Ciência

Como cientistas transformaram fio dental em vacina sem agulha? Método pode prevenir várias doenças

Segundo uma pesquisa desenvolvida por cientistas americanos, nova vacina pode contribuir no tratamento de doenças respiratórias e proteger a medula óssea, da mesma maneira que os imunizantes tradicionais

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 24 de julho de 2025 às 20h31.

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Pesquisadores das universidades Texas Tech e da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, desenvolveram um fio dental que atua como vacina, permitindo a imunização sem o uso de agulhas. O estudo, publicado na Nature Bioengineering, descreve como a tecnologia foi capaz de entregar proteínas e vírus inativados à gengiva de camundongos, estimulando a resposta imunológica contra doenças.

O objetivo principal era criar vacinas aplicáveis em regiões úmidas do corpo, como boca e nariz, que são portas de entrada comuns para vírus. De acordo com a Science, essa abordagem é desafiadora, pois essas áreas do corpo possuem defesas naturais robustas contra substâncias externas.

Como a pesquisa foi conduzida?

Harvinder Gill, engenheiro especializado em nanomedicina na Universidade Estadual da Carolina do Norte, explicou à Science que a ideia surgiu ao estudar doenças gengivais. Durante a pesquisa, ele percebeu que o sulco gengival — o espaço entre dentes e gengiva — tem grande capacidade de absorver moléculas.

"Foi quando surgiu a ideia", disse Gill, autor sênior do estudo. "Se essa área for permeável, podemos usá-la para vacinação?". A partir disso, ele convidou um colega da Universidade Tecnológica do Texas para testar a teoria, aplicando fio dental em um camundongo.

Nos experimentos, Gill utilizava um anel metálico para manter a mandíbula do roedor posicionada enquanto seu colega passava o fio dental. O fio continha uma proteína modificada para brilhar no escuro, e os testes revelaram que a gengiva absorveu 75% da proteína.

Após dois meses de uso contínuo, os camundongos apresentaram melhora em seus sistemas imunológicos em resposta à proteína. A análise dos cientistas mostrou aumento nos anticorpos encontrados nos pulmões, nariz, baço e nas fezes.

Os pesquisadores avançaram para o teste com um vírus inativo da gripe, incorporado ao fio dental, com o intuito de verificar se o corpo dos camundongos desenvolveria imunidade contra o vírus.

Cerca de 50 roedores foram imunizados com o fio dental durante duas semanas, dentro de um período de 28 dias. Após os testes, os camundongos foram expostos ao vírus da gripe real. Os resultados mostraram que os animais que receberam a imunização sobreviveram, enquanto os não imunizados morreram.

Os camundongos sobreviventes apresentaram anticorpos nas fezes, saliva, pulmões, baço e células T — glóbulos brancos essenciais na resposta imunológica. Além disso, anticorpos foram detectados na medula óssea, indicando que o sistema imunológico dos roedores estava preparado para enfrentar o vírus inativo do fio dental. As respostas observadas foram semelhantes às de vacinas injetáveis administradas no nariz.

Próximos passos

Agora, os cientistas pretendem testar a tecnologia em seres humanos. Aproximadamente 27 voluntários saudáveis utilizaram o fio dental com corante alimentar, e 60% dos participantes apresentaram aderência da proteína à gengiva.

Outros pesquisadores estão interessados em explorar o uso do fio dental no tratamento de doenças gengivais. No entanto, mais ensaios clínicos são necessários para confirmar sua eficácia. "Imagine ir ao dentista e, durante a consulta, seu médico administrar uma vacina desse tipo", conclui Gill.

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