Chip cerebral: startup chinesa entra na corrida (Moor Studio/Getty Images)
Repórter
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 05h52.
Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 08h34.
Elon Musk acaba de ganhar uma concorrente de peso em sua empreitada com a Neuralink, empresa especializada em chips cerebrais.
Dessa vez, a startup chinesa Shanghai StairMed Technology é um dos principais destaques no campo das interfaces cérebro-computador (BCI, na sigla em inglês), e busca desenvolver uma tecnologia inovadora que já começa a ser usada com sucesso em pacientes paraplégicos e amputados.
Em um dos testes clínicos realizados pela StairMed, a empresa demonstrou o uso de um implante do tamanho de uma moeda que permite aos pacientes controlar dispositivos externos com o poder da mente.
Em maio, a startup divulgou um vídeo que mostrava um paciente com tetra-amputação jogando um videogame e usando um mousepad de computador com apenas seus pensamentos, após o implante da tecnologia.
O avanço é um reflexo de um trabalho a longo prazo da Shanghai StairMed Technology, que tem como diferencial um implante de fácil inserção, por meio de uma pequena punção craniana de 3 a 5 milímetros, o que exige uma incisão menor do que outros sistemas concorrentes.
A Neuralink, de Musk, por exemplo, remove um pequeno disco do crânio para a cirurgia. O procedimento é necessário para a colocação do implante, que tem aproximadamente o diâmetro de uma moeda de 25 centavos de dólar (um pouco maior que uma moeda de R$ 1).
Já o dispositivo da StairMed conta com eletrodos ultra-flexíveis, 100 vezes mais macios do que os de modelos concorrentes e com diâmetro inferior ao de um fio de cabelo, o que permite a redução de danos ao tecido cerebral e facilita uma gravação mais precisa e estável dos sinais neurais ao longo do tempo.
Com a promessa de ser um produto mais compacto, o implante da StairMed possui 26 milímetros de diâmetro e menos de 6 milímetros de espessura, aproximadamente metade do tamanho de concorrentes como o da Neuralink. Seu funcionamento sem fio também elimina a necessidade de uma bateria interna.
O mercado global de interfaces BCI está em rápida expansão e deve alcançar um crescimento significativo nos próximos anos — o que justifica o aumento da concorrência no setor.
Estima-se que o valor de mercado do setor, que foi de US$ 1,74 bilhão em 2022, chegue a US$ 6,2 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) de 17,5%, segundo a Grand View Research.
A consultoria ainda indica que o mercado de BCI gerou uma receita de US$ 2,435,6 milhões em 2024, com um crescimento para US$ 6.515,5 milhões até 2030, em uma taxa de crescimento de 18,2% no período de 2025 a 2030.
Outras projeções indicam um crescimento contínuo, com alguns estudos prevendo que o mercado de BCI, avaliado em US$ 2,1 bilhões em 2023, atingirá US$ 4,5 bilhões até 2029, com uma CAGR de 14,2%, de acordo com dados da BCC Research.
As estimativas da Mordor Intelligence sugerem que o mercado, avaliado em US$ 1,27 bilhão em 2025, chegará a US$ 2,11 bilhões em 2030, com uma CAGR de 10,29% entre 2025 e 2030.
O crescimento, para os analistas, está sendo impulsionado por uma série de fatores, incluindo avanços significativos na neurociência e na inteligência artificial, a crescente demanda por soluções personalizadas e eficientes, e o aumento da prevalência de doenças neurodegenerativas, como a ALS, Parkinson e Alzheimer.
O crescente interesse por BCIs em setores como jogos, entretenimento e até mesmo aplicações em ambientes inteligentes e militares tem ampliado ainda mais o mercado, segundo os especialistas.
A Neuralink, fundada por Musk, é uma das pioneiras no desenvolvimento de interfaces cérebro-computador. O projeto tem como objetivo criar uma tecnologia capaz de conectar o cérebro humano diretamente a dispositivos eletrônicos, como computadores e próteses, para restaurar funções motoras e cognitivas, além de possibilitar a comunicação entre cérebros e máquinas.
A empresa busca implementar chips cerebrais que possam ser inseridos no cérebro com o auxílio de uma tecnologia minimamente invasiva. Ao contrário de outras empresas, que utilizam dispositivos maiores e mais invasivos, a Neuralink foca em criar dispositivos compactos, com eletrodos finos e flexíveis, que se integram diretamente às células nervosas do cérebro, permitindo a transmissão e leitura de sinais neurais com alta precisão.
A ambição da Neuralink vai além da medicina. Musk declarou em várias entrevistas que acredita que a tecnologia BCI pode não apenas ajudar a curar doenças neurológicas, mas também melhorar as capacidades humanas. "O objetivo é, eventualmente, permitir uma simbiose entre humanos e inteligência artificial (IA), criando uma interface direta entre o cérebro e as máquinas", disse ele.
E os planos da Neuralink são ambiciosos, incluindo a meta de implantar chips em 20 il pessoas anualmente até 2031, com o objetivo de gerar pelo menos US$ 1 bilhão em receita por ano. Segundo a Bloomberg, a empresa já tem 12 pacientes ao redor do mundo usando seus implantes cerebrais, e continua a expandir suas pesquisas e desenvolvimento, com a promessa de que a tecnologia ajudará a transformar a medicina e a comunicação humana.
Com isso, surge mais um questionamento: seria a próxima guerra de tecnologia entre EUA e China uma sobre chips cerebrais?