Ciência

Lobo-terrível: cientista revela ser impossível recriar espécie extinta; entenda

A biotecnologia permite aproximações genéticas, mas a recriação fiel de espécies extintas ainda enfrenta obstáculos técnicos e éticos

Lobos gigantes: empresa afirma ser impossível desextinção de animais (YouTube/Reprodução)

Lobos gigantes: empresa afirma ser impossível desextinção de animais (YouTube/Reprodução)

Raphaela Seixas
Raphaela Seixas

Estagiária de jornalismo

Publicado em 23 de maio de 2025 às 12h26.

A ideia de recriar espécies extintas, como o lobo-terrível (Aenocyon dirus) pode ser impossível.

O caso tem despertado enorme interesse científico e midiático nos últimos meses, especialmente após o anúncio da empresa americana Colossal Biosciences sobre o nascimento de filhotes com características de uma espécie extinta há cerca de 12 mil anos.

No entanto, Beth Shapiro, cientista-chefe da Colossal Biosciences — startup que alegou ter recriado uma espécie de lobos pré-históricos — admitiu ser impossível recriar uma espécie extinta em sua forma original.

Limitações do DNA e avanços na edição genética

O principal desafio está na qualidade e integridade do DNA disponível, segundo Shapiro. O DNA de animais extintos está fragmentado e degradado pelo tempo, o que impede a clonagem tradicional, como a que foi imaginada em obras de ficção como "Jurassic Park".

Para tentar superar essa limitação, os cientistas utilizam técnicas avançadas de edição genética, como o CRISPR-Cas9, que permite modificar o genoma de espécies próximas — no caso do lobo-terrível, o lobo-cinzento — inserindo genes que conferem algumas características da espécie extinta.

Mesmo assim, o resultado não é um lobo-terrível verdadeiro, mas sim um híbrido que possui traços semelhantes, não uma recriação fiel da espécie original.

O que disse a especialista?

Em entrevista à revista New Scientist na última quinta-feira, 22, a cientista explicou “Nunca escondemos isso. As pessoas ficaram bravas porque chamávamos os animais de lobos terríveis […], mas desde o início deixamos claro que são lobos cinzentos com 20 edições genéticas”. Shapiro afirmou que a empresa utilizou o nome da espécie extinta apenas para facilitar o entendimento do público, reforçando que não se trata de uma verdadeira “recriação” dos lobos-terríveis.

“Ainda não é possível trazer de volta algo idêntico a uma espécie que já existiu. É uma ciência inovadora e transformadora — só não é desextinção”, disse a cientista-chefe da Colossal Biosciences. Sobre críticas de que a empresa minimizaria a importância da conservação dos animais, ela declarou que “agora, de repente, isso está ligado à ideia de que não precisamos nos importar. É terrível”.

Richard Grenyer, pesquisador da Universidade de Oxford, comentou em entrevista à New Scientist que a declaração de Shapiro contradiz o que a empresa anunciou sobre a restauração de espécies extintas. “Vejo uma séria inconsistência entre a declaração e as ações, além do material publicitário da empresa — incluindo o conteúdo padrão do site, não apenas o briefing de imprensa sobre o lobo-terrível”, afirmou.

Implicações biológicas, éticas e ecológicas da desextinção

Além disso, a complexidade biológica da "desextinção" é enorme.

Mesmo com DNA parcialmente recuperado, a clonagem enfrenta altas taxas de falhas no desenvolvimento embrionário, riscos de malformações e dificuldades na gestação, como demonstrado em tentativas anteriores com outras espécies extintas, como o bucardo, segundo a cientista da startup.

Isso reforça que o processo está longe de ser uma “ressurreição” real, que o torna mais uma recriação genética aproximada.

Outro ponto importante é o debate ético e ecológico. A reintrodução de animais híbridos em ambientes naturais pode trazer consequências imprevisíveis para os ecossistemas atuais, que mudaram significativamente desde a extinção dessas espécies.

Além disso, os animais criados em laboratório geralmente enfrentam dificuldades para sobreviver em liberdade, o que pode condená-los a uma vida em cativeiro, contrariando o objetivo de restaurar o papel ecológico original da espécie.

Objetivos da "desextinção"

O principal objetivo da Colossal com seus projetos de "desextinção" é a restauração de ecossistemas e o aumento da biodiversidade. Por exemplo, o mamute lanoso poderia ajudar a restaurar a tundra ártica, onde seu pastoreio poderia prevenir a degradação do solo e reduzir a emissão de metano, um gás de efeito estufa.

Além disso, o retorno de espécies como o tilacino poderia restabelecer o equilíbrio dos predadores e presas em ecossistemas afetados pela extinção de grandes predadores.

A empresa também está aplicando suas tecnologias para preservação ambiental. Embora a recriação de espécies extintas seja o foco principal, a Colossal também está trabalhando em tecnologias de conservação para melhorar a resistência das espécies ameaçadas, tornando-as mais adaptáveis a mudanças ambientais e protegendo-as contra futuras extinções.

Embora o foco inicial da Colossal não seja a recriação de lobos gigantes, sua abordagem científica poderia ser adaptada para outras espécies no futuro. À medida que a tecnologia evolui, novas oportunidades para restaurar a biodiversidade surgirão, e as descobertas feitas pela Colossal poderão expandir os limites do que é possível na biotecnologia e na preservação ambiental.

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