Após a morte, enzimas cerebrais iniciam um processo chamado autólise, que leva à liquefação do cérebro em poucos dias (Getty Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 11 de agosto de 2025 às 17h40.
Última atualização em 11 de agosto de 2025 às 18h08.
A cientista Alexandra Morton-Hayward, antropóloga forense e pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, trabalha com espécimes preservados armazenados em duas geladeiras. Um dos objetos que ela mantém é um cérebro apelidado de "Rusty", devido à sua coloração avermelhada e tamanho reduzido.
Durante a pós-graduação, ela teve contato com cérebros preservados encontrados em sítios arqueológicos. Em 1994, a arqueóloga Sonia O'Connor examinou restos mortais escavados em Hull, Inglaterra, onde cerca de 250 sepulturas foram exumadas de um antigo mosteiro. Um dos crânios revelou uma massa marrom com dobras superficiais, identificada como um cérebro preservado por mais de 400 anos, segundo a BBC.
Após a morte, enzimas cerebrais iniciam um processo chamado autólise, que leva à liquefação do cérebro em poucos dias. Morton-Hayward observou esse processo pela primeira vez durante uma autópsia realizada na funerária em que trabalhava.
A ciência ainda não compreende completamente por que alguns cérebros resistem à deterioração por séculos. Morton-Hayward aponta que a agregação de lipídios e proteínas, acelerada pela presença de íons metálicos como o ferro, pode contribuir para essa preservação. O ferro é essencial para o funcionamento cerebral, mas se acumula com a idade e em doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. Esse acúmulo também pode tornar o cérebro mais resistente à decomposição.
A preservação de cérebros humanos entre restos de esqueletos, sem a presença de outros tecidos moles, era considerada um evento raro. No entanto, Alexandra Morton-Hayward e pesquisadores da Universidade de Oxford apresentaram evidências contrárias, de acordo com a BBC.
Em um estudo publicado na revista Proceedings of the Royal Society em 2024, os pesquisadores compilaram um arquivo com mais de 4 mil cérebros humanos preservados. O levantamento abrange achados em seis continentes, com exceção da Antártida.
Alguns dos cérebros têm até 12 mil anos. Os locais de descoberta incluem margens de lago na Suécia, datadas da Idade da Pedra; uma mina de sal no Irã, com registros por volta de 500 a.C.; e áreas montanhosas no atual território do Peru, associadas ao período do Império Inca.