Ciência

Índia investe em 'semeadura de nuvens' para melhorar a qualidade do ar

Governo aposta em técnica não reconhecida por toda a comunidade científica para criar chuva artificial e lutar contra a poluição

Chuva artificial: Índia começa semeadura de nuvens  (Saumya Khandelwal/Reuters)

Chuva artificial: Índia começa semeadura de nuvens (Saumya Khandelwal/Reuters)

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 15h44.

O país mais populoso do mundo, a Índia, iniciou nesta semana um teste com chuva artificial para melhorar a qualidade do ar da capital Nova Déli.

A inciativa foi anunciada nesta quinta-feira, 23, por meio de uma postagem nas redes sociais da Ministra-Chefe da cidade, Rekha Gupta: "se as condições permanecerem favoráveis, Déli terá sua primeira chuva artificial em 29 de outubro." 

O anúncio ocorre logo após a cidade receber o Diwalli, uma comemoração hindu conhecida como "festival de luzes". Segundo o grupo suíço IQAir, a poluição do ar da capital indiana alcançou o nível mais alto do mundo e Déli amanheceu coberta por uma fumaça tóxica. O uso intenso de fogos de artifício durante o festival agravou a situação da qualidade do ar.

Semeadura de nuvens

A técnica que está sendo utilizada pelo governo de Déli consiste em liberar partículas de iodeto de prata na atmosfera por meio de aviões ou drones. Essa substância estimularia a condensação da água já existente nas nuvens para provocar a precipitação.

Cientistas explicam que a semeadura não 'cria' chuva, mas pode aumentar um pouco a quantidade de gotículas de água e, como consequência, elevar as chances de chuva.

Um estudo de 2020 publicado no Proceedings of the National Academies of Sciences indicou que uma experiência de semeadura de nuvens pode ter produzido até 10% mais precipitação do que teria caído naturalmente.

Essa técnica, entretanto, ainda não é consenso na comunidade científica, pois que depende da existência prévia de nuvens no céu.

Problema estrutural

Em entrevista ao jornal The Guardian, os professores Shahzad Gani e Krishna AchutaRao, do Centro de Ciências Atmosféricas de Nova Déli, questionaram a eficácia da semeadura de nuvens.

“Não há evidências sólidas e pouco se sabe sobre os efeitos a longo prazo dos produtos químicos usados nesse processo para a saúde e o solo agrícola”, afirmaram os cientistas.

Eles também argumentam que a técnica não resolvem os problemas estruturais que prejudicam a qualidade do ar na Índia, como as emissões de veículos, as queimadas agrícolas e a poluição industrial.

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