Pesquisadores registraram pela primeira vez orcas criando ferramentas a partir de algas marinhas no mar de Salish, no estado de Washington, nos Estados Unidos. O comportamento, batizado de allokelping (“kelping com outro”), envolve cortar pedaços de algas conhecidas como bull kelp e usá-las como instrumentos para massagear e esfoliar a pele umas das outras.
A descoberta foi publicada na revista Current Biology e representa um marco nos estudos de comportamento animal. “Ficamos surpresos quando vimos pela primeira vez esse comportamento nos drones”, disse Michael Weiss, diretor de pesquisa do Center for Whale Research. “As orcas estão deliberadamente selecionando e cortando pedaços de algas para utilizarem como ferramentas”.
Higiene e laços sociais
Ao contrário da maioria dos exemplos de uso de ferramentas no mundo animal, que servem para obter alimento, o allokelping tem outros objetivos. Segundo os cientistas, a prática ajuda na remoção de pele morta e pode ter propriedades antibacterianas por conta dos compostos presentes nas algas. Além disso, fortalece vínculos sociais, já que é realizada em duplas e frequentemente envolve mães e filhotes, irmãos e indivíduos da mesma faixa etária.
“É como o jogo do balão entre humanos, em que você precisa mantê-lo entre os corpos”, compara Charli Grimes, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. “É impressionante ver animais tão grandes coordenando movimentos de forma tão precisa.”
População em risco
A população de orcas residentes do sul, observada nesse estudo, é considerada criticamente ameaçada nos EUA e no Canadá. Apenas 73 indivíduos restavam em julho de 2024, número que preocupa especialistas por não haver cruzamento com outros grupos.
As orcas enfrentam múltiplas ameaças, como a diminuição dos estoques de salmão Chinook, sua principal fonte de alimento, além da degradação de habitats, poluição e barulho de embarcações.
Para piorar, as florestas de bull kelp, de onde os animais retiram suas ferramentas, estão desaparecendo devido ao aquecimento dos oceanos. “Se perdermos esses animais, perderemos muito mais do que indivíduos: perderemos uma sociedade complexa e tradições culturais únicas”, alerta Weiss.

Importância para conservação
O uso de drones permitiu documentar o comportamento em oito dos 12 dias de observação no campo, em 2024. Os cientistas afirmam que preservar as áreas onde as orcas coletam as algas é crucial para a manutenção dessa cultura e para a sobrevivência da população a longo prazo.
“Proteger as florestas de kelp pode ser tão importante quanto proteger as próprias orcas”, disse Weiss. “Estamos apenas começando a entender a profundidade social e cultural desses animais.”