Ciência

Múmia misteriosa pode ter sido preservada com técnica inédita, revelam cientistas

Técnica nunca antes descrita, que usa madeira e zinco, pode ter sido usada para preservar corpo de vigário morto em 1746

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 14 de maio de 2025 às 11h26.

Última atualização em 14 de maio de 2025 às 11h36.

Restos humanos bem preservados, guardados por séculos em uma cripta no norte do rio Danúbio, geraram muitos rumores sobre sua origem. Um clérigo do século 18, aparentemente vítima de uma doença infecciosa, foi apontado como o responsável pelas condições excepcionais de preservação. Mas novas análises científicas trazem à tona descobertas inéditas sobre o caso.

A figura conhecida como "capelão seco ao ar" foi objeto de estudo intensivo após uma reforma inesperada na igreja de St. Thomas am Blasenstein, onde os restos foram mantidos.

Aproveitando a oportunidade, uma equipe de cientistas, liderada por Andreas Nerlich, professor da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, conduziu uma série de exames sofisticados para elucidar o mistério por trás dessa mumificação.

Durante a análise com tomografia computadorizada (TC), a equipe fez uma descoberta surpreendente: a cavidade abdominal e pélvica do corpo estava recheada com materiais como lascas de madeira de pinheiro e abeto, tecido de linho, cânhamo e até mesmo tecidos bordados delicadamente.

Surpreendentemente, a análise toxicológica detectou também traços de cloreto de zinco e outros elementos. Para os pesquisadores, essa combinação de substâncias foi o que manteve a preservação do corpo em um estado quase "seco ao ar".

A técnica de embalsamamento descoberta no capelão não é como as mais conhecidas, como as do Egito antigo, que envolviam a abertura do corpo.

"Este método parece único e não foi documentado antes", afirmou Nerlich em entrevista à CNN. O especialista acredita que tal técnica pode ter sido amplamente utilizada no século 18 para preservar corpos durante o transporte ou exibição.

Ao lado de especialistas como Gino Caspari, arqueólogo e editor de The Book of Mummies, Nerlich destaca que a nova tecnologia interdisciplinar permitiu extrair mais informações valiosas do que simples ossos, revelando dados sobre doenças, tratamentos médicos e até hábitos culturais da época.

"A mumificação, de maneira geral, foi muito mais diversificada e disseminada no passado do que imaginamos", disse Caspari à CNN.

Além disso, estudos radiocarbônicos confirmaram que o corpo pertencia a Franz Xaver Sidler von Rosenegg, um aristocrata que foi monge e, posteriormente, vigário da paróquia de St. Thomas am Blasenstein até sua morte em 1746, aos 37 anos.

Detalhes sobre sua alimentação também foram revelados: Sidler tinha uma dieta rica, com grande consumo de carne, compatível com a classe social de um vigário rural.

Contrariando rumores anteriores de envenenamento, a pesquisa concluiu que Sidler morreu provavelmente de tuberculose crônica, com complicações graves, como hemorragia pulmonar. As descobertas incluem também uma pequena esfera de vidro na cavidade pélvica, parte possivelmente de um rosário, que antes fora identificada em um exame de raios X como uma cápsula venenosa, levantando especulações sobre um possível assassinato.

Por fim, a pesquisa revelou que, em vez de ser exumado e transferido, o corpo nunca foi enterrado, mas estava destinado a retornar ao seu mosteiro de origem, 15 quilômetros de distância, uma viagem que, por motivos desconhecidos, nunca aconteceu.

As descobertas, publicadas na Frontiers in Medicine, fornecem um novo olhar sobre as práticas de mumificação e a vida de um clérigo do século 18.

Embora a questão do uso de cloreto de zinco ainda precise de mais investigações, as revelações são um grande passo para a compreensão de antigos métodos de preservação.

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