O cometa 3I/ATLAS entrou no Sistema Solar como quem cruza uma rua sem diminuir o passo: rápido, raro e vindo de fora. Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo sistema ATLAS, ele se move a cerca de 58 km/s, a maior velocidade entre objetos interestelares já registrados.
Um artigo recém-submetido ao arXiv simulou o passado e o futuro da trajetória do 3I/ATLAS para entender de onde ele veio, como os planetas afetam sua rota e qual caminho seguirá ao deixar a vizinhança do Sol.
O terceiro visitante de fora do Sistema Solar
O estudo lembra que objetos interestelares são corpos formados fora do Sistema Solar e arremessados para o espaço interestelar, até cruzarem outro sistema estelar. Antes do 3I/ATLAS, só dois casos foram confirmados: o asteroide 1I/‘Oumuamua e o cometa 2I/Borisov.
O 3I/ATLAS tem órbita extremamente aberta, com excentricidade de 6,13 e periélio a 1,357 au do Sol.
Marte quase não mexe, Júpiter mexe muito
Os autores analisaram dois encontros próximos:
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Com Marte, em 3 de outubro de 2025, a cerca de 0,194 au.
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Com Júpiter, em 16 de março de 2026, a cerca de 0,357 au.
A simulação mostrou que o efeito de Marte é mínimo, porque o cometa passa longe do raio de influência gravitacional do planeta. Já Júpiter altera de forma significativa a órbita, pois o 3I/ATLAS cruza muito perto do raio de Hill do gigante gasoso.
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores criaram 500 “clones” orbitais do cometa, com pequenas variações possíveis nos dados observados, e rodaram integrações de longo prazo com o pacote REBOUND.
De onde veio e para onde vai
Ao reconstruir a trajetória por 100 anos no passado, as simulações indicam que o cometa entrou no Sistema Solar vindo da direção da constelação de Sagitário. No futuro, ele deve sair na direção da constelação de Gêmeos.
O estudo afirma que a origem galáctica exata ainda é incerta, porque a velocidade do cometa coloca o objeto em uma zona de transição entre duas regiões da Via Láctea, o que impede uma conclusão definitiva sem novos dados.
Jatos de gás podem mudar os cálculos
Além da gravidade planetária, o artigo testou o efeito de forças não gravitacionais, como a desgaseificação típica de cometas. Essas forças funcionam como empurrões fracos causados pela sublimação de gelo.
Com base em quase quatro mil observações, o trabalho estimou valores iniciais para essas acelerações, com A1 ≈ 1,5 × 10⁻⁶ au/dia² e A2 ≈ 2,74 × 10⁻⁶ au/dia².
As simulações indicam que acelerações abaixo de 10⁻⁷ au/dia² quase não mudam a rota, mas valores entre 10⁻⁵ e 10⁻⁶ au/dia² podem alterar a trajetória futura de forma relevante.
Melhor janela para observar: março de 2026
O estudo também calculou quando a sonda Juno, que orbita Júpiter, terá melhor posição para acompanhar o cometa. A janela ideal vai de 9 a 22 de março de 2026, período em que a nave ficará perto o suficiente para observações com elongação solar adequada.
Os autores ressaltam que novas observações serão necessárias para confirmar a força real dos jatos de gás e, assim, refinar a previsão de saída do 3I/ATLAS após a passagem por Júpiter.
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