Ciência

Imune ao fogo, frio e espaço: conheça o animal mais resistente do universo

Medindo até 1 mm, os tardígrados são animais microscópicos conhecidos como um dos organismos mais resistentes do planeta

Tardígrados: animais microscópicos conhecidos como um dos organismos mais resistentes do planeta (	dottedhippo/Getty Images)

Tardígrados: animais microscópicos conhecidos como um dos organismos mais resistentes do planeta ( dottedhippo/Getty Images)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 26 de novembro de 2025 às 14h25.

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Os filmes trouxeram ao imaginário seres com "superpoderes" ou mutações genéticas capazes de ações extraordinárias. Por esses atributos, os personagens são quase invencíveis em grandes batalhas e resistentes à qualquer ameaça. Apesar dessas criações da ficção científica, a Terra abriga seres vivos com habilidades semelhantes. Mesmo sendo inferiores aos humanos em tamanho, eles nos superam pela capacidade de resistir a quase tudo.

Com tamanho variando entre 0,1 mm e 1 mm, os tardígrados são animais microscópicos reconhecidos por suas oito patas com garras e sua aparência translúcida, que lhes rendeu o apelido popular de urso-d’água. Eles estão entre os organismos mais resistentes do planeta.

Segundo informações divulgadas pela BBC, existem mais 1.500 espécies desses invertebrados, que ocupam habitats tão diversos quanto musgos urbanos, solos tropicais, geleiras, fontes termais e o fundo oceânico. Mesmo em condições que inviabilizam outras formas de vida, os tardígrados mantêm funções biológicas ativas.

Supervivência em ambientes extremos

Apesar de sua aparência simples e mobilidade limitada, os tardígrados demonstram notável resistência térmica. Eles suportam temperaturas de até -272 °C e sobrevivem, por períodos curtos, a mais de 150 °C. Em comparação, o corpo humano entra em colapso abaixo de 35 °C e pode não resistir acima dos 50 °C.

Esses organismos também enfrentam pressões de até 6.000 atmosferas, equivalente ao que esmagaria submarinos modernos. Sob essas condições, entram em estado de criptobiose, um processo de suspensão metabólica que pode durar décadas.

A resistência dos tardígrados à radiação inclui exposições de até 6.000 Gy – mil vezes superiores ao limiar letal humano. Eles toleram desde raios-x até radiação cósmica, fator que despertou interesse da comunidade científica por sua possível aplicação em biotecnologia e missões espaciais.

Em 2007, a Agência Espacial Europeia enviou espécimes à órbita terrestre na missão FOTON-M3. Durante a experiência, os animais resistiram à exposição direta ao vácuo, à radiação solar e às variações extremas de temperatura. Alguns retornaram não apenas vivos, como biologicamente ativos, com capacidade reprodutiva preservada.

O segredo está na adaptação celular

A resiliência dos tardígrados está associada à sua composição proteica única. Durante a desidratação, proteínas chamadas TDPs, sigla para tardigrade-specific intrinsically disordered proteins, formam uma matriz vítrea que preserva as estruturas celulares.

Outra molécula central é a Dsup, ou damage suppressor, que atua como escudo genético contra quebras no DNA causadas por radiação. Ambas as proteínas seguem em análise por pesquisadores interessados em aplicações médicas e espaciais.

Mesmo com expectativa de vida ativa limitada a meses, os tardígrados podem permanecer em estado de suspensão por décadas. Durante esse período, eles sobrevivem sem água, oxigênio ou atividade metabólica perceptível, o que reconfigura o conceito biológico de “estar vivo”.

Por seu comportamento extremo, esses seres microscópicos passaram a ser objeto central de pesquisas em astrobiologia, ciência que estuda as condições mínimas para a vida fora da Terra. A existência dos tardígrados reforça hipóteses de que formas de vida similares poderiam sobreviver em ambientes extraterrestres hostis.

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