias e peixes-gato modernos, deixando a superfície áspera como uma lixa.

Porém, o papel exato desses odontoides foi debatido: algumas teorias apontavam para proteção contra predadores, auxílio na movimentação ou armazenamento de minerais.

O novo estudo apoia a hipótese de que essas estruturas funcionavam originalmente como órgãos sensoriais, transmitindo estímulos ao sistema nervoso.

A pesquisadora Dra. Yara Haridy, da Universidade de Chicago, inicialmente buscava identificar o fóssil de vertebrado mais antigo e analisou centenas de espécimes com scanner de alta precisão. Ao estudar a dentina — a camada interna que envia sinais sensoriais —, um fóssil chamado Anatolepis chamou sua atenção.

Embora Anatolepis tivesse estruturas que pareciam conter dentina, comparações revelaram que seus túbulos se assemelhavam muito mais a sensilas, órgãos sensoriais de artrópodes como caranguejos e escorpiões. Por isso, Anatolepis foi reclassificado como invertebrado.

Essas sensilas nos artrópodes detectam temperatura, vibrações e odores, funções que se mantêm há 500 milhões de anos.

Experimentos recentes com peixes modernos confirmaram a presença de nervos nos dentes externos dos odontoides de tubarões, arraias e peixes-gato. Isso indica que essas estruturas eram sensíveis e desempenhavam um papel sensorial, não apenas mecânico.

A sensibilidade à dor no dente pode ser uma característica herdada desses ancestrais, que usavam essas estruturas para perceber o ambiente e sobreviver em mares antigos repletos de predadores.

À medida que os peixes desenvolveram mandíbulas, essas estruturas pontiagudas passaram a aparecer ao redor e dentro da boca, dando origem aos dentes atuais.

“Uma dor de dente é, na verdade, uma antiga característica sensorial que pode ter ajudado nossos ancestrais peixes a sobreviver”, afirmou Haridy.

O estudo lança nova luz sobre a origem dos dentes e sobre como a evolução aproveitou estruturas sensoriais externas para criar ferramentas essenciais à alimentação e à defesa.

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