Oceano: estudo aponta que mudanças climáticas e ações humanas podem aumentar a concentração de mercúrio e colocar em risco humanos e vida marinha (André Motta de Souza / Agência Petrobras)
Repórter
Publicado em 4 de outubro de 2025 às 06h01.
Um estudo de uma equipe internacional de cientistas chineses, americanos e holandeses sobre os riscos do mercúrio no mar, publicado em setembro, no jornal acadêmico Nature Sustainability, sugere que atividades humanas e mudanças climáticas estão tendo efeitos em sedimentos da plataforma continental – formação rochosa que forma a base dos continentes – e causando liberação acelerada de mercúrio nos oceanos.
“As plataformas continentais agem como os ‘rins’ do oceano, filtrando mercúrio tóxico da água e reduzindo riscos a pesqueiros e à saúde humana. Todavia, atividades de pesca de arrasto e dragagem estão agindo como ‘bisturis’ danificando as placas e sua função vital”, diz o coautor do estudo Wang Xuejung, em entrevista ao veículo chinês Xinhua.
De acordo com o estudo, atividades humanas como a pesca de arrasto e dragagens em busca de petróleo movimentam cerca de 5.000 toneladas de mercúrio acumulado no sedimento todos os anos, ou 4 vezes a quantia que é armazenada por ciclos naturais.
Ao mesmo tempo, mudanças climáticas pioram a situação. Com o aumento na temperatura dos oceanos, mais mercúrio é liberado dos sedimentos.
Modelos do estudo preveem que, com um aumento de temperatura de 1.5 a 5 graus Celsius na temperatura média do mar, o volume liberado de mercúrio pode aumentar de 6 a 21%, respectivamente.
“Quando os redes de pesca lavram o fundo do mar, podem acelerar a liberação de mercúrio histórico, enterrado há décadas ou mesmo séculos. Uma vez reativado, esse ‘mercúrio residual’ pode reentrar nas cadeias alimentares e representar novos riscos”, diz Liu Maodian, outro coautor do estudo, à Xinhua.
“Proteger o sumidouro de mercúrio da plataforma continental está intimamente ligado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, servindo como um escudo para a saúde humana e um guardião dos ecossistemas marinhos”, acrescentou Liu. “Somente integrando a gestão do mercúrio, as políticas pesqueiras e as metas de neutralidade de carbono poderemos proteger esta última linha de defesa.”
De acordo com o estudo, o maior risco da liberação de mercúrio nos ciclos marítimos é seu acúmulo na cadeia alimentar.
Por ser altamente tóxico, se passar a fazer parte do organismo dos peixes que consumimos, seus efeitos podem se estender aos seres humanos, em processo chamado ‘bioacumulação’, semelhante a intoxicação por microplásticos de peixes pegos em áreas poluídas.
A pesquisa mediu níveis de acúmulo do elemento nas placas continentais de até 6 vezes maior dos que os previstos pelas Nações Unidas.
Desde a revolução industrial, o nível acumulado vem aumentando drasticamente, sugerindo que grande parte do mercúrio nesses sedimentos é de origem humana, ou antropogênico.
O estudo alerta:
“Extrapolando a partir de dados empíricos, parece que a pesca de arrasto, a dragagem e o aquecimento podem transformar os sedimentos costeiros de sumidouros de mercúrio em fontes líquidas Nossas descobertas destacam a necessidade urgente de reduzir as emissões antropogênicas de mercúrio e gases de efeito estufa e equilibrar a demanda pesqueira com a conservação do ecossistema para sustentar esses sumidouros críticos de mercúrio.”