Ciência

Marte ignora, Júpiter interfere: a rota incerta do cometa 3I/ATLAS

Objeto interestelar deve cruzar a órbita de Júpiter em 2026 e pode ter vagado sozinho por 10 bilhões de anos

3I/ATLAS  (Филипп Романов/Wikimedia Commons)

3I/ATLAS (Филипп Романов/Wikimedia Commons)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 27 de novembro de 2025 às 08h24.

O cometa 3I/ATLAS entrou no Sistema Solar como quem cruza uma rua sem diminuir o passo: rápido, raro e vindo de fora. Descoberto em 1º de julho de 2025 pelo sistema ATLAS, ele se move a cerca de 58 km/s, a maior velocidade entre objetos interestelares já registrados.

Um artigo recém-submetido ao arXiv simulou o passado e o futuro da trajetória do 3I/ATLAS para entender de onde ele veio, como os planetas afetam sua rota e qual caminho seguirá ao deixar a vizinhança do Sol.

O terceiro visitante de fora do Sistema Solar

O estudo lembra que objetos interestelares são corpos formados fora do Sistema Solar e arremessados para o espaço interestelar, até cruzarem outro sistema estelar. Antes do 3I/ATLAS, só dois casos foram confirmados: o asteroide 1I/‘Oumuamua e o cometa 2I/Borisov.

O 3I/ATLAS tem órbita extremamente aberta, com excentricidade de 6,13 e periélio a 1,357 au do Sol.

Marte quase não mexe, Júpiter mexe muito

Os autores analisaram dois encontros próximos:

  • Com Marte, em 3 de outubro de 2025, a cerca de 0,194 au.

  • Com Júpiter, em 16 de março de 2026, a cerca de 0,357 au.

A simulação mostrou que o efeito de Marte é mínimo, porque o cometa passa longe do raio de influência gravitacional do planeta. Já Júpiter altera de forma significativa a órbita, pois o 3I/ATLAS cruza muito perto do raio de Hill do gigante gasoso.

Para chegar a esse resultado, os pesquisadores criaram 500 “clones” orbitais do cometa, com pequenas variações possíveis nos dados observados, e rodaram integrações de longo prazo com o pacote REBOUND.

De onde veio e para onde vai

Ao reconstruir a trajetória por 100 anos no passado, as simulações indicam que o cometa entrou no Sistema Solar vindo da direção da constelação de Sagitário. No futuro, ele deve sair na direção da constelação de Gêmeos.

O estudo afirma que a origem galáctica exata ainda é incerta, porque a velocidade do cometa coloca o objeto em uma zona de transição entre duas regiões da Via Láctea, o que impede uma conclusão definitiva sem novos dados.

Jatos de gás podem mudar os cálculos

Além da gravidade planetária, o artigo testou o efeito de forças não gravitacionais, como a desgaseificação típica de cometas. Essas forças funcionam como empurrões fracos causados pela sublimação de gelo.

Com base em quase quatro mil observações, o trabalho estimou valores iniciais para essas acelerações, com A1 ≈ 1,5 × 10⁻⁶ au/dia² e A2 ≈ 2,74 × 10⁻⁶ au/dia².

As simulações indicam que acelerações abaixo de 10⁻⁷ au/dia² quase não mudam a rota, mas valores entre 10⁻⁵ e 10⁻⁶ au/dia² podem alterar a trajetória futura de forma relevante.

Melhor janela para observar: março de 2026

O estudo também calculou quando a sonda Juno, que orbita Júpiter, terá melhor posição para acompanhar o cometa. A janela ideal vai de 9 a 22 de março de 2026, período em que a nave ficará perto o suficiente para observações com elongação solar adequada.

Os autores ressaltam que novas observações serão necessárias para confirmar a força real dos jatos de gás e, assim, refinar a previsão de saída do 3I/ATLAS após a passagem por Júpiter.

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